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sexta-feira, 6 de novembro de 2020


 O VALOR ESPIRITUAL E EVOLUTIVO DO SOFRIMENTO E DA DOR

Pássaros voando Fotografias de Banco de Imagens, Imagens Livres de Direitos  Autorais Pássaros voando | Depositphotos® "Quanto mais alto voamos maior compreensão temos da vida, os ruídos do mundo não nos afetam mais."

 
O sofrimento, embora não faça parte do Propósito de Deus, é inerente à personalidade do homem por causa de suas ligações com o passado e do exercício da força do desejo ainda não elevado por objetivos superiores.

A energia própria da alma é a Alegria, um estado de ser totalmente unificado com o propósito da Criação. Circunstancialmente, entretanto, enquanto o indivíduo está vivo, o sofrimento e a dor, em seus vários aspectos, fazem parte de sua vida. Compreender suas causas até onde seja possível e remover ou transmutar os elementos que os vitalizam e mantêm deveria ser uma das metas visualizadas pelos seres.

Quando a humanidade conseguir elevar o próprio desejo para objetivos superiores, evolutivos, que transcendem as necessidades normais e comuns criadas pela imaginação ou pelos condicionamentos do passado e, principalmente, quando dispensar o que é supérfluo, luxuoso e paliativo, o sofrimento humano diminuirá o quanto for permitido pela lei cíclica.

Um ponto importante diretamente ligado a esse assunto é o princípio básico da lei de causa e efeito: enquanto provocarmos o sofrimento, o teremos em nossa vida. Nesse particular, o fato de a humanidade ainda assassinar animais traz-lhe consequências incalculáveis.

A ingestão de produtos de origem animal – em especial de carne – produz inércia nas células físicas, impedindo que o potencial humano, ainda não revelado, se manifeste plenamente.

A carne tem uma vibração característica de um estágio já ultrapassado pelo homem: o estado instintivo. Quando usada em sua alimentação, o mantém em um ponto não mais condizente com os novos passos que está para dar: o domínio da intuição, o exercício da telepatia superior e a experiência da consciência supramental.

Enquanto o homem não transformar a atual forma de tratar os animais, a vibração instintiva ficará circulando nos corpos de sua personalidade por muito mais tempo do que seria necessário, ocupando espaço e impedindo que a luz da intuição e outras luzes de etapas ainda mais avançadas possam neles se instalar.

O sofrimento e a dor têm funções espirituais, morais e físicas para o homem. O valor espiritual e evolutivo do sofrimento e da dor encontra-se no fato de o homem ser por eles levado a concentrar suas forças mentais em descobrir o motivo que o levou a tê-los e ser, com isso, ajudado a se desidentificar de seu próprio ego humano, núcleo cheio de vícios e de hábitos a serem superados.

Do ponto de vista moral, pode-se dizer que não existe no homem um caráter amadurecido e firme se ele não tiver ainda enfrentado estágios de sofrimento e de dor.

Do ponto de vista evolutivo e espiritual, o sofrimento e a dor, quando aceitos, são fatores que impulsionam o progresso; quando, porém, são rejeitados pelas camadas superficiais do ser, deixam de produzir esse efeito e passam a constituir apenas uma purificação de resíduos de ações, sentimentos e pensamentos negativos.

Uma importante tarefa da atuação da dor encontra-se em um estágio sutil do desenvolvimento da consciência no qual o sofrimento passa por uma metamorfose e aparece como um sentimento de conforto nunca antes experimentado, nem mesmo dentro da maior felicidade que possa ter estado ao alcance do ser: ele aprende a perceber que a Alegria divina existe em qualquer situação e que pode fazer-se ainda mais visível nos momentos dos quais parecia estar ausente.

José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br
 

Celebrando o Sofrimento

Quando digo desfrute disso eu não quero dizer para você se tornar um masoquista; eu não quero dizer para você criar sofrimento para si mesmo e desfrutar disso. Eu não quero dizer: vá lá, pule de um penhasco, tenha fraturas e então desfrute delas. Não.

Não estou dizendo para ser um masoquista; estou simplesmente dizendo que o sofrimento está aí, você não precisa procurá-lo. Bastante sofrimento já está aí presente, você não necessita ir em busca dele. Sofrimento já está aí; a vida por sua própria natureza cria sofrimento. A doença está aí, a morte está aí, o corpo está aí; por sua própria natureza o sofrimento é criado. Veja isso, olhe para isso com olhos desapaixonados. Olhe para isso – o que isso é, que está acontecendo. Não fuja.

Imediatamente a mente diz, “Fuja daqui, não olhe para isso”. Mas se você fugir então você não poderá ser feliz.

Quando:
Da próxima vez que você adoecer e o médico sugerir que você fique acamado.

O Método:
Feche seus olhos e descanse na cama e olhe somente para a doença. Observe-a, o que isso é. Não tente analisá-la, não venha com teorias, apenas observe-a. O que ela é. O corpo inteiro cansado, febril – observe isso.

Subitamente, você irá sentir que você está circundado pela febre porém, há um ponto sereno dentro de você; a febre não pode tocar nele, não pode influenciá-lo. O corpo inteiro pode estar queimando, mas esse ponto tranquilo não pode ser tocado.

Portanto quando você estiver deitado na sua cama, febril, em fogo, o corpo inteiro queimando de febre, apenas observe-o. Observando, você irá recuar até a fonte. Observando, não fazendo coisa alguma... O que você pode fazer? A febre está aí, você precisa passar por isso; é inútil lutar desnecessariamente com isso. Você está descansando, e se você lutar com a febre você ficará mais febril, isso é tudo. Então observe-a.

Observando a febre, você fica sereno: observando mais, você fica mais sereno. Apenas observando, você atinge um pico, um pico bem tranquilo, até os Himalaias sentirão ciúmes; mesmo os picos deles não são tão serenos. Esse é o Gourishankar, o Everest interior. E quando você sentir que a febre desapareceu... ela realmente nunca esteve aí; ela só esteve no corpo, bem longe.

Um espaço infinito existe entre você e seu corpo – espaço infinito, digo. Existe um intervalo não interligado entre você e seu corpo. E todo sofrimento existe na periferia. Os Hindus dizem que isso é um sonho porque a distância é tão vasta, não interligada. É apenas como um sonho acontecendo em algum lugar – não acontecendo a você – em algum outro mundo, em algum outro planeta.

Quando você observa o sofrimento subitamente você não é o sofredor, e você começa a desfrutar. Através do sofrimento você se torna cônscio do polo oposto, do alegre ser interior. Então quando eu digo desfrute, estou dizendo: Observe. Volte para a fonte, fique centrado. Depois, de repente, não há mais nenhuma agonia; só existe êxtase.

Aqueles que estão na periferia existem em agonia. Para eles, nenhum êxtase. Para aqueles que vieram para o centro deles nenhuma agonia existe. Para estes, só êxtase.

Quando digo quebre o copo é para quebrar a periferia. E quando digo para ficar totalmente vazio é voltar para a fonte original porque através da vacuidade nascemos, e para a vacuidade retornamos. Vacuidade é a palavra, realmente, a qual é melhor de utilizar do que Deus, porque com Deus começamos a sentir que há alguma pessoa. Assim Buddha nunca usou “Deus”, ele sempre usou sunyata - vacuidade, nada. No centro você é um não-ser, nadeza, apenas espaço vasto, eternamente sereno, silencioso, feliz. Então, quando digo desfrute quero dizer observe, e você irá desfrutar. Quando digo desfrute, quero dizer não fuja.

Se você puxar para fora da terra as raízes de uma árvore, elas morrerão. Elas necessitam da escuridão, elas vivem na escuridão, na escuridão está a vida delas. Assim como as raízes, o sofrimento também vive na escuridão.

Exponha os seus sofrimentos e você descobrirá que eles morreram. A infelicidade tem de ser expressada. Compreenda uma coisa mais: foi de fora que você pegou as dores e as trouxe para dentro de si. Por favor, volte com elas para o lado de fora. A dor não é interna; todas as dores são trazidas do lado de fora. Na medida em que você joga fora a dor, que a envia de volta para fora, de onde ela veio, a alegria começa a brotar dentro de você. A alegria está dentro. Ninguém a traz de fora. Ela não vem de fora, ela é a sua natureza, ela é você. Ela é a sua alma.
 
Se for jogado fora esse lixo que veio de fora e que tem sido acumulado, então a alma interna começará a expandir, começará a crescer. Você começa a ver a sua luz e a ouvir a sua dança, você começa a mergulhar na música mais interna.
 
Um pouco de coragem é requerida e você poderá abandonar o seu inferno – exatamente como alguém que se suja na rua e volta para casa para tomar um banho e a sujeira é lavada. Da mesma maneira, a meditação é o banho e a dor é a sujeira. Assim como depois do banho a sujeira foi lavada e você se sente fresco, da mesma forma você terá um vislumbre, sentindo dentro de si a alegria que é a sua natureza.

Osho: A Bird on the Wing  
https://www.osho.com
 
 
Não fugir do sofrimento
 
Quando há sofrimento, ele constitui um grande choque para o sistema nervoso, como uma pancada em todo o ser fisiológico e psicológico. Geralmente tentamos fugir dele tomando drogas, bebendo, ou por meio das várias formas de religião, nos tornamos céticos ou aceitamos as coisas como inevitáveis.
 
Será que podemos examinar essa questão profundamente, com seriedade? É possível não fugir do sofrimento? Talvez meu filho morra, e há um pesar, um choque imenso, e descubro que sou realmente um ser humano muito solitário. Não consigo encarar isso, não posso tolerar. Então fujo da dor. E há muitos tipos de fuga – mundana, religiosa ou filosófica. Essa fuga é desperdício de energia. Não fugir de forma alguma do sofrimento, da dor da solidão, do pesar, do choque, mas permanecer completamente com o evento, com essa coisa chamada de sofrimento – isso é possível? Podemos permanecer com qualquer problema – mantê-lo sem tentar resolvê-lo – tentar olhar para ele como se segurássemos uma bela e preciosa joia? A própria beleza da joia é tão atraente, tão prazerosa, que ficamos olhando para ela. Do mesmo modo, se pudermos segurar a nossa dor completamente, sem um movimento de pensamento ou de fuga, então essa própria ação de não se afastar do fato traz consigo uma libertação total daquilo que causou a dor.
   
Observando a dor física

Todos nós conhecemos a dor física – muito ou pouco – e podemos lidar com ela com remédios ou de outras formas. Você pode observar a dor com uma mente que não esteja apegada, com uma mente capaz de observar a dor física como que de fora. Pode-se observar a dor de dente e não ficar envolvido nela emocionalmente, psicologicamente. Quando você está envolvido emocional e psicologicamente com essa dor de dente, a dor aumenta; você fica terrivelmente ansioso, temeroso. Não sei se você já notou esse fato.
 
O importante é ficar cônscio da dor física, fisiológica, biológica, e, nesse percebimento, não se deixar envolver com ela psicologicamente. Estar cônscio da dor física – e do envolvimento psicológico nela que intensifica a dor e causa ansiedade, medo – e manter completamente afastado o fator psicológico, exige muita percepção, certa qualidade de distanciamento, certa qualidade de observação desapegada. Então, essa dor não distorce as atividades da mente; então essa dor física não causa atividade neurótica na mente.


Intimidade com o sofrimento 
 
Não se deve dar fim ao sofrimento pela ação da vontade. Por favor, compreenda isso. Você não pode “livrar-se” disso. O sofrimento é algo que precisa ser abraçado, é preciso viver com ele, compreendê-lo; a pessoa precisa ficar íntima do sofrimento. Mas você não é íntimo do sofrimento, é? Você pode dizer: “Conheço o sofrimento”, mas conhece realmente? Você viveu com ele? Ou, ao sentir o sofrimento, você fugiu dele? De fato, você não conhece o sofrimento. O que você conhece é a fuga. Você só conhece a fuga ao sofrimento.
 
Assim como o amor não é coisa para ser cultivada, para ser adquirida mediante disciplina, também não se pode dar fim ao sofrimento mediante nenhuma forma de fuga, de cerimônias ou símbolos, mediante o trabalho social dos “bons samaritanos”, mediante o nacionalismo, ou mediante qualquer uma das coisas horríveis que o homem inventou. O sofrimento tem de ser compreendido, e a compreensão não é do tempo.


O imenso sofrimento coletivo

Dar fim ao sofrimento é encarar o fato da solidão, do apego, da exigência insignificante de fama, a fome de ser amado; é ficar livre da preocupação e da infantilidade que é a auto-piedade. E quando a pessoa já tiver ultrapassado tudo isso e talvez dado fim ao seu próprio sofrimento, haverá ainda o imenso sofrimento coletivo, o sofrimento do mundo. Pode-se dar fim ao próprio sofrimento encarando em si mesmo o fato e a causa do sofrimento – e isso precisa acontecer para que a mente fique completamente livre. Mas, quando tiver acabado com tudo isso, haverá ainda o sofrimento da extraordinária ignorância que existe no mundo – não a falta de informação, de conhecimento livresco, porém, a ignorância do homem sobre si mesmo. A falta de compreensão de si mesmo é a essência da ignorância, que provoca essa imensidão de sofrimento que existe por todo o mundo. Então, o que realmente é o sofrimento?
 
Não há palavras para explicar o sofrimento, como também não há palavras para explicar o que é o amor.


A percepção do sofrimento

Se você andar estrada afora, verá o esplendor da natureza, a extraordinária beleza dos campos verdes, dos céus abertos e ouvirá o riso das crianças. Mas, a despeito disso tudo, há uma sensação de dor. Existe a angústia de uma mulher carregando um filho; existe sofrimento na morte; há sofrimento quando você está esperando alguma coisa e ela não acontece; há sofrimento quando uma nação entra em decadência, se deteriora; e há o sofrimento da corrupção, não só no coletivo, mas também no individual. Há dor na sua própria casa, se você observar bem – a dor de não ser capaz de se realizar, a dor da sua própria insignificância ou incapacidade e várias dores inconscientes.


O sofrimento não é o caminho para Deus

O sofrimento perverte e distorce a mente. O sofrimento não é o caminho da verdade, para a realidade, para Deus, ou o nome que você quiser lhe dar. Temos tentado enobrecer o sofrimento, dizendo que ele é inevitável, necessário, que traz entendimento, e tudo o mais. Mas a verdade é que, quanto mais intensamente você sofre, maior o desejo de fugir, de criar uma ilusão, de encontrar um meio de fuga. Então, parece que uma mente sã, saudável, precisa compreender o sofrimento e ser totalmente livre dele. Será que isso é possível?

Ensinamentos de J. Krishnamurti
http://legacy.jkrishnamurti.org 

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