Translate

domingo, 15 de novembro de 2020

CULTIVA UMA OCUPAÇÃO EXTRAPROFISSIONAL

Cómo plantar flores en mi jardín? – The Home Depot Blog 

Quem conhece a língua inglesa sabe o que quer dizer “hobby”. Nos Estados Unidos é de praxe quase geral que toda pessoa, além dos seus trabalhos profissionais, tenha um “hobby”, isto é, alguma ocupação predileta para as horas vagas e os dias feriados. Há quem se entusiasme por jardinagem ou pela cultura de determinadas flores, orquídeas, bromélias, etc.; outros são carpinteiros ou apicultores; outros se deleitam com música, pintura, arte fotográfica; outros ainda colecionam, não somente selos postais, mas toda espécie de objetos naturais ou artificiais, desde conchas e caramujos até caixinhas de fósforo e retratos de astros e estrelas de cinema.
 
Essas pequenas “manias”, por mais ingênuas e indiferentes que pareçam em si mesmas, têm uma função importante na vida da gente. Nem sempre os nossos trabalhos profissionais correspondem ao nosso gosto natural; milhares de pessoas exercem uma profissão ou trabalham no seu emprego por dura necessidade, para “ganhar a vida”; têm de sacrificar os melhores gostos da sua vida para poderem viver; não têm a escolha de trabalhar no setor da sua predileção; são escravos do seu ganha-pão material. A civilização aboliu a escravatura negra, mas conservou e intensificou a escravatura branca, a escravidão econômica, financeira; milhares de escravos estão presos nas fábricas e nos escritórios da sociedade hodierna.
 
Ora, é de grande vantagem para a saúde e o equilíbrio pessoal do homem e da mulher escravizados pela civilização moderna que tenham um derivativo do seu gosto, um setor da sua predileção pessoal, algum trabalho que possam exercer com irrestrita liberdade e espontâneo entusiasmo. Esse gosto íntimo atua como “fio-terra” para preservar de sobrecarga a bateria psíquica do homem; o excesso de voltagem escoa-se imperceptivelmente pelos fios invisíveis desse “hobby”, facultando ao homem a necessária “relaxação” e impedindo funestos “circuitos curtos” e recalques negativos.
 
Muitos dos grandes cientistas e artistas da humanidade iniciaram a sua deslumbrante carreira como um simples “hobby”, que, mais tarde, se lhes converteu em profissão fundamental. Tudo que se faz com amor e entusiasmo tem garantia de sair bem feito. O fim principal dessa ocupação não está em produzir um determinado objeto, e sim no aperfeiçoamento do própriosujeito. Pouco importa o objeto produzido, muito importa a satisfação do produtor. Não é necessário que o trabalho “renda” em forma de matéria morta (dinheiro), o seu maior “rendimento” é em forma de alegria viva.
 
O fim principal do homem aqui na terra não é realizar coisas fora de si, mas sim realizar-se a si mesmo. A auto-realização é mil vezes mais importante que todas as alo-realizações, por menos que a geração atual compreenda tão grande verdade. Todos os objetos externos serão realizados, desde que o sujeito interno se realize a si mesmo. Esta auto-realização, porém, só pode ser feita num ambiente de compreensão, amor e entusiasmo.
 
Quando o homem começa a realizar-se a si mesmo torna-se, progressivamente, mais calmo, mais sereno, mais benévolo, paciente, tolerante, compreensivo, feliz, mais amigo de servir do que de ser servido.
 
De maneira que o “hobby” não tem apenas uma função extrínseca, pela satisfação momentânea que proporciona, mas também uma finalidade intrínseca, pela maturação da pessoa que o pratica.
 
Há, todavia, certas ocupações extraprofissionais que, embora agradáveis, devem ser abandonadas, pelo fato de serem contrárias a essa finalidade intrínseca, como caça, pesca, coleção de borboletas, engaiolar passarinhos, etc.

 
Mantém Contato com  a  Natureza

É fato histórico que todos os homens realmente espirituais e profundamente felizes eram e são dedicados amigos da Natureza: Jesus Cristo, Francisco de Assis, Mahatma Gandhi, Albert Schweitzer e muitos outros.
 
Refere o livro do Gênesis que Deus pôs o homem no meio de um jardim maravilhoso, espécie de pomar chamado Éden, para que o cultivasse e se alimentasse dos seus frutos. Só depois que o homem (Caim) cometeu o primeiro homicídio (Abel) é que ele abandonou a Natureza de Deus e preferiu as cidades dos homens. O homem espiritual, porém, continua amigo do Éden de Deus. A maior parte das parábolas de Jesus sobre o reino de Deus é tirada do mundo das plantas, das aves e dos animais.
 
Vigora misteriosa afinidade entre a felicidade do homem e a paz da natureza. A Natureza é a zona do subconsciente – a felicidade do homem espiritual é o reino do superconsciente.
 
O homem primitivo, meramente sensorial, é escravo da Natureza.
 
O homem intelectualizado é escravocrata e explorador da Natureza.
 
O homem espiritual é amigo e aliado da Natureza; compreende a Natureza, e a Natureza o compreende.
 
A nossa civilização moderna fez com que o homem se divorciasse, total ou parcialmente, da Natureza, fazendo-o viver num ambiente artificial, desnatural, antinatural, não menos prejudicial ao corpo do que à alma. Milhares de pessoas abandonam os campos e a vida simples no meio da Natureza e se aglomeram caoticamente nas grandes cidades, agonizando em bairros e becos imundos, anti-higiênicos, gastando muito e ganhando pouco, explorados pelas empresas, às quais servem como escravos e vítimas; ingerem venenos em forma de alimentos e medicamentos, em desarmonia com o ambiente e consigo mesmos.
 
A vida do homem é o resultado dos seus pensamentos habituais. Se o homem se habitua a pensar que a vida no campo é insuportável e a da cidade é maravilhosa, a sua vida seguirá necessariamente o curso dos seus  pensamentos. Estranha obsessão leva milhares de homens para as cidades, como as mariposas que vão em demanda da luz – até queimarem as asas e morrerem no pó...
 
O que leva muitos homens a abandonarem os campos e se aglomerarem nas cidades não é apenas a necessidade de cultura nem mesmo o desejo de lucros fáceis e rápidos, mas sim, e sobretudo, o horror à solidão. A solidão externa aterra o homem que não possui plenitude interna. Esse homem, interiormente vazio, tenta fugir de si mesmo e encher com barulhos externos a sua vacuidade interna. Todo homem que tenha dentro de si um mundo de ideias e ideais gosta de estar a sós consigo e com a silenciosa Natureza. O homem interiormente vazio necessita dos ruídos carnavalescos das ruas e praças públicas, a fim de encher os seus vazios internos.
 
O pavoroso aumento da criminalidade, sobretudo no setor da delinquência juvenil, entre 14 e 18 anos, é resultado dessa fuga da vida simples e sadia dos campos e desse desnatural congestionamento nos grandes centros.

Quando se fala do “retorno à Natureza”, muitos entendem esse retorno apenas no sentido de Rousseau, como um refúgio à Natureza externa, física, aos campos, aos bosques, às praias e às montanhas. Mas o verdadeiro retorno é outro. O homem moderno nunca voltará aos tempos do homem pré-histórico, ou dos selvícolas das nossas florestas. A verdadeira natureza do homem é espiritual, divina. O verdadeiro regresso à Natureza é, pois, um “ingresso”, uma entrada do homem para o seu próprio interior, espiritual, eterno, divino. O homem primitivo, vivendo em plena natureza material, não é o homem realmente natural; ele é ainda infranatural, assim como o homem moderno é desnatural ou antinatural. Só quando o homem atinge a sua verdadeira natureza espiritual é que ele se torna plenamente natural – e só então começa ele a compreender a alma da Natureza em derredor dele. Os nossos poetas e romancistas, não raro, celebram os encantos da Natureza; mas a maior parte deles só conhece o corpo da Natureza, ignorando-lhe a alma.
 
Só o homem que encontrou dentro de si a natureza da alma é que pode compreender a alma da Natureza fora de si mesmo. 
 
Para, de fato, compreender a Natureza de Deus deve o homem compreender o Deus da Natureza.
 
Hoje em dia, milhares de pessoas das grandes cidades passam os domingos e feriados em seus sítios. Infelizmente, muitos desses “sitiantes” são verdadeiros “sitiados”, porque vivem em voluntário “estado de sítio”. O fato de não terem encontrado a sua natureza interior não os deixa viver na simbiose com a alma da natureza exterior. Fugiram da poluição material da cidade, mas carregam consigo e transferem para o campo e o mato a sua poluição mental e espiritual. Quem, no sítio, lê jornal, tem rádio e televisão, recebe visitas tagarelas, não é um sitiante, é um sitiado. O verdadeiro sitiante vai dormir cedo e acorda cedo, com o sol, ou antes dele. Planta árvores frutíferas para si e sua família e para os passarinhos. Não mata passarinhos nem os aprisiona em gaiolas. Convive com a alma de todos os seres vivos.
 
Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade
Curso de Filosofia da Vida - UNIVERSALISMO

Nenhum comentário:

Postar um comentário