D E S A P R E N D E N D O
Li, certa vez que 'se os pensamentos fossem flores
nossas cabeças seriam jardins'; mas, como em todo jardim, geralmente existem
rosas e elas tem espinhos, e não são poucos, então o bom jardineiro precisa
ficar bastante atento para não se ferir ao distrair-se com a beleza das rosas.
Semelhante aos nossos pensamentos, que nos tiram o foco e nos fazem migrar ora
para o passado ora para o futuro, desviando a nossa concentração no agora, que
é o cenário onde a vida se desenrola, conduzindo-nos nessa embriagadora
distração pela beleza ilusória das coisas do mundo.
"Mas eu estou aqui, isso é real, eu consigo
apalpar, ver, sentir... Como isso pode ser uma ilusão?" Dizemos isso para
nós mesmos, talvez porque acreditamos realmente nisso ou para pausar o tempo do
despertar. Helena Blavatsky falou com muita propriedade: "Seja
qual for o plano em que a nossa consciência esteja agindo, tanto em nós como
com as coisas pertencentes a esse plano são, por enquanto, nossas únicas
realidades. À medida que nos elevamos na escala do desenvolvimento percebemos
que, durante os estágios pelos quais passamos confundimos sombras por
realidades e o progresso ascendente do Ego é uma série de despertares
progressivos; cada avanço trazendo consigo a ideia de que agora, por fim,
alcançamos a 'realidade', porém somente quando tivermos alcançado a consciência
absoluta e fundido a nossa com ela, seremos livres das ilusões produzidas por
Maya (ilusão)" Muito interessante; talvez seja por essa razão que
temos pontos de vista variados em ralação à vida, pois estamos em degraus
diferentes na grande escada da consciência cósmica.
Estamos aqui para realizar a experiência divina na
matéria; como diz Deus, através das palavras de Neale Donald Walsch: "A
vida (como a chama) é uma oportunidade de você saber experimentalmente o que já
sabe conceitualmente. Não precisa aprender coisa alguma para fazer isso.
Precisa apenas lembrar do que já sabe, e agir de acordo com esse
conhecimento". Descobri algo parecido com isso na Biblia: “... Vós sois
deuses, e vós outros sois todos filhos do Altíssimo” (Salmos 82:6). Disse
Jesus: “Não está escrito na vossa lei... Vós sóis deuses?” (João 10:34). Certamente
esse potencial está latente profundamente no nosso Ser; suponho que só teremos a
capacidade de usá-lo quando "... tivermos alcançado a consciência
absoluta e fundido a nossa com ela, (só então) seremos livres das ilusões
.." No livro Setas no Caminho do Infinito, Joel Goldsmith afirma:
"Se puderes sentir ou perceber que Deus trabalha através de alguma pessoa,
terás então que reconhecer que Ele trabalha igualmente através de ti, porque a
experiência dessa pessoa era como a tua, antes que o Espírito a tocasse. O
objetivo do ensino da verdade espiritual é elevar o nível de nosso entendimento
a ponto de podermos perceber a nossa verdadeira identidade". Parece-me que só podemos perceber uma outra realidade quando a anterior for completamente experimentada. Não existem linhas delineadas entre elas; o percebimento da Verdade vem para cada um por etapas, que se entrelaçam e crescem de acordo com a consciência individual.
“Entrai pela porta estreita;
porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos
são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho
que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mateus 7:13-14.) Em verdade a grande maioria deseja experimentar os atributos
divinos de um modo mais intenso e abrangente, naturalmente entrando pela porta
larga e percorrendo o espaçoso caminho das ilusões terrenas, identificando-as
como realidades e apegando-se a elas. Anthony de Mello escreveu algo muito
interessante sobre o apego: "Se você olhar com atenção, verá que existe
uma coisa e apenas uma coisa que provoca infelicidade. O nome dessa coisa é
apego. O que é um apego? Um estado emocional dos agarrados causado pela crença
de que sem alguma coisa particular ou alguma pessoa você não pode ser
feliz". A marcha torna-se bem mais lenta quando nos distraímos ao
caminhar pela vida terrena... é tudo tão 'real', tão belo! É verdade, pois o
Criador nos presenteou com um cenário inigualável, que nenhum ser humano
consegue reproduzir, nem os mais renomáveis pintores e, ao mesmo tempo, concedeu-nos
um sistema sensorial formidável capacitando a nossa total experiência aqui neste
planeta. Há uma frase de Osho muito interessante: "Aprenda a aceitar a
vida como ela vem: quando algo acontecer, aceite; quando desaparecer, aceite.
Permaneça sem julgar, simplesmente uma testemunha silenciosa de tudo. Este é o
segredo mais profundo de todos os iluminados". Aí é que mora o perigo:
não permitimos que aquilo que nos dá prazer se vá...
Também é muito difícil desaprender aquilo que
aprendemos em toda a nossa existência. E se, realmente, existe reencarnação e toda a
experiência pregressa ficar registrada no 'livro da nossa vida'? É algo tão
grande para lidar... tentar montar esse quebra-cabeça... Certamente o mais
acertado é desaprender, deixar tudo para trás, ser um 'barco vazio'. "E Você pergunta: como
posso aprender os segredos da vida? Não é uma questão de aprender; é mais uma
questão de desaprender…..Sua mente está uma bagunça! Ela está superpovoada, ela
é uma multidão. Desaprenda! Tudo o que você acumulou até agora como conhecimento,
desaprenda. As pessoas Zen estão certas quando dizem: Não saber é o mais
íntimo.Desaprender é aquele processo que pode lhe trazer aquele belo espaço de
não saber. E depois observe. Observe a vida sem nenhum conhecimento, sem
nenhuma interpretação.No momento em que você vê um pôr-do-sol, imediatamente,
habitualmente, você repete palavras que você ouviu dos outros: "Que bonito
pôr-do-sol!" Você não exprime nada com isso; você não está nem mesmo olhando o
pôr-do-sol. Você não permitiu que ele penetrasse no seu coração. Você não está
sentindo nenhum deslumbramento. Você não caiu de joelhos. Você não está olhando
com olhos arregalados, absorvendo. Nada disto. Somente um comentário
casual. "Que bonito pôr-do-sol". Somente uma maneira de falar, um maneirismo, mostrando
que você é culto, sofisticado, que você sabe o que é beleza, que você tem um
grande senso estético, que você tem grande sensitividade à natureza. Você não
está olhando o pôr-do-sol. Você já olhou o pôr-do-sol alguma vez? Se você
tivesse olhado você não teria feito esta pergunta. E você pergunta: Como posso
aprender os segredos da vida? E a vida continua completamente nua, totalmente
despida, absolutamente acessível. Tudo que se requer é um estado de não-mente,
um espaço vazio que possa absorvê-la, que possa recebê-la. Somente quando você
está num estado de não-saber é que você é um anfitrião, então a vida se torna
um convidado". (Osho Ah,This!)
Se não atirarmos tudo fora - absolutamente tudo que aprendemos, tal como São Francisco de Assis fez, ao ficar nu em praça pública; que a meu ver foi uma atitude de desapego com as coisas que ainda o prendiam ao mundo; não entraremos pela 'porta estreita', continuaremos ainda por um bom tempo perambulando pelo mundo de Maya.
Postado por Crystal no Blog "Apenas Observando"
Nenhum comentário:
Postar um comentário