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domingo, 21 de junho de 2020


D E S A P R E N D E N D O

Esquecendo pessoas e livros

Li, certa vez que 'se os pensamentos fossem flores nossas cabeças seriam jardins'; mas, como em todo jardim, geralmente existem rosas e elas tem espinhos, e não são poucos, então o bom jardineiro precisa ficar bastante atento para não se ferir ao distrair-se com a beleza das rosas. Semelhante aos nossos pensamentos, que nos tiram o foco e nos fazem migrar ora para o passado ora para o futuro, desviando a nossa concentração no agora, que é o cenário onde a vida se desenrola, conduzindo-nos nessa embriagadora distração pela beleza ilusória das coisas do mundo.

"Mas eu estou aqui, isso é real, eu consigo apalpar, ver, sentir... Como isso pode ser uma ilusão?" Dizemos isso para nós mesmos, talvez porque acreditamos realmente nisso ou para pausar o tempo do despertar.  Helena Blavatsky falou com muita propriedade: "Seja qual for o plano em que a nossa consciência esteja agindo, tanto em nós como com as coisas pertencentes a esse plano são, por enquanto, nossas únicas realidades. À medida que nos elevamos na escala do desenvolvimento percebemos que, durante os estágios pelos quais passamos confundimos sombras por realidades e o progresso ascendente do Ego é uma série de despertares progressivos; cada avanço trazendo consigo a ideia de que agora, por fim, alcançamos a 'realidade', porém somente quando tivermos alcançado a consciência absoluta e fundido a nossa com ela, seremos livres das ilusões produzidas por Maya (ilusão)" Muito interessante; talvez seja por essa razão que temos pontos de vista variados em ralação à vida, pois estamos em degraus diferentes na grande escada da consciência cósmica.

Estamos aqui para realizar a experiência divina na matéria; como diz Deus, através das palavras de Neale Donald Walsch: "A vida (como a chama) é uma oportunidade de você saber experimentalmente o que já sabe conceitualmente. Não precisa aprender coisa alguma para fazer isso. Precisa apenas lembrar do que já sabe, e agir de acordo com esse conhecimento". Descobri algo parecido com isso na Biblia: “... Vós sois deuses, e vós outros sois todos filhos do Altíssimo” (Salmos 82:6). Disse Jesus: “Não está escrito na vossa lei... Vós sóis deuses?” (João 10:34). Certamente esse potencial está latente profundamente no nosso Ser; suponho que só teremos a capacidade de usá-lo quando "...  tivermos alcançado a consciência absoluta e fundido a nossa com ela,  (só então) seremos livres das ilusões .." No livro Setas no Caminho do Infinito, Joel Goldsmith afirma: "Se puderes sentir ou perceber que Deus trabalha através de alguma pessoa, terás então que reconhecer que Ele trabalha igualmente através de ti, porque a experiência dessa pessoa era como a tua, antes que o Espírito a tocasse. O objetivo do ensino da verdade espiritual é elevar o nível de nosso entendimento a ponto de podermos perceber a nossa verdadeira identidade". Parece-me que só podemos perceber uma outra realidade quando a anterior for completamente experimentada. Não existem linhas delineadas entre elas; o percebimento da Verdade vem para cada um por etapas, que se entrelaçam e crescem de acordo com a consciência individual.

“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mateus 7:13-14.)  Em verdade a grande maioria deseja experimentar os atributos divinos de um modo mais intenso e abrangente, naturalmente entrando pela porta larga e percorrendo o espaçoso caminho das ilusões terrenas, identificando-as como realidades e apegando-se a elas. Anthony de Mello escreveu algo muito interessante sobre o apego: "Se você olhar com atenção, verá que existe uma coisa e apenas uma coisa que provoca infelicidade. O nome dessa coisa é apego. O que é um apego? Um estado emocional dos agarrados causado pela crença de que sem alguma coisa particular ou alguma pessoa você não pode ser feliz". A marcha torna-se bem mais lenta quando nos distraímos ao caminhar pela vida terrena... é tudo tão 'real', tão belo! É verdade, pois o Criador nos presenteou com um cenário inigualável, que nenhum ser humano consegue reproduzir, nem os mais renomáveis pintores e, ao mesmo tempo, concedeu-nos um sistema sensorial formidável capacitando a nossa total experiência aqui neste planeta. Há uma frase de Osho muito interessante: "Aprenda a aceitar a vida como ela vem: quando algo acontecer, aceite; quando desaparecer, aceite. Permaneça sem julgar, simplesmente uma testemunha silenciosa de tudo. Este é o segredo mais profundo de todos os iluminados". Aí é que mora o perigo: não permitimos que aquilo que nos dá prazer se vá...

Também é muito difícil desaprender aquilo que aprendemos em toda a nossa existência. E se, realmente, existe reencarnação e toda a experiência pregressa ficar registrada no 'livro da nossa vida'? É algo tão grande para lidar... tentar montar esse quebra-cabeça... Certamente o mais acertado é desaprender, deixar tudo para trás, ser um 'barco vazio'. "E Você pergunta: como posso aprender os segredos da vida? Não é uma questão de aprender; é mais uma questão de desaprender…..Sua mente está uma bagunça! Ela está superpovoada, ela é uma multidão. Desaprenda! Tudo o que você acumulou até agora como conhecimento, desaprenda. As pessoas Zen estão certas quando dizem: Não saber é o mais íntimo.Desaprender é aquele processo que pode lhe trazer aquele belo espaço de não saber. E depois observe. Observe a vida sem nenhum conhecimento, sem nenhuma interpretação.No momento em que você vê um pôr-do-sol, imediatamente, habitualmente, você repete palavras que você ouviu dos outros: "Que bonito pôr-do-sol!" Você não exprime nada com isso; você não está nem mesmo olhando o pôr-do-sol. Você não permitiu que ele penetrasse no seu coração. Você não está sentindo nenhum deslumbramento. Você não caiu de joelhos. Você não está olhando com olhos arregalados, absorvendo. Nada disto. Somente um comentário casual. "Que bonito pôr-do-sol". Somente uma maneira de falar, um maneirismo, mostrando que você é culto, sofisticado, que você sabe o que é beleza, que você tem um grande senso estético, que você tem grande sensitividade à natureza. Você não está olhando o pôr-do-sol. Você já olhou o pôr-do-sol alguma vez? Se você tivesse olhado você não teria feito esta pergunta. E você pergunta: Como posso aprender os segredos da vida? E a vida continua completamente nua, totalmente despida, absolutamente acessível. Tudo que se requer é um estado de não-mente, um espaço vazio que possa absorvê-la, que possa recebê-la. Somente quando você está num estado de não-saber é que você é um anfitrião, então a vida se torna um convidado". (Osho Ah,This!)

Se não atirarmos tudo fora - absolutamente tudo que aprendemos, tal como São Francisco de Assis fez, ao ficar nu em praça pública; que a meu ver foi uma atitude de desapego com as coisas que ainda o prendiam ao mundo; não entraremos pela 'porta estreita', continuaremos ainda por um bom tempo perambulando pelo mundo de Maya.

Postado por Crystal no Blog "Apenas Observando"
 

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