QUANDO SURGEM AS REFLEXÕES...

Já faz muito tempo que procuro compreender a vida, porém, apesar de ter lido mais do que o suficiente, não foi possível através do conhecimento trazido pela mente, entender como certas coisas acontecem. Também não consegui 'observar', ser uma testemunha, um observador incondicional; antecipava-me sempre aos acontecimentos, interferindo, mudando, sugestionando. Estava ficando só, apesar de gostar da solidão, estava ficando com receio de não encontrar um lugar adequado às minhas expectativas para finalizar esta presente existência.
 

Escutava constantemente falar sobre "entrega", achava bela a entrega, todavia nem sabia como entregar-me; vivia ainda na periferia, olhava a natureza, um por de sol, que sempre me fascina, uma noite de luar, que me deslumbra com seu mistério, caminhava entre as árvores na frescura da manhã, mas não me sentia em unicidade e isso me torturava, pois por muito tempo me obrigara a experimentar esse estado, todavia a existência não cooperava comigo e eu já estava com 65 anos. Não desejava partir sem me sentir livre de certas amarras; algo me prendia e não sabia como sair.
 

De uma coisa tinha certeza: Precisava me entregar completamente à vida, sem nada desejar, sem nada pedir... não sabia como fazer... a frustração me embalava. Um dia já exausta de tantas tentativas sem êxito; cai de joelhos e num esforço imenso disse: "Aqui estou, Pai, faça de mim o que quiseres"... se preciso permanecer aqui, eu permaneço. Não conheço os planos da alma... Repentinamente surgiu no pensamento um trecho das palavras de D. Pedro de Alcântara: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação..."   Nem sei porque me lembrei disso naquele momento.(*Mais tarde compreendi que o outro deve vir em primeiro lugar.) Fiquei surpresa comigo mesma, nem apreciava a história do Brasil; foi como se alguém falasse por mim. E continuei com o compromisso interno: Estou pronta! Eu me calo. Que a Tua voz, daqui por diante, ressoe por mim! ...

Talvez esse despertar não tenha acontecido antes, porque durante todo esse longo tempo de espera, tenha estado aguardando uma manifestação divina, um fenômeno, uma resposta do Alto e, não consegui enxergar mais além, além das fronteiras materiais. Hoje compreendo que não é assim; é bem diferente. É preciso não estar mais desejando nada; é necessário estar preparado para que o universo se manifeste. Enquanto estive almejando algo, seja lá o que foi e para quem foi permaneci cada vez mais distantes da sabedoria divina e nada compreendi.
 

Tudo que fazemos, creio eu, fazemos para nós mesmos e não para demonstrar que estamos progredindo, nem para prestar contas à Deus, isso é o ego agindo. A vida não se interessa pela nossa atuação; a vida é o cenário neutro do aprendizado. Nesse grande desempenho individual vamos escrevendo a nossa história, vinda após vinda. Tudo que desejamos, tudo que criamos é para nós mesmos e, consequentemente, abrange a todos, pois vivemos e convivemos neste grande grupo 'humanidade'. Quando agimos, direta ou indiretamente, todos são afetados. Nossa 'singularidade' está sempre atuando no todo, em razão disso precisamos ser responsáveis pelo que pensamos e sentimos, pois quando nos movimentamos fora da harmonia universal surgem grandes mal-estares.
 

Enquanto não compreendermos esses profundos mal-estares como algo que necessita ser trazido à superfície e observado amorosamente à luz da alma, continuaremos a ver tudo e todos através dessa ótica distorcida e todos serão vítimas da nossa carência de compaixão e, não importa que os outros continuem a ver dessa forma, um dia olharão através da alma e também compreenderão. Quanto a nós, que já começamos a compreender o verdadeiro 'olhar,' devemos ser responsáveis para não interferir na perspectiva do outro e, sim, para 'ser' consigo próprio. Em razão disso é recomendável silenciar diante das afirmações alheias. Nada pode mudar o modo pelo qual as pessoas veem o mundo, a si mesmas ou os outros... 

"Conhece-te a Ti Mesmo". "Estas palavras estão inscritas por cima da entrada do templo de Apolo, em Delfos, onde se situa o Oráculo sagrado. O que está implícito nestas palavras é o seguinte: antes de perguntares o que quer que seja, faz a pergunta mais essencial da tua vida - quem sou eu?" Enquanto não nos compreendermos, como compreenderemos o outro? Enquanto não nos aceitarmos, como aceitaremos os outros?

Estejamos preparados porque, a qualquer momento, o Universo vai requerer de nós, através de situações extremamente conflitantes, tudo que aprendemos e teremos que, através da prática,  experimentar verdadeiramente como a harmonia, a tolerância, a humildade e até mesmo o amor, o verdadeiro e incondicional amor, atuarão através de nossas atitudes, pensamentos e sentimentos. São as provas do caminho, para as quais o pensamento lógico não participa, apenas a mente superior vai atuar em coligação com o coração, uma condição que vai além do sujeito, que a mente pensante não consegue atingir.

NOTA: Estas palavras foram dispostas por mim, Graça (KyraKally), nesta postagem, entretanto, não considero este conteúdo criado por mim. A meu ver não criamos nada, pois tudo já existe, apenas chega até a nossa consciência quando estamos predispostos para receber.

uma qualidade separada do sujeito.

"abstrato", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/abstrato [consultado em 07-02-20