ECOS E REFLEXOS
Cada Coisa que Vemos
Mostra Uma Parte de Nós Mesmos
Augusto de Lima
Ao nascer cada um recebe
um prisma risonho ou triste;
por ele vê quanto existe
na própria impressão que bebe.
Não raro a vista mais fina
se ilude, e aquilo que vemos
é uma imagem que trazemos
impressa em nossa retina.
Se, as costas à luz voltadas,
andamos, eis que adiante
uma sombra itinerante
nos guia em nossas jornadas.
Falas aos ecos? As frases
dos ecos soltas, disjuntas,
são outras tantas perguntas
às perguntas que lhes fazes.
Conosco os destinos jogam,
mudando os berços em lousas
interrogamos as coisas
e as coisas nos interrogam.
Se lanças teus olhos, a esmo,
em qualquer ponto da terra,
cada fenômeno encerra
uma porção de ti mesmo.
Mas, se na vaga defesa
da alma deres um mergulho,
apesar do teu orgulho,
naufragarás com certeza. [1]
Nessa vaga escura, imensa,
morrerás, novo Leandro [2],
mesmo vestindo o escafandro
quer da razão, quer da crença!
um prisma risonho ou triste;
por ele vê quanto existe
na própria impressão que bebe.
Não raro a vista mais fina
se ilude, e aquilo que vemos
é uma imagem que trazemos
impressa em nossa retina.
Se, as costas à luz voltadas,
andamos, eis que adiante
uma sombra itinerante
nos guia em nossas jornadas.
Falas aos ecos? As frases
dos ecos soltas, disjuntas,
são outras tantas perguntas
às perguntas que lhes fazes.
Conosco os destinos jogam,
mudando os berços em lousas
interrogamos as coisas
e as coisas nos interrogam.
Se lanças teus olhos, a esmo,
em qualquer ponto da terra,
cada fenômeno encerra
uma porção de ti mesmo.
Mas, se na vaga defesa
da alma deres um mergulho,
apesar do teu orgulho,
naufragarás com certeza. [1]
Nessa vaga escura, imensa,
morrerás, novo Leandro [2],
mesmo vestindo o escafandro
quer da razão, quer da crença!
NOTAS:
[1]
O eu inferior “naufraga”, desde o ponto de vista do egoísmo, e “morre”
no mundo da ignorância espiritual, para renascer na dimensão da
verdade, que é transcendente. (CCA)
[2]
Referência a um mito grego que aponta para a necessidade da presença da
infinitude no amor. Leandro amava Hero, sacerdotisa de Afrodite que
vivia numa cidade do outro lado de um curso d’água. Todas as noites
Leandro atravessava as águas para encontrar-se com Hero, sendo guiado
pela luz que ela acendia no alto da casa dela. Numa das travessias uma
tempestade apagou a chama, tornando impossível que ele encontrasse o
caminho. Além disso, em meio à intensa tormenta, Leandro se afoga. Na
manhã seguinte a jovem Hero vê o cadáver do amado e lança-se às águas
para juntar-se a ele na morte. O mito ensina que o amor vai além do
plano físico, e a morte simboliza o abandono do egoísmo. (CCA)
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