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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

MARCAS DA BONDADE


Lições dos Mestres para a vida


Dogen
 
Ao executar qualquer atividade deveis manter vossa mente alegre, bondosa e serena.
 
Thich Nhat Hanh 
 
Não se preocupe se você acha que só pode fazer uma insignificante boa ação num pequeno canto do cosmos. Apenas seja buda ali mesmo.
Eu conheço uma monja budista graduada pela Universidade de Indiana nos EUA e que praticava no Vietnam (na época da guerra). Ela foi presa por suas ações pela paz e reconciliação entre os dois países.

Em sua cela, ela tentou praticar na prisão da melhor maneira possível. Era difícil, pois se a viam praticando durante o dia, achavam que era uma provocação e um desafio sentar-se daquela maneira, experimentando paz. Assim, ela foi proibida de sentar-se em meditação. Ela tinha que esperar até que apagassem a luz para que pudesse sentar e praticar.

Tentaram roubar dela até mesmo a chance de praticar. Mas ela foi capaz de continuar. Praticou meditação andando, mesmo confinada num espaço exíguo. Foi capaz também de falar com bondade e gentileza para aqueles que estavam presos com ela na cela. Graças à sua prática, pode ajudá-los a sofrer menos.

Tenho também um amigo vietnamita que foi levado para um campo de “reeducação”, numa área remota da selva. Durante os quatro anos em que esteve lá ele praticou meditação e foi capaz de viver interiormente em paz. Quando o soltaram, sua mente estava mais afiada que uma espada. Ele sabia que não havia perdido nada nesses quatro anos em que esteve preso. Ao contrário, ele sabia que havia se “reeducado” na meditação.

Muitas coisas podem ser tiradas de nós mas ninguém é capaz de roubar nossa determinação e nossa liberdade interior. Nem mesmo a nossa prática pode ser roubada. Mesmo nas situações mais extremas é possível manter nossa felicidade, nossa paz e nossa liberdade interior. Enquanto formos capazes de respirar, caminhar e sorrir,  estaremos e paz e poderemos ser felizes.
 

Autor desconhecido 
 
"Qual é o meu propósito nessa vida?", perguntei ao Vazio.
 
"E se eu lhe dissesse que você já o cumpriu quando tirou uma hora extra para escutar aquele garoto falar sobre sua própria vida?", disse o Vazio. "Ou quando pagou a refeição daquele jovem casal no restaurante? Ou quando salvou um cão perdido no meio do tráfego? Ou quando amarrou os sapatos de seu velho pai?" O problema é que você confunde propósito com realização baseada em conquistas. Deus ou o Universo ou a moral – seja o que for - não está interessado em suas realizações ... apenas em seu coração. Quando você escolhe ser movido pela bondade, compaixão e amor, já está alinhado com seu verdadeiro propósito. Não é necessário procurar mais nada."
 
Pema Chodron 
 
No treinamento do bodhichitta, aprendemos a utilizar qualquer dor ou medo que vivenciarmos para abrir nossos corações para a aflição das outras pessoas. Desta maneira, a nossa infelicidade pessoal não nos bloqueia; torna-se um grau para uma perspectiva maior. Até o desconforto da dor física, das dificuldades para respirar ou o medo, automaticamente despertarão o bodhichitta.
 

Lama Gendun Rinpoche 
 
Nossa bondade e compaixão são em geral superficiais. Não nos abrimos verdadeiramente para o sofrimento dos outros seres e julgamos as situações apenas através de nossa perspectiva. Assumimos que nossa limitada percepção seja a correta.  Sem refletir, matamos insetos incômodos que atravessam à nossa frente enquanto comemos. Queremos nos livrar deles, e dizemos que insetos não sentem nada. Mas não sabemos o que eles sentem internamente. 
 
A compaixão de um bodhisattva, ao contrário, é ampla, abrangente, e surge da compreensão acerca do sofrimento inerente à existência condicionada. A despeito de qualquer condição externa, essa compaixão vinda do coração irradia-se por todo o universo e abrange até mesmo os seres que nunca viu, e cuja existência jamais suspeitou.
 
Para por um fim ao nosso sofrimento, devemos abandonar todas as ações perniciosas e a realizar ações benéficas. Ao mesmo tempo, devemos encorajar os outros a também abandonar as ações que trazem sofrimento e ajudá-los a aproveitar todas as oportunidades para cultivar ações benéficas. Quando investimos nossa energia dessa maneira, livramo-nos do sofrimento e desenvolvemos a força necessária para ajudar os inumeráveis seres.

Nossa orientação bondosa deve beneficiar a todos os seres, não importando quem seja e onde quer que esteja, sem exceção e com equanimidade. Não devemos ter preferências ou aversões pelos seres, a despeito das qualidades ou falhas que possam ter. Não devemos desconsiderar nenhum deles, nem aqueles a quem não conhecemos e cujo destino não nos afeta. Nosso sentimento de compaixão deve acolher a todos com bondade, até o último e menor dos seres. 
 
A prática do Dharma consiste em treinar nosso corpo, fala e mente a agir de forma positiva e aplicar a força então adquirida para auxiliar a todos os seres para que eles possam alcançar a iluminação o mais rapidamente possível. Nossa atitude mental de agir em benefício e o bem-estar de todos aos poucos se torna uma conduta de vida permanente. Essa atitude amorosa passa a permear todas as nossas atividades. Nos tornamos então uma inspiração para os outros, mostrando a eles o que fazer e o que evitar. A cada momento em que exercemos a motivação pura (de auxiliar a todos) nossa mente torna-se mais clara e nossa conduta, mais límpida. Dessa maneira, nossa atividade boddhisattva cresce, e passo a passo todos os benefícios advindos da meditação  se manifestam devido ao cultivo do amor, da gentileza e da compaixão. 
 
Buda
 
Não menospreze as pequenas boas ações
Acreditando que dificilmente possam ajudar;
Pois mesmo gotas de água, uma a uma,
Com o tempo enchem um grande jarro.
 
Dalai Lama 
 
Enquanto eu me acomodava ao lado do Dalai Lama, sentia na sua postura e na sua linguagem corporal o poder de um líder. Eu me lembrava da firmeza e do carinho com que segurara a minha mão na primeira vez que nos vimos. Sua bondade não diminuía em nada o seu poder, um lembrete valioso de que a compaixão é uma característica de força, não de fraqueza, um ponto no qual eles insistiram no decorrer de nossas conversas.

Quando o Dalai Lama o cumprimenta, ele pega a sua mão e a acaricia carinhosamente, como um avô talvez. Ele olha nos seus olhos e sente profundamente o que você está sentindo, e toca a sua testa com a dele. Seja qual for o sentimento no seu coração e refletido na expressão do seu rosto, seja euforia ou aflição, ela espelha a expressão do próprio rosto. Mas quando ele se encontra com outra pessoa, essas emoções se foram e ele está completamente disponível para o próximo encontro e o próximo momento. Talvez seja isso que chamam de estar totalmente no presente, disponível a cada instante e para cada pessoa com quem nos encontramos, livres de lembranças do passado que remoemos, nem atraídos pelas preocupações com o futuro.
 
Assim que acordo, eu me lembro do ensinamento do Buda: a importância da bondade e da compaixão, desejando algo de bom para os outros ou, pelo menos, a diminuição do seu sofrimento. Então eu me lembro que tudo está inter-relacionado, o ensinamento da interdependência. Dessa forma, eu defino a minha intenção para o dia: que este dia deve ser significativo. Significativo quer dizer, se possível, servir e ajudar os outros. Se não for possível, então, pelo menos, não prejudicar os outros. Isso é um dia significativo.
 
Todos os dias quando acordo, penso “Eu sou afortunado por estar vivo, por ter uma preciosa vida humana e por isso não irei desperdiçá-la. Usarei todas as minhas energias para desenvolver-me, para expandir meu coração em direção aos outros, para alcançar a iluminação e assim poder beneficiar todos os seres. Terei sempre pensamentos gentis sobre as outras pessoas, não sentirei raiva ou terei pensamentos negativos a respeito delas. Farei o máximo que puder em benefício de todos. 
 
Desmond Tutu 
 
No fim das contas, nosso maior contentamento é quando buscamos fazer o bem para os outros.O objetivo é sermos um reserva de contentamento, um oásis de paz, um lago de serenidade que pode envolver todos aqueles que estão à sua volta.
 
Thupten Jinpa 
 
Não é surpresa nenhuma, portanto, que os cientistas tenham identificado efeitos positivos da compaixão no cérebro. Quando ajudamos alguém devido a uma preocupação genuína por seu bem-estar, nossos níveis de endorfina – o hormônio associado à sensação de euforia – aumentam, causando o que conhecemos como “o prazer de ajudar”. 
 
A satisfação advinda de uma ação altruísta é efeito dela, não seu objetivo. Esta é a pegadinha – feliz – da compaixão: quanto mais ajudamos os outros, mais saímos ganhando. O fato de ficarmos mais felizes quando estamos menos preocupados com nossa própria felicidade é um paradoxo. Da sensação de inspiração à paixão, nossas experiências mais profundas de felicidade surgem quando transcendemos nossa estreita individualidade.

Trata-se de uma via de mão dupla: quando fazemos algo bondoso a outra pessoa por compaixão, nos sentimos bem porque a bondade afirma um traço fundamental da condição humana – a necessidade e a gratidão pelos vínculos com outros seres humanos. A compaixão e a bondade também nos libertam do confinamento sufocante aos nossos próprios interesses e nos levam a sentir que fazemos parte de algo maior. Se em geral nos arrastamos pela existência diária, cegos pelo egoísmo e pela ruminação, a compaixão nos tira os antolhos e coloca nossa vida em perspectiva.
 
Ao contrário do que poderíamos pensar, a compaixão nos deixa mais otimistas, porque, apesar de surgir a partir de uma situação difícil, seu maior desejo é o fim do sofrimento e a possibilidade de fazermos algo a respeito. A compaixão nos dá um sentido de propósito que vai além de nossas habituais preocupações mesquinhas. Nosso coração fica mais leve e nosso estresse diminui, o que nos torna mais pacientes e nos ajuda a compreender melhor a nós mesmos e os outros. Além disso, a compaixão nos leva a valorizar ainda mais a bondade dos outros em relação a nós.
 
Sri Ranjit Maharaj 
 
Pergunta: Há mestres que comem carne?

Compreenda a si mesmo, isso é o mais importante. Seu corpo não é você. Você acredita ser esse corpo, mas não é. Logo, o que é bom e o que é ruim? Essas questões não tem fundamento, acredite. Tire-as da cabeça. “Bom” e “ruim” são preocupações da mente condicionada, apenas isso.

Certo dia meu mestre pediu a seus discípulos, “Tragam-me algo que seja ruim”. Eles não conseguiram encontrar nada que fosse ruim, até que finalmente alguém trouxe um pouco de esterco. Mas sem esterco não há comida, os fertilizantes são necessários! Portanto, nada no mundo é ruim e nada é bom. O eu que julga o que é bom e o que é ruim e não aceita serenamente o que acontece, esse sim é ruim.
 
Mooji
 
Por acreditar ser um indivíduo à parte, você vive à deriva num mundo cheio de limitações. Mas quando reconhece ser a própria Essência, você age em harmonia com o meio ambiente. Maravilhosamente, os auxílios surgem de diferentes direções e você então reconhece a bondosa harmonia do universo.
 
Matthieu Ricard 
 
Mas por que deveríamos pensar no sofrimento das outras pessoas quando fazemos tudo o que é possível para evitar o nosso? Ao fazermos isso não estamos aumentando a nossa própria carga? O budismo nos ensina que não.

Quando ficamos absorvidos em nós mesmos, tornamo-nos vulneráveis, presas fáceis da confusão, impotência e ansiedade. Mas quando temos um sentimento poderoso de empatia pelo sofrimento dos outros, a nossa resignação impotente cede lugar à coragem, a depressão dá lugar ao amor, e a estreiteza da mente cede lugar à abertura para com todos que estão ao nosso redor.

A compaixão e a bondade amorosa são as maiores entre todas as emoções positivas, desenvolvê-las aumenta a nossa capacidade de oferecer alívio ao sofrimento dos outros ao mesmo tempo que reduz a importância dos nossos problemas.
 
https://obudaemmim.blogspot.com
 

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