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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O AMOR REAL NÃO CONHECE
PESSOAS NEM COISAS


"O amor não tem passado, 
não se inquieta pelo futuro. 
É sempre hoje e agora". 
(Joana de Angelis)

Pergunta: A minha pergunta “como eu posso amar a todos igualmente?” haveis respondido “não é amor que deveis sentir, porém algo de mais elevado”. Por favor, explicai.

Krishnamurti: Penso que o inquiridor deve ter compreendido mal o que eu disse. Enquanto houver a ideia dos “muitos eus” em vossa consciência, em vosso apercebimento, admitis a separação e quereis estar unidos a certas coisas — animais, árvores, seres humanos e deuses. Quando não mais sois limitados pela eu-consciência, que cria a separação, há o amor que é completo em si mesmo. Quando pensais em amor, pensais em outros para quem esse amor se dirige? Se assim for, ainda há divisão, incompletude. O amor não conhece pessoas nem coisas, nem sujeito, nem objeto; está liberto da eu-consciência. Não se trata de amar a todos, porém sim, de realizar a completude do amor que não conhece distinção.

Não ocupeis vossa mente com o desejo de amar a todos. Isto conduz à hipocrisia, ao desagrado, ao autoengano. Se estiverdes vivendo com intenso apercebimento, através dessa própria intensidade virá o desapego, o qual não é indiferença, porém, sim, amor.


Pergunta: Esforçando-me por me desapegar, penso que estou me tornando indiferente, o que verifico ser perfeitamente contrário daquilo que tendes em vista. Ao vos perguntar como posso ser afetuoso e realmente interessado pelos outros e ao mesmo tempo permanecer desapegado, talvez esteja perguntando algo que devera me esforçar por descobrir por mim mesmo? Se assim é, compreendo que não respondais à minha pergunta.

Krishnamurti: Quereis saber como permanecer desapegados e, ao mesmo tempo, estar realmente interessados pelos outros. Porque haveis de vos interessar pelos outros? Deixai os outros em paz. Penso que tempo virá em que não mais necessitarei de pregar-vos e em que vós não mais pregareis a outrem. Necessitais ser naturais. Naturalidade não quer dizer intromissão para com outras pessoas. Temais uma flor como exemplo: ela é. Uma flor é tranquila, repousada, indiferente à vossa admiração. Do mesmo modo não é o caso de ser afetuoso ou estar realmente interessado pelos outros. Isto conduz à indiferença. Vós vos preocupais de como afetais aos outros. Quereis que eles vos admirem, que vos animem, que digam que sois generosos, que sois amáveis. Eu vos falo de qualquer coisa totalmente diferente na qual o outro não existe. A ideia de outro é criada pela eu-consciência. Para perceber aquilo que está isento de ilusões, necessitais compreender esta ilusão de separatividade, necessitais sofrer — não porque seja necessário, porém porque vós o quereis. A indiferença existe enquanto estiverdes apegados, é o outro lado da moeda. Quando houver verdadeiro desapego, isto é, completude, não há mais indiferença. Quando estiverdes apegados, sereis escravos da reação e daí provém a fadiga, a calorosa indiferença. O amor não conhece a outrem e, em seu êxtase, não há separação.

Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 

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