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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A MÚSICA DO MAR


Contaram-me uma história:

Há milhares de anos, o mar engoliu uma cidade onde existiam muitos templos dedicados aos deuses.

Os sinos desses templos submersos continuam a tocar. talvez sejam as marés que os fazem tocar, talvez continuem a tocar porque os peixes roçam neles quando nadam por ali. Seja qual o motivo, os sinos tocam até hoje e até hoje é possível escutar da costa a sua doce sinfonia.

Eu também queria ouvir esta música, por isso parti em busca daquela praia. Depois de deambular durante vários anos, encontrei-a por fim. Mas tudo o que consegui ouvir foi o ruidoso tumulto do mar. O som das ondas a rebentar nas rochas ecoava uma e outra vez naquele lugar ermo, e não se ouvia música nem os sinos do templo tocavam. Continuei a prestar atenção, mas da costa não era possível escutar nada, à exceção da rebentação das ondas.

Mesmo assim, fiquei ali à espera. Na verdade, tinha-me esquecido do caminho de regresso e agora aquela praia, desconhecida e vazia, parecia destinada a testemunhar o fim da minha vida. Passado pouco tempo, até aquela ideia de ouvir os sinos se esvaiu. Instalei-me confortavelmente na praia.

Até que certa noite, escutei subitamente os sinos daqueles templos submersos a tocarem e a sua doce música começou a encher a minha vida de alegria.

Ao ouvir a música, acordei do meu sono, e desde então nunca mais fui capaz de voltar a dormir. Agora existe dentro de mim alguém constantemente acordado, o sono desapareceu para sempre e a minha vida encheu-se de luz - porque onde não há sono, não há escuridão.

E sou feliz. Na verdade tornei-me a felicidade em pessoa, porque como pode existir tristeza se a música do templo de Deus se faz ouvir?

Também deseja ir até aquela praia? Também quer ouvir a música daqueles templos submersos? Então partamos, dirijamo-nos dentro de nós mesmos. O coração é o mar, e nas suas profundezas encontra-se a cidade dos templos submersos.

Mas somente aqueles que estão calmos e alertas a todos os níveis é que serão capazes de escutar a música desses templos.

Como poderia essa música fazer-se ouvir se existir o ruído dos conflitos do pensamento e desejo? Até mesmo o desejo de ouvir esta música se torna um obstáculo para a descobrir.


Osho, em Candeias de Barro
http://misticismonaturalmn.blogspot.com

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