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quinta-feira, 23 de maio de 2019

TAO TE CHING


O Tao Te Ching começa pelas seguintes duas linhas:

O Tao que pode ser dito não é o verdadeiro Tao.
 
O nome que pode ser nomeado não é o verdadeiro nome.

O conceito de Tao é algo que só pode ser apreendido por intuição. É algo muito simples, mas não pode ser explicado. É o que existe. Só que nós temos demasiados conceitos dentro da cabeça para o entender como um todo uno.

A música não é a verdadeira música. A música não é a técnica ou o conhecimento musical. É algo que um bebê entende. A verdadeira música é algo diferente daquilo que usualmente se designa por música.
 
O amigo não é o verdadeiro amigo. O verdadeiro amigo é aquele que por vezes nos diz coisas que mais parecem ditas por um inimigo. A verdadeira amizade é algo diferente daquilo que usualmente se designa por amizade ou inimizade.
 
Para conseguirmos entender o curso natural das coisas e seguirmos o caminho do Tao temos que conseguir desaprender muitos conceitos. Para podermos desaprendê-los é preciso que antes os tenhamos aprendido. Mas temos que passar a um estado muito parecido com o estado inicial, em que estávamos antes de os termos aprendido.
 
Se abrirmos os olhos de repente, há um brevíssimo momento durante o qual o nosso cérebro ainda não analisou o que está a ver. Ainda não distinguiu as cores e as formas nem decodificou o que está a passar à nossa frente. Os taoistas procuram viver o mais perto possível desse estado. É uma renúncia à análise imperfeita da realidade. A verdadeira música e a verdadeira amizade sentem-se sem necessidade de qualquer análise.

No capítulo 48 lê-se:

Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido. Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás. E cada vez menos é feito até se atingir a perfeita não-acção.

Quando nada é feito, nada fica por fazer.
 
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
 
Não interferindo. 

O taoismo filosófico não é materialístico, nem espiritualístico, nem científico, nem místico, nem religioso. E, de certo modo, é isso tudo ao mesmo tempo porque transcende essas diferenças de opinião sobre o modo como deve ser encarado o mundo e a existência.

O Tao não transcende o mundo; o Tao é a totalidade da espontaneidade ou «naturalidade» de todas as coisas. Cada coisa é simplesmente o que é e faz o que faz. Por isso o Tao não faz nada; não precisa de o fazer para que tudo o que deve ser feito seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente é o Tao. Por isso, o Tao «faz tudo ao fazer nada».

O Tao produz as coisas e é o Te que as sustenta. O Te é o que as coisas recebem do Tao. As coisas surgem espontaneamente e agem espontaneamente. Cada coisa tem o seu modo espontâneo e natural de ser. Se o Tao fosse a água, o Te seria a água que existe em cada coisa (num rio, num lago, na chuva, nas plantas, nos seres vivos, etc.) Cada coisa possui a sua Virtude, o seu Te, a sua própria natureza espontânea. E todas as coisas são felizes desde que evoluam de acordo com a sua natureza. São as modificações nas suas naturezas que causam a dor e o sofrimento.
 
Os homens, em geral, tentam modificar a natureza das coisas. E a sua intenção pode ser boa. Mas o que uns consideram como bom pode não o ser para os outros. Homens diferentes têm opiniões diferentes. O homem sábio coloca-se no «centro do círculo»; não adere a nenhuma dessas opiniões, que considera a «música dos homens», e transcende-as indo ao encontro da variedade infinita. «Segue por vários caminhos ao mesmo tempo». Nenhuma opinião é má em si, todas as músicas são boas, desde que surjam espontaneamente na cabeça dos homens. São todas músicas boas e corretas e divertidas. O que acontece naturalmente é bom. Mas há que entender a sua relatividade.
 
Se o taoismo se opõe a instituições, regras, leis e governo, é porque estes impõem uma ideia do que é Bom. Por isso, o melhor modo de governar o mundo é não o governar.
 
Devemos agir de acordo com a nossa vontade apenas dentro dos limites da nossa natureza e sem tentar fazer o que vai para além dela. Devemos usar o que é naturalmente útil e fazer o que espontaneamente podemos fazer sem interferir na nossa natureza. E não tentar fazer aquilo que não podemos fazer ou tentar saber aquilo que não podemos saber. A felicidade é essa «não-acção» perfeita.


http://parar1momento.blogspot.com  

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