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sábado, 4 de maio de 2019

ANTES QUE O OUVIDO POSSA OUVIR
DEVE TER PERDIDO A SENSIBILIDADE


É necessário crescermos para poder ouvir estas coisas com um sorriso nos lábios, confiando na ciência da alma, seus poderes e seu destino.
 
Havemos de crescer para poder ouvir a palavra desagradável, a crítica injusta, a observação desdenhosa, sem que impressionem a nossa alma. Temos que deixar tais coisas no plano material a que pertencem e nunca permitir à nossa alma descer ao plano em que poderia ser impressionada.
 
Temos que aprender ouvir palavras pronunciadas com desprezo contra as verdades que nos são sagradas por aqueles que não compreendem. Deixem que as crianças brinquem. Um dia elas terão experimentado as dores do crescimento e amadurecimento espiritual e também passarão pelo que estamos passando.
 
Você também foi (ou é) uma criança. Deixe essas coisas entrar por um ouvido e sair pelo outro. Não as deixem chegar à sua alma. O esforço para tornar-se discípulo, há de ser feito sem mestre algum. Enquanto não tiver aprendido as quatro regras, nenhum mestre (da esquerda ou da direita) lhe poderá ser útil.
 
Nenhum verdadeiro mestre poderá influir sobre pessoa alguma, antes de vencer estas quatro regras. A Alma deve ter perdido as emoções da humanidade, deve ter alcançado um equilíbrio que a desgraça não possa lhe influenciar.
 
Só ouviremos a voz do mestre quando já não percebemos os sons que afetam a vida pessoal. O riso já não alivia o coração, a cólera não o excita, as palavras doces não têm para ele um balsâmico afeto.
 
Os Grandes Seres que conquistaram a vida permanecem em paz, imperturbáveis no meio da vibração e do movimento caleidoscópio da humanidade. Possuem em si uma paz perfeita e, não se excitam, nem se emocionam por causa dos errôneos e parciais fragmentos de informação que trazem aos seus ouvidos as vozes dos que os rodeiam.
 
As leis mais absolutas e universais da vida natural e física desaparecerão quando desaparecer a vida deste universo e ficará só a sua alma em silêncio. Que valor tem o conhecimento de suas leis adquirido pelo trabalho e pela observação.
 
Os dias da Literatura e da Arte, em que poetas e escultores viram a luz divina e a interpretaram com a sua grande linguagem, jazem sepultados em remotos passados. Os Mistérios já não governam o mundo do pensamento e da beleza, a vida humana é o poder que dirige e não aquele que existe mais além dela.
 
O conhecimento intuitivo é muito diferente. Não se pode adquiri-lo, pois que é uma faculdade inerente na alma, não da alma animal. O aspirante ou discípulo tem de se elevar à consciência da alma por um resoluto esforço da vontade. 

Com a fé tudo é possível. A fé é um poder enorme, que pode realizar todas as coisas, pois é o compromisso entre a parte divina do homem e o seu eu inferior. A fé é necessária para obter-se o conhecimento intuitivo. Nossos conhecimentos parciais à luz do verdadeiro conhecimento se convertem em chama, então os ouvidos principiam a ouvir, a princípio muito vagarosamente, que algumas vezes são considerados como meras fantasias e imaginações.
 
Antes que eles se tornem mais do que fantasias, a pessoa tem que afrontar o abismo do nada. O silêncio completo só pode vir fechando-se os ouvidos a todo ruído transitório, ele vem como um horror espantoso. Este silêncio constitui um grande terror para a maior parte das pessoas, e traz à mente a ideia da aniquilação.
 
Uma vez que o discípulo encontrou seu caminho neste abismo, deve fechar as portas de sua Alma que nela não possa penetrar nenhum consolador ou inimigo, perceberá que o fato de que a dor e o prazer não são mais do que uma sensação. Quando se alcança a solidão do silêncio, a Alma sente forte e apaixonado apetite de sensação em que repousar, mesmo uma sensação dolorosa seria recebida com a mesma ânsia que uma de prazer.
 
Quando se chega este estado de consciência, o homem corajoso pode destruir de golpe a sua sensibilidade. Quando o ouvido cessa de distinguir entre o aprazível e o doloroso, já não pode ser afetado pela voz dos outros, e então está fora de perigo e pode abrir as portas da Alma.
 
Neste segundo passo não se permite nenhuma classe de auxílio material. Por auxílio material quero significar a ação do cérebro ou as emoções da Alma Humana. (A noite escura da alma) Ao obrigar os ouvidos a escutar solenemente o silêncio eterno, o homem se converte em algo que já não é homem.
 
Para se obter o silêncio puro temos que deixar o coração e as emoções, e também o cérebro e suas intelectualidades. Se tiver poder suficiente para despertar essa parte não conhecida de si mesmo, a Essência Suprema, então terá forças para abrir as Portas de Ouro.
 
Nesse ponto da experiência o Ocultista se separa de todos os outros homens e entra em uma vida peculiarmente sua no caminho dos feitos individuais, em lugar da mera obediência aos gênios que governam a nossa terra.
 
Neste ponto se encontra a única esperança de êxito no grande esforço do homem, de converter-se em parte intrínseca do poder divino, assim como foi parte intrínseca do poder intelectual da grande Natureza a que pertence.
 
Os homens que vencerem este passo são os Irmãos Maiores, os precursores. Todo homem tem que dar por si mesmo esse grande salto, contudo, saber que outros passaram por esse caminho já é alguma coisa que serve de apoio.
 
Quando o homem começa a entrar no estado do silêncio, perde o conhecimento de seus amigos, dos seres queridos, de todos que amou, e também perde seus Instrutores e aqueles que o precederam no caminho. É muito raro quem não se passe por este estado.
 
Se a mente tomasse em conta que o silêncio deve ser completo, certamente isso não surgiria como obstáculo no caminho. O seu Mestre pode ter entre suas mãos as suas e oferecer-te a maior simpatia de que é capaz o coração humano.
 
Mas quando vem o silêncio e a obscuridade, perde todo o conhecimento d’Ele, estais sós e Ele não te pode auxiliar, não porque perdeu o seu poder, mas porque evocastes o seu grande inimigo. Por seu grande inimigo refiro-me a ti mesmo. Se fores capaz de afrontar sua própria Alma na obscuridade e no silêncio, tereis conquistado o ser animal ou físico o qual vive somente na sensação.
 
Quando o homem atinge sua maturidade, se pudesse exigir sua grande herança, sem dificuldade se desembaraçaria da carga da vida animal. Mas não o faz. Recusa-se a ser sua natureza superior, não resiste ao impulso de retrocesso que lhe vem do seu eu inferior ou material.
 
Os vencedores permanecem em segredo e no silêncio, porém é coisa certa que ele constitui um elo entre o homem e a sua parte divina, entre o conhecido e o desconhecido.
 
Isto faz dele um Ser de uma ordem diferente do resto da humanidade. Ainda no princípio do caminho para o conhecimento, quando deu somente o segundo passo, vê que o seu pé está mais seguro e tem consciência de que é uma parte do todo.
 
Quando aprendeu a primeira lição, quando dominou a fome do coração e recusou viver no amor de outros, acha-se capaz de inspirar amor.
 
Ao abandonar a vida, esta vem a ele em uma nova forma e com um novo significado. O homem quando se torna discípulo, vê que a vida se descreve como numa série de paradoxos.
 
Isto é um fato na Natureza. A alma do homem “mora à parte como uma estrela”, mesmo a do mais vil entre nós, enquanto que a sua consciência está sob a lei da vida vibratória de sensações.
 
Os seus motivos são quase sempre indecifráveis, e ele não pode saber nem dar a razão por que fez isto ou aquilo. O esforço do discípulo é para despertar a consciência nesta estrela da parte de si mesmo, na qual dormem o seu poder e a sua vontade.
 
Quando esta consciência se desperta, a contradição se nota mais do que nunca no mesmo homem, e assim acontece com os paradoxos que mostra em sua vida.
 
A pressão sobre a parte divina do homem reage sobre a parte animal. Faz a vida quotidiana do homem mais determinada, mais viva, mais real e responsável.
 
O ocultista que se retirou para dentro da sua própria fortaleza, encontrou a sua força e reconheceu as exigências que o dever lhe impõe. Ele não obtém a sua força por seu próprio direito, mas, sim, por ser ele uma parte do todo.
 
Logo que se acha livre da vibração da vida e pode permanecer inquebrantável, o mundo externo lhe grita que venha e que trabalhe com ele. Quando já não deseja receber, se lhe pede que dê com abundância.
 
Ter adquirido os sentidos astrais e do ouvido, ter alcançado a percepção e aberto as portas da Alma, são tarefas gigantescas, que podem exigir o sacrifício de muitas encarnações sucessivas.
 
No entanto, quando a vontade alcançou a sua força, todo milagre pode operar-se em um segundo de tempo. Então o discípulo deixa de ser servidor do tempo.

 
Trecho do livro Luz no Caminho, de Mabel Collins
https://osmirclemente.files.wordpress.com

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