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sexta-feira, 17 de maio de 2019

IDEIAS 
AO LONGO DO CAMINHO (22)


Um Horizonte Mais Amplo Mostra Como
É Pouco e Precário o Que Sabemos de Fato
 
 
Carlos Cardoso Aveline

* A palavra “premissa” significa uma ideia ou proposição que está na base de um raciocínio, e cuja veracidade se considera garantida. A importância deste conceito em teosofia é fundamental. As coisas que consideramos confirmadas e garantidas têm caráter decisivo, porque pensamos que não irão falhar.

* O ponto inicial da jornada define a trajetória. E a meta que escolhemos determina o ponto de partida. O primeiro passo contém de certo modo a caminhada toda.

* Examinar as nossas premissas é necessário, mas não é fácil, porque algumas delas são subconscientes, e outras, supraconscientes.

* Para estudar as premissas adotadas e testar a veracidade delas é necessária uma constante expansão do autoconhecimento. Conhecendo a si próprio cada vez mais, o peregrino pode observar devidamente a substância e a firmeza – ou o caráter frágil – das suas próprias premissas.

* A moderação e a simplicidade voluntária são fontes do contentamento duradouro. A satisfação mais profunda não surge quando temos nossos desejos atendidos, mas é resultado de reduzirmos os desejos pessoais. Quanto menos desejo, mais felicidade.

* A paz que é interna e indizível não surge do nada. Ela tem como base o Carma. A quantidade de bem-estar incondicional que alguém possui em sua alma depende da experiência acumulada, seja na encarnação atual ou em existências anteriores. Resulta também da vontade do espírito.

* A harmonia interior não é obtida apenas através de um esforço voluntário, mas uma ação voluntária pode ajudar-nos a entrar em sintonia com ela. A paz que está além das palavras é resultado de um tipo específico de ações, e, por sua vez, também constitui a causa de uma mudança na qualidade dos nossos esforços.

* Há um efeito alquímico na tentativa calma e persistente de cumprir o seu dever sem pensar em ganhos pessoais. O resultado produz felicidade.

* Uma boa noite de descanso vem até nós de modo natural quando sabemos que os deveres do dia foram bem cumpridos. Pela manhã, a paz pode ser reconhecida como uma parte objetiva da atmosfera ao nosso redor, e como uma fonte viva de harmonia em todas as situações.

* Depois de vários milênios de constante mudança social e inúmeras tentativas de promover “reformas” e fazer “revoluções”, ainda não é fácil para todos perceber que não há uma real mudança para melhor, na sociedade, a menos que ela venha de uma mudança para melhor nas almas, e expresse externamente este progresso interior.

* Quando as pessoas mudarem o seu estado de consciência e passarem a viver a sabedoria e a sinceridade, todas as coisas terrestres se harmonizarão de modo quase instantâneo. Se as pessoas fazem o oposto disso, a mediocridade colhe o que a mediocridade plantou. O tipo correto de mudança social ocorre quando as pessoas pensam mais sobre os seus deveres do que sobre os seus “direitos”.

* Quase tudo na vida pode ser um teste em Raja Ioga e um treinamento em desapego e autocontrole. O “isolamento” do aprendiz é necessário, mas não precisa ocorrer no plano físico. Ao mesmo tempo que o peregrino cumpre deveres em várias situações e níveis de consciência, ele pode permanecer internamente concentrado. A regra milenar, sempre confirmada, recomenda: “antes de desejar, faça por merecer”.

* A vida é rítmica. As várias correntes de causas e efeitos tendem a reproduzir a si mesmas. A paz e a boa vontade são hábitos: a infelicidade também. Até a dor psicológica é um hábito. A sabedoria consiste em abandonar as ações repetitivas que reproduzem a dor, estabelecendo novos ritmos que abrem espaço para o contentamento. Há uma corrente de causas e efeitos que leva à libertação, e ela inclui o tipo de autossacrifício do eu inferior que ocorre quando o eu inferior entende e aceita as causas da Bênção.

* À medida que o peregrino descobre o prazer superior de contemplar a Lei universal, as questões pessoais se tornam cansativas para ele. O contraste entre os estados mentais superiores, impessoais, e o mundo inferior da mediocridade e personalismo humanos é doloroso para ele, e às vezes traz perigo. Como resultado disso, o peregrino precisa desenvolver a consciência e a vigilância de um guerreiro, para evitar as armadilhas criadas pelo contraste entre diferentes níveis de consciência.

* Cada Lua Cheia constitui um auge e um ponto de não-retorno na jornada do mês. Representa o nível mais alto dos processos de acumulação que vinham ocorrendo. A partir do momento da lua cheia, passa a surgir o tempo certo para concluir, aperfeiçoar, aceitar o desapego, e preservar as posições obtidas antes. Não é sábio começar descuidadamente novos esforços, depois que passou o ponto mais luminoso da trajetória da Lua.

* A visão impessoal da vida não é uma atitude externa. Não tem quase nada a ver com o mundo das aparências. Ignora o universo das habilidades sociais, porque pertence ao eu superior.

* Há um lugar intermediário na ponte entre o nosso eu espiritual e o nosso eu inferior. Neste ponto médio nós ainda temos um eu individual – e somos responsáveis por ele – e no entanto não estamos limitados a um tal nível de existência. Já nos identificamos com nosso eu anônimo e universal – indescritível, ilimitado, eterno – e podemos escutar o seu silêncio e aprender com ele a qualquer momento. Nesta região surge a verdadeira impessoalidade.

* Tanto a perda como a renúncia levam o peregrino à não-dependência. O desapego o conduz à liberdade, e disso surgirá um nível superior de aquisições.

* A renúncia, no entanto, não basta: o peregrino precisa levar em conta sua responsabilidade. Se deseja expandir sua distância de uma situação particular e assim reduzir o seu carma de curto prazo com aquelas circunstâncias, ele deve fazer isso calculando os efeitos do afastamento. Estes devem ser predominantemente positivos, levando a um crescimento da vida interior.

* Na busca da sabedoria, o ponto de vista adotado é mais importante que as palavras que se usa. Se o ponto de vista mostrar apenas um pedaço estreito de paisagem, o peregrino pode ficar excessivamente otimista com seu próprio conhecimento e chegar à conclusão de que pouco lhe falta por aprender.

* Um horizonte mais amplo mostra como é pouco e precário o que sabemos de fato. Este é um dos primeiros passos no caminho do real conhecimento. Quanto mais aprendemos, melhor percebemos a estrutura da ignorância. Assim podemos eliminá-la, gradualmente.

* Nenhum verdadeiro instrutor aceita seguidores cegos. Os instrutores que desejam estudantes incapazes de questionar com responsabilidade o ensinamento não são verdadeiros professores. Estão enganando a si mesmos com a fantasia da infalibilidade, e enganando os seus alunos. Os mestres de sabedoria deixaram esta questão muito clara em suas Cartas: a Pedagogia deles confia na independência de cada aprendiz.

* O estudante deve duvidar, questionar e verificar todo conhecimento. A intuição será uma das suas luzes inspiradoras, mas ela também tem de ser testada de vários modos ao longo do tempo.

* É relativamente fácil memorizar e repetir as palavras dos ensinamentos autênticos da filosofia esotérica. No entanto, para ir além da mera repetição e compreender o significado interno dos ensinamentos, é necessário olhar para as palavras escritas desde o ponto de vista da intenção interior correta.

* Só aqueles cuja meta central é ajudar a humanidade possuem a perspectiva desde a qual podem ser compreendidas as doutrinas teosóficas. Nesse ponto, é claro, a aparência de altruísmo é inútil. A generosidade deve ocorrer em silêncio e iluminar cada ação do estudante, mostrando a ele as lições já aprendidas e as lições que ainda estão por aprender.

* Os esforços de um peregrino precisam ser calmamente intensos. O trabalho e o descanso devem ser combinados de modo correto. É recomendável estar aberto a diferentes ritmos, padrões de vibração e maneiras de dizer o que pensamos. A criatividade é tão importante quanto a tradição: a perseverança é interna, a flexibilidade, exterior. Cabe desenvolver uma vontade de ferro, por dentro, e uma adaptabilidade externa ao mundo material.

* Não chega a ser inteiramente correta a ideia de que “a vida começa de novo a cada manhã”. O novo começo não é limitado a um ciclo específico. A vida recomeça a cada ano, cada semestre, mês, ciclo lunar, hora, ou instante – na medida em que formos capazes de ouvir o Silêncio Interno. A energia renovadora está em todo lugar, no Espaço, assim como está em cada ponto do Tempo.

* Em uma carta escrita no século 19, um Mestre de Sabedoria cita estas palavras de Alfred Tennyson: “Autorrespeito, autoconhecimento, autocontrole, só estes três dão à vida um poder soberano.” [1] Estes são três aspectos de antahkarana, a interação viva entre a alma espiritual e o eu inferior. É necessário respeitar a si mesmo, para ser capaz de respeitar os outros. A verdadeira autoestima é a fonte da moderação e do comportamento ético. A autoestima não é orgulho: o respeito por si mesmo flui em harmonia com a humildade.

NOTA:

[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Ed. Teosófica, Brasília, primeira série, Cartas Para e Sobre L. C. Holloway, p. 148.
 
https://www.filosofiaesoterica.com

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