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quinta-feira, 25 de abril de 2019

SOBRE RESPEITABILIDADE 
E DEPENDÊNCIA


Pergunta: Dissestes que a verdade não tem aspecto. Julgais, então, que qualquer formulação da verdade é só do espírito?

Krishnamurti: Julgo. Para mim a verdade é a vida; essa vida que é harmoniosa, rica e completa e que funciona sem obstáculos neste mundo. Isto é o todo. Um circulo não tem aspecto. Se um homem coloca-se só em um lado e não deseja ver o todo, esse aspecto limitado lhe aparece como o todo; esse limite estreito, esta faixa do circulo torna-se em aspecto total da verdade. Não é a verdade, é apenas um limite da verdade; e para compreenderdes o todo, deveis ter a completa experiência da verdade. A verdade não está oculta, em alguma parte da vida. A verdade, para mim, é a vida de cada indivíduo liberto que movimenta sua completa capacidade, um espírito que é livre, um amor que não está limitado nem corrompido por afeições pessoais.

Pergunta: A completa libertação do temor necessita da libertação de toda a espécie de dependência exterior, incluindo a da dependência material. Mas na situação atual das coisas, a interdependência é considerada inevitável para a garantia da felicidade material do indivíduo. Assim, como excluir inteiramente o temor?

Krishnamurti: Se dependerdes simplesmente de vosso estomago, não tereis a felicidade da vida. Na civilização moderna, o indivíduo não pensa. Ele se torna apenas uma parte de uma enorme máquina. Se fordes colhido por esta máquina, há o medo, há a repressão, e a vossa grandeza individual está aniquilada. Mas se procurardes libertar-vos do medo, se procurardes o vosso próprio desenvolvimento pessoal e grandeza, deveis afastar-vos da máquina. Perguntar-me-eis: “Como faze-lo?” Como um homem na prisão deseja liberdade, deseja ar puro? Ele não indaga, está sempre procurando romper as paredes para fugir. Se receais ficar na miséria, devereis, então, tornar-vos um dente da engrenagem da máquina, deveis tornar-vos uma parte reunida ao todo. Mas, se disserdes: “Não me preocupa ficar na miséria, mas farei o que julgar ser direito”, então não sereis mais uma pessoa medíocre, estareis vos desviando da rota comum. Muitas pessoas se desviam do mundo mecânico, mas desviando-se deste mecanismo, criam forma própria, particular de mecanismo e este novamente os atinge.

Que vos interessa? Tornar-vos parte desta máquina gigantesca, esta moderna civilização, que destrói o indivíduo e a sua felicidade? — ou estais procurando vossa própria libertação e por isso tornais livres os que vos rodeiam? Se pensais que devereis ser um dente da engrenagem, Tornai-vos, então, um dente de engrenagem de primeira qualidade. Se desejardes ser livre, destruí o mecanismo que vos cerca.

Desejais simplesmente esquivar-vos da enfadonha luta da vida. Então, todas essas dúvidas existem e não são dúvidas verdadeiras, mas questão de erros intencionais. Se desejardes realmente descobrir, devereis fazê-lo com todo o vosso coração, com todo o vosso espírito e estar preparado para sofrer. Sois todos tão respeitáveis! Tendes medo de vossa família, de vossas mulheres, de vossos maridos, vossas mães, vossos pais, vossos vizinhos, vossos “gurus”. Então, como podereis encontrar a verdade que nada tem a ver com as pessoas, com a sociedade, com a máquina? Devereis, se pudesse eu sugeri-lo, ter essa pergunta sempre diante de vós: — Quererá, aquele que eu conduzir à liberdade, dar-me energia vital para distinguir o essencial e colocar de lado tudo que não é essencial?

 
Krishnamurti
 http://pensarcompulsivo.blogspot.com 
 

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