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sábado, 27 de abril de 2019

"BEM-AVENTURADOS 
OS POBRES PELO ESPÍRITO"


Jesus proclama bem-aventurados, cidadãos do reino dos céus, agora e aqui mesmo, todos aqueles que são pobres, ou desapegados, dos bens terrenos, não pela força compulsória das circunstâncias externas e fortuitas, mas sim pela livre e espontânea escolha espiritual; os que, podendo possuir bens materiais, resolveram livremente despossuir-se deles, por amor aos bens espirituais, fiéis ao espírito do Cristo: “Não acumuleis para vós bens na terra — mas acumulai bens nos céus”.
 
Essa libertação da escravidão material pela força espiritual supõe uma grande experiência e iluminação interna. Ninguém abandona algo que ele considera valioso sem que encontre algo mais valioso. Quem não encontrou o “tesouro oculto” e a “pérola preciosa” do reino dos céus não pode abandonar os pseudo tesouros e as pérolas falsas dos bens da terra. É da íntima psicologia humana que cada um retenha aquilo que ele julga mais valioso.
 
O verdadeiro abandono, porém, não consiste em uma fuga ou deserção externa, mas sim em uma libertação interna. Pode o milionário possuir externamente os seus milhões, e estar internamente liberto deles — e pode, também, o mendigo não possuir bens materiais e, no entanto, viver escravizado pelo desejo de os possuir, e, neste caso, é ele escravo daquilo que não possui, assim como o milionário pode ser livre daquilo que possui. Este possui sem ser possuído — aquele é possuído pelo que não possui.
 
O que decide não é possuir ou não possuir externamente — o principal é saber possuir ou não possuir. Ser rico ou ser pobre são coisas que nos acontecem, de fora — mas a arte de saber ser rico ou de ser pobre, é algo que nós produzimos, de dentro. O que nos faz bons ou maus não é aquilo que nos acontece, mas sim o que nós mesmos fazemos e somos. A verdadeira liberdade, ou seu contrário, consiste numa atitude do sujeito, e não em simples fatos dos objetos.

‘O que de fora entra no homem não torna o homem impuro — mas o que de dentro sai do homem e nasce em seu coração, isto sim torna o homem impuro” — ou também, puro, conforme a índole desse elemento interno. Ser rico não é pecado — ser pobre não é virtude. Virtude ou pecado é saber ou não saber ser rico ou pobre.
 
Naturalmente, quem é incapaz de se libertar internamente do apego aos bens materiais sem os abandonar, também, externamente, esse deve ter a coragem e sinceridade consigo mesmo de se despossuir deles, também, no plano objetivo, a fim de conseguir a “pobreza pelo espírito”, isto é, a libertação interior. Aquele jovem rico do Evangelho, ao que parece, era incapaz de possuir sem ser possuído; por isso, o divino Mestre lhe recomendou que se despossuísse de tudo a fim de não ser possuído de nada — mas ele falhou. E por isso se retirou, triste e pesaroso, “porque era possuidor de muitos bens”.
 
Possuidor? não — era possuído de muitos bens. Entre possuidor e possuído há, verbalmente, apenas a diferença de uma letra, o “r” — mas esse”r” fez uma diferença enorme, porque e o r da redenção.
 
O possuído é escravo — o possuidor não possuído é remido da escravidão. Quem não sabe possuir sem ser possuído, fez bem em se despossuirde tudo. Mas quem sabe possuir sem ser possuído pode possuir. Não raro, o ato externo do despossuimento é condição preliminar necessária para a libertação interna.
 
Quem fez dos bens materiais um fim, em vez de um meio, praticaidolatria, porque “ninguém pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro”.
 
Quem serve é servo, escravo, inferior. Quem serve ao dinheiro proclama o dinheiro seu senhor e soberano e a si mesmo servo e súdito. Mas quem obriga o dinheiro a servir-lhe é senhor do mesmo, porque usa o dinheiro como meio para algum fim superior.
 
Quem serve a Deus “em espírito e verdade” pode ser servido pelo dinheiro e por outros bens materiais.
 
Bem-aventurados os pobres pelo espírito, os que, pela força do espírito,se emanciparam da escravidão da matéria. Deles é o reino dos céus, agora,aqui, e para sempre e por toda a parte, porque, sendo que o reino dos céus está dentro do homem, esse homem leva consigo o reino da sua felicidade aonde quer que vá...
 
O nosso pequeno ego humano é muito fraco, e necessita de ser escorado por muitos bens materiais para se sentir um pouco mais forte e seguro mas o nosso Eu divino é tão forte que pode dispensar essas escoras e muletas externas e sentir-se perfeitamente seguro pela força interna do espírito.
 
Todo o problema está em saber ultrapassar a fraqueza e insegurança do ego e entrar na força e segurança do Eu... Bem-aventurado esse pobre do ego — e esse rico do Eu!... dele é o reino dos céus!...
 
 
Trecho do Livro O SERMÃO DA MONTANHA, de Huberto Rohden
 

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