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domingo, 7 de abril de 2019

A NECESSÁRIA PRÁTICA 
DA EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS


Sabe-se que a mente intervém para seus próprios objetivos. Ela busca continuidade e segurança, e isso pode ser garantido apenas se os sentidos e o cérebro não lhe apresentarem material completamente novos. Na presença de algo novo, a segurança da mente fica, naturalmente, ameaçada, pois, sob seu impacto, a mente é compelida a revisar suas próprias conclusões. E é isso que a mente deseja evitar o tempo todo. É seguro para ela permanecer entrincheirada atrás de suas próprias conclusões e julgamentos. Se esses são jogados ao mar, naturalmente, ela deve buscar novas paragens e avenidas para seus movimentos. A mente impede esse acontecimento, interferindo no processo perceptivo de forma que os sentidos e o cérebro sejam impedidos de colocar diante dela qualquer dado novo. Esse processo tornou-se tanto parte de nossas vidas que os sentidos dependem, todo o tempo, das intimações e direções da mente. A intervenção da mente tornou fora de nosso alcance vastas áreas do Universo. Vivemos em um Universo estereotipado e monótono. Através da intervenção da mente, podemos ver apenas aquilo que a mente considera seguro que vejamos. Isso acontece, particularmente, com relação à contraparte psicológica do Universo. Se tivermos de agir de forma correta no ambiente físico e psicológico que se impinge sobre nós constantemente, é necessário que conheçamos bem esse ambiente. Se nossa percepção é imperfeita, então certamente a interpretação daquilo que conhecemos e a ação advinda de tal cognição também estão fadadas a ser. Todavia, para a reta percepção, os sentidos devem reclamar sua iniciativa, e o cérebro deve declarar seu direito de funcionar com o potencial pleno. Esse funcionamento do cérebro com pleno potencial é possível apenas se os sentidos funcionam independentemente da mente. A prática da educação dos sentidos permite-nos fazer isso e confere iniciativa aos sentidos. Em outras palavras, objetiva uma completa reeducação dos sentidos, de modo que cessem de depender da mente para seu funcionamento. É fácil de compreender que esta reeducação dos sentidos deve começar não no lado psicológico, mas no lado não psicológico, porque a intervenção da mente na esfera não psicológica é comparativamente lenta e menos intensa. Quando a intervenção da mente é impedida nos processos perceptivos da esfera não psicológica, a suspensão de tal intervenção nos reinos psicológicos torna-se fácil. Logo, sabemos que reeducar os sentidos é tornar possível que eles funcionem livremente, sem interferência da mente.

[...] A mente em sua busca por prazer transforma os fatos em ficções, através de um processo de associação e identificação. Ela projeta suas próprias associações sobre os fatos da vida. [...] Quando os sentidos perdem sua iniciativa e função em benefício da mente, então cessam de responder aos fatos da vida e começam a mover-se no reino dos objetos de prazer da mente. São incapazes de permanecer onde estão os fatos e tendem a gravitar para os objetos mentais. Estes são os objetos da vida e os objetos da mente. Os primeiros representam o fato, enquanto os segundos representam as projeções. Esses sentidos, operando em benefício da mente, são removidos dos objetos da vida para os objetos da mente. Ora, quando a mente recolhe-se, abstendo-se de toda intervenção no processo perceptivo, os objetos da mente começam a desaparecer e aparecem os objetos da vida. É então que os sentidos recebem o que lhes cabe. Contudo, tendo se acostumado a funcionar em benefício e sob direção da mente, os sentidos, no início, sentem-se perdidos quando a mente se recolhe. São incapazes de agir por conta própria e, assim, como diz o Bhagavad Gita:

"Oh Filho de Kunti, os sentidos excitados mesmo de um homem sábio, ainda que ele se esforce, impetuosamente arrebatam sua mente".

Os sentidos quase que forçosamente trazem a mente de volta e exigem sua intervenção. Isso ocorre em virtude de os sentidos não terem sido reeducados e serem incapazes de agir sem a direção da mente. Devem ser educados a funcionar sobre os objetos da vida e a afastarem-se dos objetos da mente.

[...] Se podemos olhar para os fenômenos não psicológicos sem a intervenção da mente, os sentidos têm uma chance de funcionar por si próprios. Ou seja, os sentidos precisam ser reeducados para olhar ou sentir de outra forma a flor e a árvore, a nuvem e o pássaro, o rio e o mar. Com a mente recolhida, os sentidos começam a funcionar de uma maneira nova, descobrindo os objetivos da natureza, dissociados dos objetos da mente.
 
[...] Quando os sentidos recebem sua devida parte, porque a intervenção da mente foi interceptada, seu alcance e sua intensidade de resposta aumentam tremendamente. São capazes de comunicar ao cérebro um número muito aumentado de dados e sensações. Tal fato, é claro, resulta da ativação do cérebro, permitindo que ele funcione com seu pleno potencial.[...] A ativação do cérebro impede a interferência da mente em seus próprios processos perceptivos. O cérebro é capaz de tornar suas imagens perceptivas claras e vívidas sem que distorções sejam introduzidas nas mesmas. Quando há um fluxo ininterrupto de sensações dos órgãos dos sentidos, as imagens perceptivas também são constantemente renovadas. O fluxo da vida, transmitido pelas sensações sempre crescentes, é refletido em renovadas imagens da percepção formada pelo cérebro. A monotonia da mesmice desaparece, permitindo que ele permaneça sempre novo e energético, sempre pronto para aprender. O processo do aprendizado do cérebro não é reduzido, o que o faz funcionar com tremenda vitalidade. A maior elasticidade dos sentidos e a crescente vitalidade do cérebro são os resultados da prática da educação dos sentidos.

Rohit Mehta
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 

 

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