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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

SOBRE AS CONFUSÕES E OS AVILTAMENTOS DA MENTE


(...) Levado por sua ignorância, os homens estão sempre formulando pensamentos errados, estão sempre emitindo falsas opiniões e, apegando-se ao seu ego, agem erradamente. Consequentemente, eles se entranham cada vez mais no mar de delusões.

(...) Fazendo de seus atos o campo da satisfação do ego, nutrindo a mente de discriminações, anuviando-a com a estupidez, fertilizando-a com a chuva dos desejos ardentes, irrigando-a com a obstinação do ego, os homens lhe acrescentam o conceito do mal, e com isso carregam consigo este fardo de ilusão.

(...) Na realidade, este corpo de delusão nada mais é do que o produto da própria mente, assim como o são as ilusões da tristeza, a lamentação, o sofrimento e a agonia. (...) Este mundo de erro não é senão a sombra causada pela mente. É de se notar, contudo, que é desta mesma mente que surge o mundo da iluminação.

(...) Embora o corpo e a mente sejam produto de várias formas cooperantes, disto não se pode concluir que se confundam com o "eu". Sendo constituído por um agregado de elementos, o corpo físico é, por esse motivo, transitório. Se o corpo fosse um eu, ele poderia fazer isso ou aquilo, segundo a determinação do eu... Nem a mente se confunde com o eu. Ela é também um agregado de causas e condições. Está constantemente mudando. Se a mente se confundisse com o eu, faria isso ou aquilo, segundo a vontade deste eu, mas assim não acontece e ela, muitas vezes, se afasta, sem o querer, daquilo que é certo e busca o mal. Nada parece suceder exatamente como deseja o ego.

(...) Diante da pergunta se o corpo físico é permanente ou transitório, deve-se responder "transitório". À indagação se a existência transitória é felicidade ou sofrimento, deve-se, geralmente, responder "sofrimento". Se um homem acreditar que tais coisas transitórias, tão mutáveis e cheias de sofrimento, formam e são o "eu", estará incorrendo em grave erro. A mente é também inconstante e sofrimento; nada possui que possa ser considerado um "eu". Portanto, o corpo e a mente, que compõem uma vida individual, e o seu mundo circundante, estão muito longe dos conceitos do "eu" e "meu"... A mente, sempre inconstante, é como a corrente de um rio, ou como a chama de uma vela, ou ainda, como um macaco irrequieto, que não para um momento sequer. Um sábio, em busca de iluminação, vendo e ouvindo tais coisas, deverá romper todo o apego ao corpo ou à mente.

(...) Existem quatro verdades neste mundo: primeira, todos os seres viventes nascem da ignorância; segunda todos os objetos do desejo são impermanentes, incertos e sofrimento; terceira, tudo que existe é também impermanente, incerto e sofrimento; quarta, nada existe que possa ser chamado "ego", e não há nada que se possa considerar como "meu" em todo o mundo.

(...) A ilusão e a Iluminação originam-se na mente, e tudo é criado pelas diferentes funções da mente, assim como variadas coisas aparecem da manga de um mágico. As atividades da mente não têm limite, elas criam as circunstâncias da vida. Uma mente corrompida cerca-se de pensamentos impuros e uma mente pura, pelo contrário, cerca-se de coisas puras; disto se conclui que o ambiente ou as circunstâncias são tão ilimitáveis quanto o são as atividades mentais.

(...) A mente que abriga a necessidade e a cobiça, que cria seus ambientes, nunca está livre de lembranças, temores e lamentações, não só do passado, como também do presente e do futuro. É da ignorância e da avidez que surge o erro, e suas causas e condições existem apenas dentro da mente, em nenhum lugar mais. A vida e a morte nascem da mente e nela existem. Daí, uma vez desaparecida esta mente, o mundo da vida e da morte também se extingue.

(...) Um obscuro e desnorteado viver surge de uma mente que está confusa com seu mundo de ilusão. Quando aprendermos que, fora da mente, não existe nenhum mundo ilusório, a mente anuviada tornar-se-á clara e se não mais nos cercarmos de ambientes impuros, estaremos prontos para alcançar a iluminação. Deste modo, o mundo da vida e da morte é criado pela mente, a ela se sujeita e é por ela regido; a mente é o senhor de toda a situação. O mundo do sofrimento é assim causado por uma mente mal orientada. Tudo é, portanto, criado, controlado e regido pela mente. Assim como o carro segue o boi que o puxa, o sofrimento segue a mente que se cerca de maus pensamentos e de paixões mundanas.

(...) Uma mente impura levará o homem a cambalear em uma áspera e íngreme estrada, onde haverá muitas quedas e sofrimentos. Mas uma mente pura o conduzirá por um caminho suave, onde a viagem lhe será tranquila. Aquele que tiver o corpo e a mente puros, aquele que puder romper as malhas do egoísmo, dos maus pensamentos e desejos, estará percorrendo o caminho do reino de Buda. Aquele que tiver a mente calma adquirirá a paz e, assim, poderá sempre cultivar a mente com maior diligência.

(...) Os homens, porque nutrem a ideia de um ego, apegam-se à ideia de posse; mas, como não há um "eu", não pode haver um "meu", se puderem compreender esta verdade, poderão, então, compreender a verdade da não-dualidade.

(...) A pura e fragrante flor de lótus desenvolve-se melhor na lama de um pântano do que num terreno limpo e firme; da mesma maneira, a pura iluminação de Buda surge do lodo das paixões mundanas. Assim, mesmo os mais absurdos pontos de vista e as ilusões das paixões mundanas podem ser as sementes da iluminação de Buda.

(...) Assim como um mergulhador, para garantir suas pérolas, deve descer ao fundo do mar e arrastar todos os perigos que lhe oferecem os pontiagudos corais e os malévolos tubarões, o homem deve enfrentar os perigos da paixão mundana, se ele quiser obter a preciosa pérola da Iluminação. Primeiro ele deve estar perdido entre os íngremes penhascos do egoísmo e do amor-próprio, para depois sentir o desejo de procurar um caminho que o leve à Iluminação.
 
(...) Desde o mais remoto passado, sendo condicionados por seus próprios atos e iludidos por dois fundamentais falsos conceitos, os homens têm vagado na ignorância. Primeiro, acreditavam que a mente discriminadora, que fica à base desta vida de nascimento e morte, fosse a sua verdadeira natureza; e, segundo, não sabiam que, oculta pela mente discriminadora, eles possuíam a mente pura da iluminação, que é a sua verdadeira natureza. O movimento de fechar o punho e levantar o braço é percebido pelos olhos e é discriminado pela mente, mas a mente que o discrimina não é a mente verdadeira. A mente discriminadora é apenas a mente que discrimina as imaginárias diferenças que a cobiça e outras disposições do ego criaram. A mente discriminadora está sujeita às causas e condições, ela é vazia de toda substância e está em constante mudança. Mas desde que os homens acreditam que esta é a sua verdadeira mente, a ilusão passa a ser parte integrante das causas e condições que produzem sofrimento. A mão se abre e a mente percebe; mas o que é que se move primeiro? Será a mente ou será a mão? Ou nem uma e nem outra? Se a mão se move, a mente, em correspondência, também se move e vice-versa; mas a mente que se move é apenas aparência superficial da mente: não é a mente verdadeira e fundamental.

(...) Fundamentalmente, todos possuem uma mente pura, mas, habitualmente, ela é toldada pela corrupção e pelo lodo dos desejos mundanos que surgem das circunstâncias peculiares a cada um. Esta mente corrompida não é a verdadeira essência de cada um: é algo que lhe foi acrescentado, como um intruso ou mesmo um hóspede numa casa.

A lua é escondida, muitas vezes, pelas nuvens, mas por elas não é movida e sua pureza permanece inturvável. Não se deve, portanto, estar iludido com o pensamento de que esta mente corrompida é a verdadeira mente.

Os homens devem sempre se lembrar deste fato e empenhar-se em despertar a pura, a imutável e fundamental mente da iluminação. Sendo dominados por uma constante e corrompida mente e sendo deludidos por suas deturpadas ideias, eles erram num mundo de delusões.

As confusões e os aviltamentos da mente são criados pela cobiça, bem como pelas reações às suas mutáveis circunstâncias.

A mente que não é perturbada pelas coisas que acontecem, que permanece pura e serena em todas as circunstâncias, é a verdadeira mente e senhor... Aquilo que muda com as cambiantes condições não é a verdadeira natureza da mente.
 
(...) Por trás dos desejos e paixões mundanas que a mente abriga, acha-se latente, clara e incorruptível, a fundamental e verdadeira essência da mente.(...) Se os homens pudessem abandonar seu apego a estas imaginárias e falsas discriminações, e restituir a pureza à sua mente original, então, poderiam ter a mente e o corpo livres de todo aviltamento e sofrimento e gozar da tranquilidade que advém desta libertação.

 
BUDA
Fonte:pensarcompulsivo

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