O DESEJO DO PODER
"Se quiser por à prova o caráter de um homem.
dê-lhe poder". (Abraham Lincoln)
Como
é estranho o desejo de poder, o poder do dinheiro, do prestígio, da capacidade,
do conhecimento. Entretanto, uma vez alcançado, o poder acarreta conflito,
confusão e sofrimento.
Do
eremita ao político, da dona-de-casa ao cientista, todos almejam o poder. E
para alcançá-lo não hesitariam em matar ou destruir uns aos outros. O asceta
conquista o poder por meio do sacrifício, do controle e da repressão; o
político através de promessas, da capacidade de realização e da esperteza; o
marido e a esposa mediante a dominação mútua; o sacerdote através do
compromisso assumido com seu deus.
Todos
anseiam pelo poder, seja ele mundano, seja espiritual, e a autoridade que dele
emana gera conflito, desordem e sofrimento. Todos os que buscam ou detêm o
poder da autoridade são por ele corrompidos.
O
poder exercido pelo sacerdote, pela dona-de-casa, pelo líder, pelo eficiente
administrador, pelo santo, ou pelo político local, é nocivo e prejudicial;
quanto maior o poder, mais nefasta sua ação. O mal que ele produz contamina a
quantos que, fascinados, passam a adorá-lo, apesar de trazer em seu bojo eterno
conflito, dor e confusão. No entanto, ninguém ousa abandoná-lo.
Junto
com o poder, vem a ambição, o desejo de fama e a crueldade, comportamento que a
sociedade aprova e chega a incentivar. Esse comportamento, exaltado socialmente
e até pela igreja, desvirtua e aniquila o amor.
Estimula-se
a inveja e a competição, origem do medo, da guerra e do sofrimento, mas homem
algum atreve-se a questionar aqueles valores.
A
rejeição de qualquer forma de poder é o princípio da virtude e da lucidez, que
elimina todo conflito e dor. O fim do sofrimento humano está na investigação e
na compreensão do desejo e do pensamento, tarefa primordial de cada um de nós.
Devemos
empreender esta tarefa sozinhos, sem ajuda de ninguém, sem seguir sistema
algum, sem almejar recompensa, pois uma vez conscientes da estrutura de nosso
ser, na percepção do que é, o fato se transforma.
Eliminado
o desejo de poder, a confusão, o conflito e a dor, resta-nos aquilo que somos:
um amontoado de memórias e uma crescente solidão. O desejo de poder e fama é
uma fuga desta solidão, que emerge das cinzas da memória.
Para
que se revele a verdade contida na solidão e nas cinzas da memória, deve ser
espontâneo e absoluto o abandono do desejo de poder e fama. Da passiva
observação do fato, sem escolha, nasce uma realidade nova.
Somente
o amor torna possível o convívio, nunca o apego. Necessitamos de uma tremenda
energia para convivermos com as ruínas da solidão e esta energia só pode nascer
quando já não existir o temor.
Das
cinzas da solidão surge o movimento original do estar só, livre de influências,
de pressões, de toda forma de busca ou realização. É a morte do passado.
Inicia-se então a viagem sem fim pelo desconhecido. E do que é imensurável
nasce a força pura da criação.
Krishnamurti
"O poder infinito de Deus não está na tempestade, mas na brisa". (Rabindranath Tagore)
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