Translate

quarta-feira, 20 de julho de 2016

É FUNDAMENTAL 
UM ESTADO INICIAL DE DESERTO


Pergunta: O vosso ensino de que moral alguma é necessária não será cheio de perigo para os jovens que não houverem ainda estabelecido qualquer ideia sobre a sua meta?

Krishnamurti: Quando digo que moral alguma é necessária, não quero dizer que vos deveis abandonar às indulgências. O que pretendo acentuar é a distinção entre a moral e a vida, ou antes, entre a percepção das coisas e a consciência. A pessoa “moralmente limitada” é para mim, aquela que se atemoriza de entrar na corrente da vida. Hesita a todo o momento colocada sobre a riba. O homem que realmente procura a verdade imerge e, portanto, alcança a outra margem. No fim de contas, quem é que vos pode dizer o que é moral e o que é imoral a não ser a vossa própria experiência? É isto o que todos os jovens estão fazendo no mundo neste momento. Eles querem buscar as coisas por si mesmos. É verdade que existe caos nas suas experiências e que o abandono das antigas disciplinas conduz frequentemente à licença. Não são, porém, também, caóticas as vossas vidas — vós que tão moralizados sois, de lábios limpos e feições carrancudas? A vida é, como frequentemente o tenho dito, um processo de crescimento. E, portanto, a vida que ultrapassa as limitações da moral jamais pode encontrar satisfação na autoindulgência. Se pensais que o alijamento da moral significa indulgência, experimentai — e verificareis dentro em pouco que a constante voz da intuição, que é a voz da vida, vos impele para trás. A espiritualidade de reflexo que haveis estabelecido nata tem que ver com a vida. Se por detrás dela vos abrigardes, estareis vivendo em vossas próprias ilusões. E se alguém vos apontar isto ficareis com os lábios ainda mais cerrados, a garganta mais abafada e mais endurecidos nos vossos absurdos intelectuais.

Pergunta: Após haver assistido aos dois Acampamentos precedentes e alcançado uma verificação da meta, desembaracei-me dos auxílios externos para atingir a felicidade. Um sentimento de incerteza interna e de solidão persiste, porém, por vezes; mesmo os afetos parecem terem secado e no entanto, por esforço algum de vontade posso eu modificar esta condição. Tudo que me é dado fazer é tentar deixar de lado os costumes, levando, tanto quanto posso de perfeição, à ação na vida diária. E no entanto persiste a desolação do coração. Como posso eu obter alívio para esta condição? Estarei por acaso sustentando um bom método? Este parece ser o problema geral de muitos com quem hei falado.       

Krishnamurti: É preciso haver um estágio inicial no qual vossa mente e coração estejam como um deserto. Vacuidade não é negação. Ela é necessária se quiserdes abrir espaço para plantar coisas de verdadeiro merecimento. Se estiverdes solitários e os vossos afetos fenecerem, significa isto que estais sofrendo; e do sofrimento provém o afeto, a alegria e o impulso para crescer. Crede-me, estais em uma condição muito mais feliz do que a do homem que se sente perfeitamente à vontade e contente com as coisas exteriores.    


 
Krishnamurti
 
 
 
 
Não estamos acostumados com desertos, com lugares isolados e calmos... podemos até ficar um pouco, porém, na maioria das vezes, nos sentimos entediados... uma força maior nos puxa para o movimento, para a conversação, para a ação que os veículos de comunicação nos oferece... como podemos abraçar a espiritualidade se a mente está no comando? Diz um amigo que Deus vem bater à nossa porta todos os dias, uma batida meiga, quase silenciosa, por isso não O escutamos e não abrimos a nossa porta para Ele. Estamos tão ocupados com as coisas mundanas - essas, sim, falam alto - que o silêncio e a calma nos perturbam. Necessitamos caminhar um pouco mais pelo deserto, ouvir a voz do silêncio e criar "uma condição muito mais feliz do que a do homem que se sente perfeitamente à vontade e contente com as coisas exteriores". KyraKally
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário