O AMOR ALÉM DA ILUSÃO
O Afeto Verdadeiro Não
Depende de Recompensas
Parte I
O
amor verdadeiro é tão difícil de encontrar como a própria sabedoria.
Talvez, afinal de contas, este seja o objetivo da sabedoria, e talvez o
amor seja algo que só pode ser obtido através da sabedoria?
Pelo menos, embora seja
tema de conversas por todo lado e seja buscado por jovens e velhos, o
amor evita os seus buscadores mais ardentes e parece favorecer os seus
candidatos mais improváveis. No entanto, todos os que sabem o que é um
amor verdadeiro e durável têm certas qualidades em comum. Idade, sexo,
características sociais e raciais, educação e condições econômicas não
alteram o fato central de que aqueles que amam profundamente têm
naturezas fortes e generosas, e se caracterizam por grande integridade,
honestidade, sinceridade e altruísmo.
Pode ser o amor entre os pais e a criança, entre o homem e a esposa, ou entre o irmão e a irmã. E pode ser o amor de uma amizade duradoura ou a relação entre o mestre e o discípulo. Aqueles que amam podem viver na mesma casa ou no outro lado do globo terrestre; ou o amor pode ser dirigido a alguém muito distante no tempo, que é reconhecido apenas através da corrente que flui pela palavra escrita. O contato pode ser estreito e frequente, raro e imprevisível, ou completamente intangível. O amor, quando é a energia dominante, não pode ser limitado por condição alguma: ele domina o tempo, o espaço, a mente e a matéria.
É comum associar o amor com as emoções, e de vez em quando com a mente, algumas vezes com a alma - embora esta última seja descrita de forma vaga. A emoção do amor foi completamente examinada pelos especialistas em psicologia de vários séculos, e cada geração a investiga novamente. Na verdade, o investigador individual pode repetir muitas vezes na mesma encarnação a sua rendição impulsiva ao “amor”, aparentemente sem determinar de modo satisfatório para si mesmo qual é a sua verdadeira natureza. O sonho de uma emoção vitoriosa de amor é o ingrediente principal de muitas novelas, contos e romances populares e, indiretamente, o leitor continua a buscar pelo prêmio que ainda fascina mas nunca é alcançado.
A História e a experiência estão longe de haver demonstrado que o êxtase emocional é um começo inteligente para a exigente relação do casamento. Além disso, tem havido exemplos surpreendentes de casamentos felizes que não ocorreram através de preferências pessoais, mas para satisfazer necessidades muito diferentes. No entanto, a ideia de recomendar que o casamento tenha como razões primordiais o dever e a responsabilidade seria pouco aplaudida entre os povos ocidentais. Os norte-americanos, especialmente, parecem sentir que a busca da felicidade (seu direito inalienável e, ao mesmo tempo, o seu esforço mais desesperado) consiste - principalmente, se não exclusivamente - em “assumir os riscos da loteria, já que há muito mais alvos do que prêmios”, como H. P. Blavatsky assinalou certa vez. Hoje, quando uma estimativa calcula que setenta e cinco por cento dos casamentos norte-americanos terminam em divórcio, só podemos ficar surpresos com a força de uma superstição que é mantida por resultados tão pouco favoráveis.
Que outro tipo de amor existe?
Devemos considerar as intensidades ilusórias da paixão, que às vezes escondem o desejo puramente egoísta de conquista e posse? Neste caso o “amor” não é garantia de que não haverá ódio e crueldade em relação ao objeto de tais “afetos”.
Devemos incluir os casos de simples paixões tolas e de fantasias capazes de apagar todas as considerações racionais? Com que base, já que emoções primariamente irracionais não podem beneficiar intencionalmente nem os seus sujeitos, nem os seus objetos? A filosofia, propriamente falando, lida apenas com as atitudes da mente; com questões sujeitas ao pensamento e que se supõe que serão melhoradas por um tipo diferente de pensamento, por uma outra atitude mental. O mistério do amor é dificilmente percebido por aqueles que não se perguntam sobre a sua origem, não examinam o seu poder, e não tentam através da imaginação e da vontade erguer o seu amor até a potência mais elevada.
Pode ser o amor entre os pais e a criança, entre o homem e a esposa, ou entre o irmão e a irmã. E pode ser o amor de uma amizade duradoura ou a relação entre o mestre e o discípulo. Aqueles que amam podem viver na mesma casa ou no outro lado do globo terrestre; ou o amor pode ser dirigido a alguém muito distante no tempo, que é reconhecido apenas através da corrente que flui pela palavra escrita. O contato pode ser estreito e frequente, raro e imprevisível, ou completamente intangível. O amor, quando é a energia dominante, não pode ser limitado por condição alguma: ele domina o tempo, o espaço, a mente e a matéria.
É comum associar o amor com as emoções, e de vez em quando com a mente, algumas vezes com a alma - embora esta última seja descrita de forma vaga. A emoção do amor foi completamente examinada pelos especialistas em psicologia de vários séculos, e cada geração a investiga novamente. Na verdade, o investigador individual pode repetir muitas vezes na mesma encarnação a sua rendição impulsiva ao “amor”, aparentemente sem determinar de modo satisfatório para si mesmo qual é a sua verdadeira natureza. O sonho de uma emoção vitoriosa de amor é o ingrediente principal de muitas novelas, contos e romances populares e, indiretamente, o leitor continua a buscar pelo prêmio que ainda fascina mas nunca é alcançado.
A História e a experiência estão longe de haver demonstrado que o êxtase emocional é um começo inteligente para a exigente relação do casamento. Além disso, tem havido exemplos surpreendentes de casamentos felizes que não ocorreram através de preferências pessoais, mas para satisfazer necessidades muito diferentes. No entanto, a ideia de recomendar que o casamento tenha como razões primordiais o dever e a responsabilidade seria pouco aplaudida entre os povos ocidentais. Os norte-americanos, especialmente, parecem sentir que a busca da felicidade (seu direito inalienável e, ao mesmo tempo, o seu esforço mais desesperado) consiste - principalmente, se não exclusivamente - em “assumir os riscos da loteria, já que há muito mais alvos do que prêmios”, como H. P. Blavatsky assinalou certa vez. Hoje, quando uma estimativa calcula que setenta e cinco por cento dos casamentos norte-americanos terminam em divórcio, só podemos ficar surpresos com a força de uma superstição que é mantida por resultados tão pouco favoráveis.
Que outro tipo de amor existe?
Devemos considerar as intensidades ilusórias da paixão, que às vezes escondem o desejo puramente egoísta de conquista e posse? Neste caso o “amor” não é garantia de que não haverá ódio e crueldade em relação ao objeto de tais “afetos”.
Devemos incluir os casos de simples paixões tolas e de fantasias capazes de apagar todas as considerações racionais? Com que base, já que emoções primariamente irracionais não podem beneficiar intencionalmente nem os seus sujeitos, nem os seus objetos? A filosofia, propriamente falando, lida apenas com as atitudes da mente; com questões sujeitas ao pensamento e que se supõe que serão melhoradas por um tipo diferente de pensamento, por uma outra atitude mental. O mistério do amor é dificilmente percebido por aqueles que não se perguntam sobre a sua origem, não examinam o seu poder, e não tentam através da imaginação e da vontade erguer o seu amor até a potência mais elevada.
Exceto no caso das suas expressões mais elevadas, talvez o amor seja como o “Grande Enganador” descrito figurativamente em “A Voz do Silêncio”[1].
Três
Salões devem ser percorridos, segundo aquela obra, antes que a “grande e
terrível heresia da Separatividade” seja superada por completo.
Primeiro, o Salão da Ignorância, que é atravessado em segurança quando a
mente já não confunde “os fogos da luxúria que ardem ali com a luz do
sol da vida”. Depois há o Salão do Aprendizado. Nele o neófito encontra
as flores da vida, “mas sob cada flor haverá uma serpente enroscada”, e
ele é aconselhado:
“Os
SÁBIOS não se demoram nas regiões prazenteiras dos sentidos. Os SÁBIOS
não dão atenção às vozes encantadoras da ilusão. Busca por aquele que
te fará nascer no Salão da Sabedoria, o Salão que está mais além. Nele
todas as sombras são desconhecidas, e a luz da verdade brilha com uma
glória que jamais perde sua força.”
O
Salão do Aprendizado é o lugar da provação da alma. É o perigoso reino
de Mara, no qual existe a luz enganosa do conhecimento parcial. Nele
deve ser enfrentada e vencida “a fascinação que o vício exerce sobre
certas naturezas”. A radiação ilusória lança sobre a tela mental a
escuridão de imagens incertas e os demônios zombeteiros do pensamento
inseguro. “Ela domina os sentidos, cega a mente, e deixa o imprudente
abandonado e destruído.” A saída está no caminho que leva à integridade
da mente e ao conhecimento da alma.
Só
a alma, a força interior, pode suportar a guerra sutil de atrito que é
promovida por Mara. As ilusões aparecem e desaparecem, assim como falsas
crenças se desintegram e aparentes verdades explodem. A mente tem
necessidade de verdades que pertencem a um plano situado acima da
ilusão, que crescem desde a origem do Ser e não dependem de condições ou
bases pessoais. Por acaso não é um fato que certas verdades entram
diretamente na consciência, e transmitem uma experiência interior tão
clara que elas parecem ter sido conhecidas desde sempre? Por exemplo,
existe a impressão de que a ideia de ser deixado sozinho, sem a
companhia de pelo menos um outro ser humano, é fundamentalmente
rejeitada no nível mais profundo do coração humano. Isso não deve ser
superficialmente rotulado como medo da solidão, como um medo de si
mesmo, ou como o resultado de uma consciência culpada. Na verdade, esta
é a esmagadora compreensão de que o princípio da fraternidade é natural para a alma - por mais precária que seja a forma externa pela qual o ser humano vive este princípio.
Theosophy
NOTAS:
[1]
No seu Fragmento I, ou primeira parte, “A Voz do Silêncio”, de Helena
Blavatsky, se refere ao “Grande Enganador” ou “Mara”. (N. do Trad.)
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