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domingo, 3 de julho de 2016

O AMOR ALÉM DA ILUSÃO

Parte II 
 
 
Aqui chegamos a outro aspecto do amor. Ou talvez a fraternidade, na verdade, constitua a essência do amor.
 
A Fraternidade, em última instância, é a convicção inabalável de que cada vida e cada alma têm uma relação e uma identidade com todas as outras. A Fraternidade é o conhecimento do “ponto de acordo” entre todos os seres, e através do qual todos compartilham da Alma Universal.  Se poderia dizer que quando o amor existe por si mesmo, sem a expectativa de recompensa ou reciprocidade, sem referência a qualidades particulares e portanto sem ser ameaçado por defeitos pessoais, ele é fraternidade pura e simples.  Um tal amor é, evidentemente, uma sabedoria.  Ele é intocado pelos pares de opostos. Ele não é ameaçado pela ação, pelo resultado da ação, ou por desejos. Ele mantém o prumo perfeito da equanimidade, que é a perfeição da habilidade na realização das ações. Ele é a intenção que dá forma à ação correta.
 
Como pode ser obtida a sabedoria do amor? Ela é obtida do modo como sempre se alcança a sabedoria. Ela é obtida por aquele que se torna digno dela.
 
O Carma, a lei da ação, regula este processo assim como regula todas as coisas. Um amor mais sábio não é obtido pela inação, nem é dado pelo capricho ou pelo acaso. Desrespeitar em nome do amor a integridade de outra pessoa, ainda que a outra pessoa não se oponha a isso e não veja a paralisação da sua própria vontade, é trair a fraternidade humana e negar a si mesmo o poder elevado do verdadeiro amor. Manchar ou tornar cega a compaixão, insistindo em que o amor deve ser homenageado, recompensado ou admirado, é selecionar para o futuro individual o sofrimento de uma paixão exigente. O amor, a fraternidade e a compaixão não podem ser ensinados, mas podem ser aprendidos.
 
Os paradoxos são úteis quando descrevemos o intangível, porque eles dissolvem as definições rígidas e sugerem uma realidade mais inclusiva.  Assim, o amor, que parece ser intensamente pessoal, se torna com frequência maior e mais invencível quando é verdadeiramente impessoal. O “coração de criança”, a confiança dada tão livremente pelo ser humano não sofisticado, é encontrado também naqueles em quem a sabedoria está estabelecida, cuja visão não tem véus, aqueles que conhecem o bem e o “mal” e permanecem imperturbados por qualquer coisa que ocorra.
 
Há uma impressão de que aqueles que estão “apaixonados” sabem pouco sobre o amor, simplesmente porque não podem ficar à parte e compreender que o amor é uma energia a ser dirigida conscientemente.
 
Assim como a vontade, o amor é uma força sem cor determinada, que assume o seu caráter conforme as motivações daquele que o vive. O amor não é uma desculpa, não é uma razão, não é uma justificação e tampouco é uma causa. Ele é uma energia que pode ser colocada em ação em qualquer plano, através de qualquer um dos princípios ou instrumentos da consciência humana.  Dependendo de do plano ou estado de consciência em que o Eu está agindo, esta energia pode ser de união ou destruição.
 
O amor, quando real, puro e profundo, tem sido para muitos uma antecipação da imortalidade, e, de certo modo, uma evidência de que há uma alma que não morre.  Teosoficamente isso também significa uma evidência da reencarnação. A doutrina do renascimento é a única explicação das afinidades - sejam casuais ou dominantes - que emergem com toda força nas vidas das pessoas e produzem amor ou ódio contrariando aparentemente o que elas querem e desejam. O amor e o ódio, na filosofia da reencarnação, são as grandes forças de atração que reúnem, uma e outra vez, amigos e inimigos do passado.
 
Porém, tanto o amor quanto o ódio, como opostos, devem desaparecer, porque “se um indivíduo trabalha, ainda que indiretamente, para si mesmo e de modo parcial, ele se torna nesta mesma medida um mago antievolucionista”.
 
H. P. Blavatsky distingue o real do parcial da seguinte maneira:
 
“O amor puro e divino não é apenas o fruto de um coração humano, mas tem sua origem na eternidade. O amor espiritual e sagrado é imortal, e o Carma  faz com que, cedo ou tarde, todos os que se amaram com afeto espiritual nasçam no mesmo grupo familiar. Nós dizemos novamente que o amor além da morte, ainda que possa ser chamado de ilusão, tem uma potência mágica e divina que reage sobre os vivos . . . . Ele se manifesta nos seus sonhos, e frequentemente em vários acontecimentos - em proteção e fatos providenciais,  porque o amor é um escudo forte, e não é limitado por espaço ou tempo.”
 
O laço cármico da afeição espiritual  talvez vá criar famílias cujos membros são fraternalmente devotados a viver a vida mais elevada e a seguir “a doutrina do coração”.  Os casais em que o amor de um pelo outro abre em certa medida o “terceiro olho” irão encontrar na vida cotidiana correspondências e analogias com a raça etérea dos Filhos nascidos da Mente, e começarão a sentir a força de uma profecia teosófica dada em “A Doutrina Secreta”. [2]
 
As crianças que crescerem na presença de um amor que é verdadeiramente “a luz do sol da vida” irão assimilar mais decididamente o carma da sua hereditariedade e do seu ambiente, e compreenderão mais cedo a função das afinidades na evolução da alma. 
 
Uma família cujo ideal é a afeição espiritual jamais se desintegrará. Ela permanece como um núcleo de incontáveis ramificações e relacionamentos, cujo denominador comum é o impulso em direção à fraternidade: ela é um “movimento teosófico”, com potencialidades incalculáveis do ponto de vista do progresso da humanidade. 
 
 
Theosophy
 
 
NOTAS:  
 
[2] “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, volume II, p. 415.
 
 

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