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sábado, 18 de abril de 2015

SOBRE OS ESTADOS DE 
CONSCIÊNCIA DO HOMEM

Nenhum de vocês notou a coisa mais importante para a qual tenho chamado a sua atenção, ou seja, nenhum de vocês notou que vocês não se lembram de si mesmos. Vocês não sentem a si mesmos; não estão conscientes de si mesmos. De acordo com vocês, 'algo observa', assim como 'algo fala', 'algo pensa', 'algo ri'. Vocês não sentem: eu observo, eu noto, eu vejo. Tudo ainda 'é notado', 'é visto'. A fim de realmente observar, o indivíduo deve, antes de mais nada, lembrar de si mesmo."

Nem as funções psíquicas nem as funções físicas do homem podem ser compreendidas, a menos que se tenha aceito o fato de que ambas podem atuar em estados diferentes de consciência. Ao todo há quatro estados de consciência no homem. Mas o homem comum, isto é, o homem número um, número dois e número três, só vive nos dois estados mais inferiores de consciência. Os dois estados mais elevados de consciência lhe são inacessíveis, embora possa ter vislumbres desses estados, é incapaz de compreendê-los e julga-os a partir do ponto de vista daqueles estados em que, habitualmente, permanece.

Os dois estados de consciência comuns, isto é, os mais inferiores, são, primeiro, o sono, ou seja, o estado passivo no qual o homem passa a terça parte e, muitas vezes, a metade de sua vida. E, segundo, o estado no qual os homens os homens passam a outra parte de suas vidas, no qual caminham pelas ruas, escrevem livros, discutem assuntos elevados, participam da política, matam-se uns aos outros; um estado que eles consideram ativo e chamam de 'consciência límpida' ou 'estado desperto de consciência' parece ter sido dada por brincadeira, especialmente quando se percebe o que deveria ser, na realidade, uma consciência límpida e qual é realmente o estado no qual o homem vive e age. 

O terceiro estado de consciência é a lembrança de si mesmo, a autoconsciência ou consciência do próprio ser. É comum considerar que temos esse estado de consciência ou que, se o desejarmos, poderemos tê-lo. Nossa ciência e nossa filosofia não se deram conta do fato de que não temos esse estado de consciência e de que não podemos criá-lo em nós mesmos simplesmente por um desejo ou decisão nossa. 

O quarto estado de consciência chama-se o estado objetivo de consciência. Nesse estado, o homem pode ver as coisas como elas realmente são. Vislumbres desse estado de consciência também ocorrem no homem. Nas religiões de todas as nações há indicações da possibilidade de um estado de consciência desse tipo, que é chamado de 'iluminação' e de vários outros nomes, mas que não pode ser descrito em palavras. No entanto, o único caminho real para a consciência objetiva é através do desenvolvimento da autoconsciência. Se um homem comum for artificialmente conduzido a um estado de consciência objetiva e, mais tarde, for trazido de volta ao seu estado habitual, ele não se lembrará de nada e pensará que, por um momento, perdera a consciência. No estado de autoconsciência, porém, o homem pode ter vislumbres da consciência objetiva e relembrá-los. 

No homem, o quarto estado de consciência significa um estado de ser completamente diferente; é o resultado de um crescimento interior e de um longo e difícil trabalho consigo mesmo. 

O terceiro estado de consciência, contudo, constitui o direito natural do homem tal como ele é e, se o homem não o possuí, isso se deve apenas às condições impróprias de sua vida. Pode-se afirmar, sem nenhum exagero, que, na época atual, o terceiro estado de consciência só se manifesta no homem sob a forma de vislumbramento muito raros e que só pode se tornar mais ou menos permanente nele mediante um treinamento especial. 

Para a grande maioria das pessoas, mesmo cultas e intelectuais, o principal obstáculo no caminho da aquisição da autoconsciência está no fato de pensarem que elas o possuem, isto é, que possuem a autoconsciência e tudo que se relaciona com ela; a individualidade no sentido de um eu permanente e imutável, a vontade, a capacidade de fazer e assim por diante. É evidente que um homem não ficará interessado se você lhe disser que ele poderá adquirir, através de um longo e difícil trabalho, uma coisa que, na opinião dele, ele já possui. Pelo contrário, pensará que você ou ficou louco ou quer enganá-lo com vista a algum lucro pessoal. 

Os dois estados de consciência mais elevados, — a 'autoconsciência' e a 'consciência objetiva' — estão relacionados com o funcionamento dos centros superiores no homem. 

Além desses centros que falamos até agora, há dois outros centros no homem, o 'emocional superior' e o do 'pensamento superior'. Esses centros estão em nós; eles se encontram completamente desenvolvidos e atuam o tempo todo, mas sua atividade não consegue alcançar a consciência comum. A causa disso reside nas propriedades especiais de nossa suposta 'consciência límpida'.

 
 
 
Gurdjieff
 
 
 
 
Todos esses estados de consciência encontram-se como se estivessem em uma grande peneira e nós como garimpeiros - pedras preciosas, semipreciosas, pedras comuns, entulhos, areia, pedras confundidas com ouro, com diamantes, etc... Necessitamos identificar as verdadeiras 'pedras preciosas' e, para isso é requerida experiência, que resulta de uma visão apurada e um ótimo orientador, mestre, como queiramos chamar. Existirá sempre alguém muito valioso no caminho de cada um, que segurará a tocha acesa para que, aos poucos, enxerguemos e compreendamos cada passo adiante. As informações estão aí e chegam até nós à medida que vamos abrindo espaço para elas." ...é o resultado de um crescimento interior e de um longo e difícil trabalho consigo mesmo". Nada vem até nós gratuitamente. Não se aprende no paraíso, apenas nos recuperamos. Aprendemos, sim, na agitação desse movimento intenso da vida material, entendendo que ao chegarmos nada trouxemos e ao partir nada levaremos desse mundo. KyraKally

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