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quinta-feira, 2 de abril de 2015

QUEREMOS ESCAPAR DA DOR DA VIDA POR MEIO DA ESTUPIDEZ


Como somos insensíveis, como faltam as respostas 
ágeis e adequadas, como somos pouco livres para observar! Sem sensibilidade, como pode haver receptividade, 
um entendimento livre de esforço? O próprio esforço 
 impede o entendimento. O entendimento vem com uma elevada sensibilidade, mas a sensibilidade não é uma coisa 
a ser cultivada. Aquilo que é cultivado é a pose, a aparência superficial, artificial; e esse revestimento não é sensibilidade, 
é um maneirismo, superficial ou profundo, 
de acordo com as influências. 

Sensibilidade não é um efeito cultural, resultado da influência; é o estado de estar vulnerável, aberto. O aberto é o implícito, 
o desconhecido, o imponderável. Mas somos cuidadosos para 
não sermos sensíveis; é doloroso demais, exige demais, 
requer constante ajuste, o que é consideração. 
Considerar é ser atento; mas nós preferimos 
ser consolados, anestesiados, tornados estúpidos. 

Os jornais, as revistas, os livros, por meio de nosso 
vício de leitura, imprimem sua marca embotadora; 
pois ler é uma fuga maravilhosa, como o álcool ou os rituais. Queremos escapar da dor da vida e a estupidez é o modo 
mais eficaz: o embotamento produzido pelas explicações
 por seguir um líder ou um ideal, por ser identificado com alguma realização, algum rótulo ou característica. 
A maioria de nós quer ser tornada estúpida, 
o hábito é muito mais eficaz para anestesiar a mente.  
Hábito da disciplina, da prática, do esforço sustentado 
para ser algo — são modos respeitáveis de se tornar insensível.

“Mas o que se poderia fazer na vida sendo sensível? 
Nós todos murcharíamos e não haveria ação efetiva.”
O que os estúpidos e os insensíveis trazem para o mundo? 
Qual é o resultado de sua ação “efetiva”? Guerras, 
confusão interna e externa, crueldade e maior sofrimento
 para si mesmos e para o mundo. A ação do desatento leva à destruição, à insegurança física, à desintegração. 

Mas a sensibilidade não surge facilmente; ela é o entendimento do simples, o que é altamente complexo. Não é um processo 
de recolhimento, de atrofiamento, de isolamento. 
Atuar com sensibilidade é estar atento ao processo 
total do atuante.“Entender o processo total de mim mesmo levará um longo tempo, e enquanto isso meus negócios serão arruinados e minha família morrerá de fome”.

Sua família não morrerá de fome; mesmo que você não 
tenha economizado dinheiro suficiente, é sempre possível providenciar para que eles sejam alimentados. 
Seus negócios, indubitavelmente, irão à ruína; mas a desintegração em outros níveis da existência já acontece. 
Você está preocupado somente com a desintegração externa, não quer ver ou saber o que se passa no interior de si mesmo. Você negligência o interior esperando construir no exterior; mas o interior está sempre superando o exterior. 
O exterior não pode durar sem a totalidade do interior; mas esta não é a sensação repetitiva da religião organizada nem o acúmulo de fatos chamado conhecimento. 

O caminho de todas essas buscas internas precisa ser entendido para o exterior sobreviver, para ser saudável. Não diga que você não tem tempo, pois você tem tempo suficiente; 
não é uma questão de falta de tempo, mas de negligência
 e falta de vontade. Você não tem riqueza interior, 
pois quer a gratificação das riquezas interiores, 
como já possui as exteriores. 

Você não está em busca de recursos para alimentar a sua família, mas da satisfação de possuir. O homem que possui, 
seja propriedade ou conhecimento, nunca pode ser sensível,
ele nunca pode ser vulnerável ou aberto. Possuir é se tornar estúpido, quer seja a posse da virtude ou dinheiro. 
Possuir uma pessoa é não perceber aquela pessoa; 
buscar e possuir a realidade é negá-la. Quando você tenta tornar-se virtuoso, não é mais virtuoso; sua busca da virtude é somente a obtenção da gratificação em um nível diferente. Gratificação não é virtude, mas virtude é liberdade.

Como o estúpido, o respeitável, o não virtuoso pode ser livre? 
A liberdade da solidão não é o processo fechado do isolamento. Estar isolado na riqueza ou na pobreza, no conhecimento 
ou no sucesso, na ideia ou na virtude, é ser estúpido, insensível. O estúpido e o respeitável não podem estar em união e, quando o fazem, é com suas próprias projeções. 

Para estar é comunhão é preciso que haja sensibilidade, vulnerabilidade, a libertação ao tornar-se algo, que é a libertação do medo. O amor não é um tornar-se algo, 
um estado de “eu serei”. Aquilo que se está tornando 
não pode estar em comunhão, pois está sempre se isolando. 
O amor é o vulnerável; o amor é o aberto,
 o imponderável, o desconhecido.



Krishnamurti





Quando Jesus disse: "... Deixai tudo e Me siga... " Ele não só estava se referindo ao apego pelos bens materiais, como também a todos os outros apegos abstratos, aqueles que não conseguimos ver a olhos nus, pois esses são mais perigosos, tais como poder, erudição e muito mais... Enquanto estivermos atados a esses estados seremos sempre estúpidos. O 'conhecido' não tem mais serventia, precisamos buscar o desconhecido. Necessitamos, sim, estar em comunhão com este manancial de amor, este universo imenso e imponderável que nós resumimos em uma só palavra "DEUS". Para que isso aconteça temos que estar nus, retirar todos os entulhos, essas vestes de conhecimento, poder, erudição... como repetem aqueles que, certamente, O encontraram: "Temos que voltar a ser criança", pois a inocência é uma ferramenta imprescindível para esse fim. KyraKally




 


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