Translate

sábado, 25 de abril de 2015

SOBRE A FUGA DA INTIMIDADE

Já reparou?

É mais fácil ser verdadeiro com os estranhos. 
As pessoas que viajam de comboio começam a falar
 com estranhos e contam coisas que nunca contaram 
aos amigos, porque, com um estranho, não se sentem envolvidas. Meia hora mais tarde, chegam ao seu destino 
e saem; esquecem e o estranho esquecerá tudo aquilo que lhe contaram. Por isso nada do que lhe disseram tem qualquer importância. Não se correm riscos com um estranho.

Ao falar com estranhos, as pessoas são mais verdadeiras
 e revelam o seu coração. Mas ao falar com os amigos, 
com os familiares — pai, mãe, mulher, marido, irmão, irmã — há uma profunda inibição inconsciente. «Não digas isso, ele pode ficar magoado. Não faças isso, ela pode não gostar. 
Não te comportes dessa maneira, o pai é velho, 
pode ficar chocado.» Então a pessoa continua a controlar-se. 
e pouco A pouco, a verdade cai na cave do seu ser 
e ela torna-se muito esperta e astuciosa com o não verdadeiro.

Continua a fazer falsos sorrisos, que não passam 
de pinturas nos lábios. Continua a dizer coisas simpáticas
 sem qualquer significado. Começa a sentir-se aborrecida
 com o namorado ou com os pais, mas continua a dizer: 
«Estou muito contente por te ver!» Enquanto isso, 
todo o seu ser diz: «Agora deixa-me em paz!» 
Mas verbalmente continua a fingir. E os outros também
 estão a fazer a mesma coisa; ninguém se apercebe 
de que estamos todos no mesmo barco. 

Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos.

A intimidade aproxima-o de um estranho. 
Tem de deixar cair todas as suas defesas; 
só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que 
se deixar cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho lhe poderá fazer. 
Todos nós andamos a esconder mil e uma coisas, 
não só dos outros mas de nós próprios, 
porque fomos criados por uma humanidade doente
 com toda a espécie de repressões, inibições e tabus. 
E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza nunca desaparece —, parece 
mais seguro manter uma ligeira defesa, uma pequena distância, porque alguém se poderá aproveitar das suas fraquezas,
 da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade.

Toda a gente tem medo da intimidade.
 O problema torna-se mais complicado porque todos
 querem intimidade.  Pois, de outro modo, está sozinho neste Universo — sem um amigo, sem um amante, sem ninguém 
em quem confiar, sem ninguém a quem abrir todas as suas feridas. E as feridas não saram se não forem abertas.
Ninguém sabe nada sobre o futuro. O seu céu, o seu inferno 
e o seu Deus muito provavelmente não passam de hipóteses
 não comprovadas. A única coisa que está nas suas mãos 
é a sua vida - faça dela a mais interessante possível.

Pela intimidade, pelo amor, por se abrir a muitas pessoa 
você se torna mais interessante. E se puder viver um amor profundo, uma amizade verdadeira, uma intimidade generosa com muitas pessoas, você terá vivido da melhor maneira possível, e onde quer que esteja, se tiver aprendido essa arte, viverá assim ali também, com felicidade.

Se for simples, carinhoso, receptivo, compreensivo, íntimo, 
terá criado um paraíso ao seu redor. Se for fechado, constantemente na defensiva, sempre preocupado que alguém possa perceber os seus pensamentos, os seus sonhos, as suas perversões - você estará vivendo no inferno. O inferno está dentro de você, assim como o paraíso. Eles não são lugares geográficos, 
são espaços espirituais.

Purifique-se. E a meditação não é nada além de uma limpeza 
de todo o lixo que se acumulou na sua mente. 
Quando a mente estiver em silêncio e o coração batendo,
 você estará pronto - sem nenhum medo, mas com uma grande alegria - para ser íntimo. E sem intimidade você está sozinho aqui, entre estranhos. Com intimidade você está cercado de amigos, de pessoas que o amam. A intimidade é uma experiência importante. Não se deve esquecer disso.

 
Osho


Não nos mostramos como verdadeiramente somos, mas no íntimo, bem no íntimo sabemos que é muito doloroso, trabalhoso e complicado procedermos assim. Caímos, geralmente, em contradição, pois as máscaras nos conduzem a mentira. Como poderemos manter algo, que não é verdadeiro, senão através de mentiras? É insano e traz consequências; aquelas que não desejamos confrontar. E assim vivemos e convivemos com os demais, claro, em desarmonia, numa completa tensão. Quando não somos reais vivemos estressados, amargurados, não dormimos direito, não temos paz. Tudo isso porque não nos abrimos para o outro, não somos autênticos. Ora, que importa se o outro não é? Cada um que faça sua parte. E a parte que me cabe nesse grande contexto, nesse grande conjunto 'humanidade' é viver em paz, em harmonia e permitir aqueles que me rodeiam também possam viver essa experiência. KyraKally


Nenhum comentário:

Postar um comentário