DESAPEGO, A CHAVE PARA A VERDADEIRA LIBERDADE
Sabemos que o ser humano, valendo-se do livre-arbítrio, costuma fazer
escolhas considerando em especial suas próprias necessidades e desejos
individuais. Em raros casos tem em vista a necessidade geral ou algum
aspecto do plano evolutivo, divino. Devido a isso, cria mais débitos que
créditos cármicos na vida e pouco equilibra esse estado de desarmonia,
pois não é neutro a ponto de não continuar formando vínculos.
Quem busca o caminho espiritual se dispõe à manifestação do bem, da
verdade e da beleza no próprio ser e no universo. Contudo, a mais
elevada expressão da harmonia na vida requer plena liberdade, a soltura
de todos os laços que ligam a consciência à matéria, mesmo os positivos.
Para isso, é necessário mais que boas ações equilibradoras de atos
negativos: é preciso neutralidade ao agir.
Na realidade, caminha-se para a verdadeira libertação não só praticando
o bem e assim semeando futuro promissor, pois isso produz laços
positivos. A libertação vem do desapego por tudo o que se faz, sente ou
pensa. Embora essa condição marque uma adiantada etapa de
desenvolvimento, há quem se esforce para alcançá-la, apesar de o meio
ambiente em geral instigar o envolvimento emocional e mental com o que
se passa dentro e fora das pessoas.
A aranha cria seu universo sem se atar a ele, tece sua teia sem nela se enredar. Mas o homem, ao construir sua vida sobre a Terra, comumente mistura-se nela, apega-se ao que faz e cria. É como se estivesse preso em um aposento e uma pequenina vela fosse toda a luz de que dispõe. Vê de modo difuso e faz muitas experiências em sua tão querida prisão. Tece sua teia com pensamentos, sonhos, desejos e objetivos pessoais. Assim constrói a própria vida, mesmo não conseguindo ver o verdadeiro desenho desde sempre planejado para ela. Fica emaranhado nos fios: nada aprendeu com a aranha.
Mas, em dado momento, esse tecelão ouve dentro de si a ordem de
destruir sua amada teia. É quando começa a treinar o desapego, a desatar
os laços antigos e a evitar a criação de ligações supérfluas.
Sempre que possível o destino apresenta ao ser tarefas altruístas, que
não têm em mira apenas o lado material da vida. Essa oportunidade de
desenvolvimento além do plano material, tão necessária para um indivíduo
quanto para a humanidade inteira, permite um dos passos mais
importantes para a libertação – o desinteresse pelos resultados da
própria ação, o desapego, a plena doação de si – que nos tempos
presentes tem amplas e especiais repercussões.
A vida sobre a Terra deve pulsar cristalina. Essência e forma devem
unificar-se, sendo o homem o elo para essa unificação. A dor, presente
na vida humana devido à trama das ações que devem ser equilibradas, não
mais turvará os olhos dos que se entregarem a essa essência.
A Terra transforma-se com rapidez. Os que assumiram o compromisso de
colaborar para essa transformação evolutiva descobrem em si a alegria de
servir e de doar-se. O desapego encontra neles campo fecundo, pois os
seres desapegados aprendem que a forma é efêmera e a essência,
incorruptível.
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