SOFRIMENTO SUBSTITUTO
Além do sofrimento evolutivo, que abrange toda a natureza dos seres vivos, há um sofrimento substitutivo, que é próprio da humanidade.
Onde há livre-arbítrio, pode haver, e, onde há culpa, deve haver reação em forma de pena ou sofrimento. É esta a expressão das leis cósmicas, que exigem reequilibramento de qualquer desequilíbrio.
Por isto, sofre o justo pelo pecador. O justo não desequilibrou o equilíbrio das leis cósmicas, mas, como o pecador as desequilibrou, e não as reequilibrou, deve o justo ajudar a fazer o que o injusto não fez.
É esta a justiça do Universo – a sua justeza, o seu ajustamento.
A humanidade é um todo orgânico e solidário; deve a parte justa da humanidade sofrer pelo que a parte injusta pecou.
Não há nisto injustiça. Injustiça seria, se o justo, sofrendo pelo pecador, se tornasse também pecador, o que é impossível.
A sofrência do inocente não diminui em nada o valor dele, podendo mesmo aumentá-lo. Pode o justo aumentar o seu próprio crédito, enquanto ajuda a pagar débito alheio.
A finalidade da existência do homem aqui na terra não é sofrer nem gozar, mas é realizar-se – e isto é possível tanto no gozo como no sofrimento. Gozo e sofrimento são fenômenos facultativos da vida, o necessário é somente a realização do homem, como dizia o Mestre: “Uma só coisa é necessária”.
A fim de ilustrar a possibilidade de um sofrimento substitutivo, um sofrimento por culpa alheia, sirvamo-nos da comparação seguinte:
O paladar do homem ingere veneno, por ser de sabor agradável; a consequência desta aberração (pecado) não é somente a morte do paladar, mas sim a morte do corpo todo, embora as pernas, os braços, o coração e os pulmões não sejam culpados; a organicidade do corpo implica nessa solidariedade do sofrimento.
O indivíduo humano não é um átomo isolado e separado do organismo da humanidade; é uma parte integrante dela; por isto, sofre a parte por outra parte ou pelo todo.
Nenhum homem é mau só para si – o seu ser-mau faz mal a todos.
Nenhum homem é mau só para si – o seu ser-mau faz mal a todos.
Nenhum homem é bom isoladamente – o seu ser-bom faz bem a todos.
A maldade de muitos faz mal a todos – a bondade de muitos faz bem a todos.
“Quando um único homem – escreve Mahatma Gandhi – chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões” e quando ele viu que o chefe de polícia o acompanhava com uma arma de fogo para o defender, em caso de atentado, Gandhi murmurou: “Enquanto alguém deve defender alguém com violência, eu não cumpri ainda a minha missão”.
Inversamente, poderíamos dizer: quando um homem chega ao abismo do ódio, reforça o ódio de milhões.
Ninguém pode herdar o pecado de outrem, mas pode sofrer porque outro pecou.
Se uma criança nasce defeituosa, não prova isto necessariamente que ela pecou numa existência anterior; isto lhe pode acontecer porque todo o indivíduo vive num ambiente envenenado pelas maldades da humanidade, conforme as palavras do Mestre: “O príncipe deste mundo, que é o poder das trevas, tem poder sobre vós”.
Enquanto a humanidade for pecadora, haverá sofredores, ainda que inocentes.
O Apocalipse fala da abolição de todo o sofrimento – mas isto só acontecerá quando houver “um novo céu e uma nova terra”, e quando “o reino dos céus for proclamado sobre a face da terra”, isto é, quando não houver mais uma humanidade pecadora, então deixará de haver sofrimento individual.
Há quem julgue que uma grande espiritualidade possa diminuir ou mesmo abolir o sofrimento. Mas é experiência universal que são precisamente os homens espirituais, os santos, os iniciados, os que mais sofrem. Por quê? Porque, quando o homem já não tem débito próprio, se torna ele um sofredor ideal por débito alheio. É esta a razão por que os santos e iniciados costumam sofrer serenamente, por que se sentem como pecadores de débitos alheios.
Sofrer por débito próprio é vergonhoso – sofrer por débito alheio é honroso.
Enquanto a nossa humanidade for adâmica, vigorará esta lei de solidariedade. Somente uma humanidade cósmica, como a de Jesus, não teria sofrimento compulsório; nesta nova humanidade, o homem poderia dizer: “Ninguém me tira a vida; eu é que a deponho a minha vida quando eu quero, e retomo a minha vida quando eu quero”. Assim fala o “Filho do Homem”, mas nós somos “filhos de mulher”.
A alegria ao sofrimento é da humanidade adâmica – a imunidade é da humanidade cósmica. Na humanidade cósmica, do Cristo e dos grandes avatares, não há o sofrimento e morte compulsórios, embora possa haver sofrimento e morte voluntários. Nesta humanidade impera absoluta libertação e liberdade.
A alegria ao sofrimento é da humanidade adâmica – a imunidade é da humanidade cósmica. Na humanidade cósmica, do Cristo e dos grandes avatares, não há o sofrimento e morte compulsórios, embora possa haver sofrimento e morte voluntários. Nesta humanidade impera absoluta libertação e liberdade.
Enquanto vivermos na humanidade adâmica, haverá sofrimento, tanto de culpados como de inocentes. E, durante esta vivência, a sabedoria do sofredor consiste em sofrer serenamente. Quem puder dizer com Paulo de Tarso: “Eu exulto de júbilo no meio de todas as minhas tribulações”, esse atingiu elevado grau de evolução humana.
Huberto Rohden - Porque Sofremos - Uma Resposta Univérsica
http://universalismoesoterico.blogspot.com
Huberto Rohden - Porque Sofremos - Uma Resposta Univérsica
http://universalismoesoterico.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário