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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

MÍSTICA DOS DOZE PASSOS

DÉCIMO SEGUNDO PASSO - Tendo tido o despertar da inteligência criativa integrativa, graças a estes passos e constatado a mediocridade do nosso antigo modo de vida, adicto do pensamento condicionado, procuramos transmitir a mensagem impessoal, que por nós se manifesta, aos que ainda sofrem.
 
Para que uma pessoa possa receber a transmissão da mensagem sobre o pensar compulsivo, é preciso que ela esteja num estado de atenção total, estado este, caracterizado pelo que podemos chamar de “mente aberta”. Esse estado de mente aberta, de plena atenção só existe quando a busca de recuperação pessoal de determinado padrão de comportamento compulsivo ou a busca de satisfação, já não é capaz de solucionar nossos conflitos, como o medo, o tédio e o vazio. Essa atenção, esse estado de mente aberta deve estar presente desde o princípio para que possa ser transmitida a mensagem, caso contrário, nossa experiência tem demonstrado que tal tentativa de transmitir a mensagem só resultará em conflitos e perda de energia desnecessária. Essa atenção não é coisa que se ensine, mas pode-se ajudar a suscitar na pessoa um estado de mente aberta, não deixando que se crie em torno dela aquela sensação de compulsão que produz uma existência que se contradiz. Só então, a atenção dela poderá focalizar-se, a qualquer momento, na mensagem a ser transmitida, e não será a estreita concentração provocada pelo desejo compulsivo de afirmação ou confrontação com aquilo que lhe é conhecido.
 
Uma pessoa incentivada desse modo estará livre do medo e porque é assim incentivada, ela não dependerá da herança do que lhe é tradicional. Esse assunto de seguir irrefletidamente a tradição destrói a verdadeira independência e limita a inteligência; pois produz uma falsa sensação de segurança, dando uma autoconfiança que não tem base e cria uma obscuridade mental, uma mente fechada, em que nada de novo pode florescer. Mas, uma pessoa incentivada dessa maneira, totalmente diferente da que temos considerado, co-criará uma realidade nova, pois terá a capacidade nascida dessa inteligência que não é cercada de medo.
 
Visto que a recuperação é responsabilidade tanto dos veteranos, quanto dos novatos, precisamos aprender a arte de trabalhar juntos, e isto só é possível quando cada um de nós percebe o que é a verdadeira natureza exata dos nossos conflitos. Em nossa confraria, é a percepção da verdade que nos une, e não a opinião, a crença, a teoria ou a tradição incentivada pelo medo e busca de segurança. Há uma vasta diferença entre o conceito e o fato. O conceito pode unir-nos temporariamente, mas tornará a haver separação, se nossa cooperação for apenas fruto da convicção mental, do intelecto. Se a verdade é percebida por cada um de nós, pode haver desacordo quanto a detalhes dos padrões de comportamentos dependentes, mas não há pressão para gerar a quebra de unidade. Os detalhes só separam os tolos, os medianos, aqueles que nem recaem para os velhos padrões de comportamento e nem experimentam uma nova maneira de viver à luz da inteligência amorosa e criativa - capaz de proporcionar um estado de unidade interna e bem-estar que seja comum e não algo passageiro. Quando todos enxergam a verdade, quando todos enxergam a natureza exata dos nossos conflitos, os detalhes comportamentais nunca se tornam motivo de quebra de unidade.
 
A maioria de nós está habituada a cooperar nos moldes da autoridade estabelecida pela tradição. Reunimo-nos para trocar ideias sobre um conceito, ou para desenvolver critérios de sobriedade criados por uma mente perturbada, e isto exige convicção, persuasão, propaganda, e assim por diante. Essa cooperação no sentido da pratica de um conceito ou da busca de um ideal é totalmente diferente da cooperação que advém de se enxergar a verdade e da necessidade de pôr essa verdade em prática. Operar sob o estímulo de alguma autoridade psicológica - seja a autoridade de um ideal ou de um veterano ou membro que represente esse ideal - não equivale a uma real cooperação. Uma autoridade dominante que pensa saber muita coisa, ou que tem uma forte personalidade e que está com sua mente aprisionada por certos conceitos, pode forçar ou sutilmente convencer os outros a cooperar com ela em busca do que chama de critérios de sobriedade; mas isso certamente não representa a cooperação de indivíduos alertas e dinâmicos. Em contrapartida, quando cada um de nós compreende por si mesmo a verdade quanto a natureza exata de qualquer conflito, então nossa compreensão comum dessa verdade leva à ação, e tal ação é a cooperação que produz a verdadeira unidade e a busca pelo bem-estar comum. Aquele que coopera porque vê a verdade como verdade, o falso como falso, e a verdade no falso, também saberá quando não cooperar, quando não transmitir a mensagem sobre o pensar compulsivo - o que é igualmente importante. A mensagem sobre o pensar compulsivo, igualmente como os remédios da medicina, se for aplicada de forma indevida pode levar a resultados desastrosos e, por vezes, fatais.
 
Se cada um de nós compreender a necessidade de uma revolução fundamental em nosso processo de recuperação e perceber a verdade do que estivemos aqui considerando, então compartilharemos juntos sem qualquer forma de persuasão. A persuasão só existe quando alguém assume uma postura de liderança e respeitabilidade da qual não quer ser destituído. Quando está meramente convencido de uma ideia ou aprisionado numa opinião, num conceito, ele fatalmente provoca oposição e a quebra de unidade, e então ou ele ou os outros têm de ser persuadidos, influenciados ou induzidos a pensar de forma diferente. Tal situação nunca ocorrerá quando cada um de nós vê a verdade da natureza exata de uma questão por si mesmo. Mas se não vemos a verdade da natureza exata de nossos conflitos e agimos unicamente baseados na mera convicção verbal ou na racionalização do intelecto, então com certeza haverá contendas, quebra de unidade, desacordo, com toda a distorção e esforço inútil decorrentes.
 
É essencial que trabalhemos juntos, e é como se estivéssemos edificando uma casa. Se alguns de nós estão construindo e outros destruindo, a casa obviamente nunca será edificada. Assim, precisamos individualmente estar bem certos de que realmente vemos e compreendemos a necessidade de criar o tipo de realidade que produza uma nova geração capaz de enfrentar as questões da vida como um todo, e não como partes isoladas por um padrão comportamental especifico sem relação com a totalidade do ser.
 
Para sermos capazes de agir dessa maneira cooperativa, precisamos reunir-nos com frequência e estar alertas para não submergirmos em detalhes. Aqueles que estiverem seriamente dedicados à recuperação da doença do pensamento compulsivo e de seu processo divisor, têm a responsabilidade não só de pôr em prática tudo o que compreenderem, mas também de ajudar os outros a chegar a essa mesma compreensão. A transmissão da mensagem é a nossa ação mais nobre - se é que se pode chamar-lhe de ação. É uma arte que requer não só o despertar da inteligência, mas infinita paciência, bom censo, intuição e amor. Estar verdadeiramente em recuperação é compreender nosso relacionamento com todas as coisas - com o dinheiro, com a propriedade, com o sexo, com as pessoas à nossa volta e com a Natureza - no vasto campo da nossa existência.
 
É preciso manter o simples, pois a beleza reside nas coisas simples. A beleza faz parte dessa compreensão, mas ela não é apenas uma questão de proporção, de forma, de gosto e de comportamento. A beleza é aquele estado em que a mente abandonou o centro do ego na paixão da simplicidade. A simplicidade não tem fim; e só pode haver simplicidade quando há uma austeridade que não é resultado de disciplina forçada, da auto negação, da repressão através de um conjunto de conceitos. Essa austeridade é desapego, o que só o amor pode produzir. Quando não temos amor, criamos um modo de vida em que a beleza da forma é procurada sem a vitalidade e austeridade interiores do simples desapego. Não há desapego se houver um sacrifício de nós mesmos em boas obras, em ideais, em crenças. Essas atividades parecem livres do ego, mas, na realidade, o ego ainda está operando sob o disfarce de diferentes rótulos a quem muitos de nós chamam de virtude. Só a mente inocente pode pesquisar o desconhecido. Mas a calculada inocência que pode usar o palanque da respeitabilidade não é aquela paixão de desapego de que procede a cortesia, a delicadeza, a humildade, a paciência - expressões todas essas do amor que busca pelo estado de unidade e bem-estar comum.
 
Ao procurar gerar uma recuperação total do ser humano, precisamos obviamente levar em consideração a mente inconsciente tanto quanto a consciente. Recuperar apenas a mente consciente sem compreender a inconsciente acarreta contradição em nossas vidas, com todos os desenganos e misérias decorrentes. A mente inconsciente é muito mais dinâmica do que a consciente. A maioria dos veteranos está apenas interessada em fornecer informações ou conhecimento à mente superficial, incentivando-a para conseguir abster-se de um padrão comportamental especifico de ação e ajustar-se aos moldes da “sociedade”. De modo que a natureza exata dos conflitos humanos – a mente oculta - nunca é tocada. Tudo o que a atual busca de recuperação faz é proporcionar uma camada de conhecimento e dotá-la de certa capacidade para ajustar-se ao ambiente, o mesmo ambiente que tornou a mente doente.
 
Precisamos despertar a plena capacidade da mente superficial, que vive na atividade cotidiana, e também compreender a mente oculta. Ao compreender a mente oculta, estabelece-se um viver total, em que a auto contradição, com sua alternância de tristeza e felicidade, depressão e euforia, desaparece. É essencial que nos familiarizemos com a mente oculta e com seus processos; mas é igualmente importante não nos ocuparmos dela em excesso ou dar-lhe importância indevida. Só quando compreender o superficial e o oculto poderá a mente ir além de suas limitações e descobrir a intemporal bemaventurança que surge com o despertar da inteligência amorosa e criativa.
 
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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