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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

AMOR, ÓDIO E TRANSCENDÊNCIA
A primeira coisa a lembrar é que a ideia de perfeição é a causa arraigada de toda a neurose. Apague a palavra “perfeição” de seu vocabulário. “Perfeição” significa que você está criando uma tensão em sua vida entre o que é e o que deveria ser. Você fica dividido; não é mais uno, você se torna dois. E nunca será uno de novo porque não há fim para a sua imaginação, pois você sempre pode imaginar um estado melhor para as coisas. Onde quer que esteja, você sempre pode colocar sua meta em algum lugar lá no horizonte, e o horizonte nunca é alcançado.

A vida está pronta para lhe entregar tudo aquilo de que você precisa neste exato momento, mas sua ideia de perfeição se torna uma barreira. Então você não pode amar, não pode viver, não pode cantar, não pode dançar. Toda a celebração desaparecerá de sua vida e você se tornará mórbido - e isso é o que foi ensinado pelos chamados moralistas e os chamados religiosos através dos tempos. Durante milhares de anos, o homem foi condicionado para ser neurótico.

A alegria aparece quando você se aceita como é. A alegria é uma função de imensa aceitação. E “perfeição” significa você se rejeitar. E lembre-se que quando você se rejeita, naturalmente rejeita os outros também. Um perfeccionista é duro consigo mesmo e também com os outros. Ele não pode relaxar e não pode permitir que ninguém mais relaxe. Abandonar-se é impossível para ele, e condenará qualquer pessoa que estiver vivendo uma vida relaxada.

A segunda coisa: a imperfeição é uma lei fundamental da vida. O homem é o único animal imperfeito. Cachorros não são imperfeitos; todo cachorro é um cachorro perfeito. Gatos não são imperfeitos, árvores não são imperfeitas, pedras não são imperfeitas. Nesta existência inteiramente vasta, o homem é o único animal imperfeito. E é nisso que reside sua glória – porque na imperfeição há crescimento, há abertura, há evolução. Quando você é perfeito não há lugar algum para ir.

Por causa de sua imperfeição, o homem floresce. Por não saber, desenvolveu filosofias e religiões. Todos os animais estão satisfeitos; só o homem está continuamente descontente. E do seu descontentamento ele cresce, encontra novos modos de crescimento. Apenas o homem é ansioso, dominado pela ansiedade; em consequência, ele desenvolve técnicas de meditação. Observe: tudo que você tem – em cultura, em arte, em filosofia – originou-se de suas imperfeições.

Substitua a palavra “perfeição” por “totalidade”. Não pense em ser perfeito, pense em ser total. Totalidade lhe dará uma dimensão diferente. Seja total, esqueça a ideia de ser perfeito. Tudo o que você está fazendo, faça-o totalmente – não perfeitamente, mas totalmente. E qual é a diferença? Quando ficar bravo, o perfeccionista dirá: “Isso não é bom, não fique bravo; um homem perfeito nunca fica bravo”. Então, o que você fará? Reprimirá sua raiva, irá engoli-la; ela se tornará um tipo de envenenamento lento em seu ser. Você pode ser capaz de reprimi-la, mas então se tornará uma pessoa irada, e isso é ruim.

A ira, como um jato súbito de luz, de vez em quando tem sua própria função, sua própria beleza, sua própria humanidade. Um homem que não pode ficar bravo será covarde, não terá coragem. E um homem que não pode ficar bravo também não será capaz de amar – porque ambos necessitam de paixão, e trata-se da mesma paixão. Um homem que não consegue odiar não será capaz de amar; os dois sentimentos andam juntos. O amor dele será frio. E lembre-se, um ódio quente é de longe melhor que um amor frio. Pelo menos é humano – tem intensidade, tem vida, respira.

Sempre que a raiva é expressa, você se liberta dela. E depois da raiva você pode sentir compaixão novamente; depois que a raiva e a tempestade se forem, pode sentir de novo o silêncio do amor. Há um ritmo entre o ódio e o amor, a raiva e a compaixão. Se se livrar de uma coisa, a outra desaparecerá. E a ironia é que toda coisa que você abandonou, na verdade, você apenas a engoliu. Ela se tornará parte de seu sistema. Você ficará simplesmente irado sem nenhuma razão; sua raiva será irracional. Ela se mostrará em seus olhos, em sua tristeza, em sua melancolia, em sua seriedade. Você se tornará incapaz de celebrar.

Substituir perfeição por totalidade quer dizer: quando você se sentir bravo, fique totalmente bravo. Então seja apenas raiva, pura raiva. Isso tem beleza. E o mundo ficará muito melhor quando nós aceitarmos a raiva como parte da humanidade, como parte do jogo de polaridades. Você não pode ter leste sem ter oeste, não pode ter noite sem ter dia e não pode ter verão sem ter inverno. Temos que aceitar a vida em sua totalidade. Há um certo ritmo, há uma polaridade.

É a alma esticada que faz música. E almas são esticadas pelo puxão dos opostos: desejos opostos, gostos, anseios, lealdades. Onde não há polaridade, onde as energias fluem suavemente em uma direção, haverá muitos feitos, mas nenhuma música; muito barulho, mas nenhuma música. A música é criada pelo encontro do silêncio e do som, a música é criada pelos polos opostos.

E isto também deve ser entendido quando existir o fato de você amar e odiar uma pessoa. Quando investiu seu amor em alguém, naturalmente investiu seu ódio também, porque o ódio e o amor são dois aspectos da mesma moeda. Amantes lutam, eles são inimigos íntimos. E, sempre que a briga desaparece entre dois amantes, o amor também desaparece. A briga é uma maneira de ir para longe, de forma a começar a sentir de novo fome pelo outro; então eles voltam. Em seguida, desistem de lutar e desse modo ficarão empacados. Então nunca serão capazes de juntar-se novamente.

Você não achará uma pessoa perfeita. E, se puder encontrar uma, tampouco será capaz de amá-la, porque ela será muito desumana, será como uma máquina. Há pessoas que amam máquinas, há pessoas que amam seus carros. E há uma razão para o fato de amarem seus carros – elas se tornaram incapazes de amar seres humanos, porque é arriscado. Não há nenhum risco em amar um carro: você pode gritar com ele, pode abusar dele, ele não retaliará, não dirá nada.

Quando as pessoas se tornam incapazes de amar seres humanos, começam a amar animais de estimação, porque um cachorro sempre é bom para você. Os cachorros são grandes políticos; eles conhecem sua estupidez. Sempre que você chega, começam a abanar o rabo. Até mesmo se você ficar bravo com eles, continuam a abanar o rabo. Nunca reagem, são sempre amorosos. Não são como sua esposa ou seu marido, eles sempre são amorosos. O pobre cachorro está apenas tentando ser um diplomata, e você gosta disso. Você decai em sua humanidade.

No Oriente, você deve amar e odiar a Deus. Deus é ambos, o criador e o destruidor, Deus traz vida e Deus traz morte. É Deus que cria as rosas e é Deus que cria os espinhos nas roseiras. É Deus que lhe dá saúde e todas as bênçãos da vida e é Deus que lhe dá a doença, velhice, indisposições e todas as maldições da vida. Mas para perceber isso você precisa de uma visão muito profunda.

A existência é una. E é bom odiar a mesma pessoa que você ama, porque então o jogo de ódio e de amor criará música. Caso contrário, apenas odiando uma pessoa, não criará música: haverá som, mas não silêncio, e não haverá música. E apenas amando uma pessoa também não haverá uma oportunidade, uma ocasião para criar música, porque haverá silêncio, mas nenhum som. Som e silêncio, juntos, dançando de mãos dadas e abraçando um ao outro, a música é criada. Música é felicidade. Não tenha medo: odeie e ame a mesma pessoa, que é como deveria ser. Não fique confuso com isso. Você foi ensinado que isso é dicotomia, mas, você tem de entender, esse ensinamento é falso. Você terá que odiar a mesma pessoa que ama, e, ao entender isso, até o ódio é aceito. Quando o ódio é aceito, seu amor transcendeu. Quando o amor e o ódio são ambos totalmente aceitos, você tem uma transcendência, uma grande clareza, uma profundeza. Só esse amor é amor real que pode conter também o ódio. Os amantes reais podem odiar tanto quanto quiserem, e eles sabem, eles confiam, aquele amor transcenderá, aquele amor conquistará finalmente; não há medo.

Osho
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