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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O HOMEM PERFEITO NÃO DEIXA

ATRÁS DE SI NENHUMA SOMBRA

 
 
 
Pergunta: No desenvolvimento da individualidade, onde está o padrão pelo qual se mede o que é elevado ou a baixeza?

Krishnamurti: Como pode haver um determinado padrão externo? Deve haver continua escolha, a todo momento.

A princípio há o desejo de possuir muitas coisas: — casas, livros, mobília, carros, etc.; quereis possuir, possuir, possuir, possuir. Pensais que por aquilo que possuis chegareis à vida da liberdade, da felicidade; mas, não. Logo que vos aparece abundância de posses, pondes estas de parte. Procurais, então, depois do desprezo do que é físico, o romântico; quereis ter guias, “gurus”, mestres, deuses, ansiais pelos mistérios, pelo romantismo. Vem, novamente, a revolta desse romantismo, que é uma ilusão, e há uma consciente e despertada escolha da realidade no falso.

Pergunta: Quando o perfeito equilíbrio entre “vós” e “eu” é alcançado, é ele igualmente alcançado por outros indivíduos?

Krishnamurti: Receio que não me tenhais compreendido. O perfeito equilíbrio não está entre o “vós” e o “eu”. Esse perfeito equilíbrio está em nós mesmos, por conseguinte é todo-integrativo. Nesse equilíbrio não existem “vós” e “eu”. “Vós” e “eu” são criados pelas reações. “Vós” e “eu” são o resultado da separação e não do mais conseguimento da perfeita consumação da espiritualidade. Assim, quando eu, como um indivíduo, tenho alcançado este equilíbrio, não há nenhuma individualidade para mim. Eu sei que pensareis imediatamente que isto é aniquilação. Não há tal coisa de aniquilação. Um homem que tenha alcançado este ponto torna-se o ponto focal da vida, o que é uma coisa completamente diferente de aniquilação.

“É ele igualmente alcançado por outros indivíduos?” Como pode ser ele alcançado por outros indivíduos, se por ele não luta cada indivíduo? Como pode a compreensão de um homem ser transplantada em outrem?

Pergunta: Como distinguirmos um impulso de intuição?

Krishnamurti: Segui uns e outros pela ação e cedo descobrireis. Como posso dizer-vos o que é a vossa intuição? Como pode alguém falar-vos de vossa intuição e impulso, senão vós mesmo? O homem perfeito não deixa atrás de si nenhuma sombra, e todos vós estais em trevas, e esta é a razão porque estais procurando uma autoridade que vos diga o que é mais essencial e o que é menos essencial, o que é bom, e o que é mal.

Pergunta: Não existirá um estímulo criador ou força, fora do “domínio” do indivíduo, para compeli-lo a atingir a vida abundante?

Krishnamurti: Que maiores estímulos precisais, do que risos e lágrimas? Esta é a razão porque tenho falado em lágrimas e risos, e não sobre as explicações deles. Se não sabeis sofrer, se nunca chorastes, como podeis compreender? Que maior estímulo existe que o desejo? Que estais fazendo sempre com o desejo? Vossa maior aspiração é mata-lo, mas não podeis matar o desejo. O que percebeis, desejais; mas se vossa percepção é pequena, vossos desejos são pequenos. Se vossa visão é larga, vossos desejos são largos. Se estais num caos, não é por culpa do desejo, é por culpa de vossa percepção.

Pergunta: Não nos devemos conformar, até certo ponto, com o conseguirmos eficiência, e não devemos chegar à eficiência para atingirmos o repouso, para desenvolvermos a individualidade?

Krishnamurti: Sei que todos adoram a eficiência. É um outro novo deus. Deve-se, entretanto, ter eficiência. Na maneira de fazerdes as coisas deveis ter eficiência, pois ela vos dá repouso e a oportunidade de desenvolver a individualidade, mas isto não é propriamente um fim em si mesmo. O esforço individual tem valor na criação de vossa própria perfeição. A individualidade é perfeição. É apenas, uma parte do todo. Para tomardes o todo, deveis ter o produtivo contato da vida, que enriquece a individualidade, e nesse enriquecimento, a individualidade se perde. Então, não vos deveis considerar como um indivíduo, mas como o todo.

Pergunta: Entendi dizerdes que o homem não é material, nem espiritual. Que é ele?

Krishnamurti: Isto interessa muito? Ele é tudo. É material e espiritual; ele é — o todo. Não podeis dividir a vida em matéria e espírito; isso são convenções da mente.

Pergunta: Se aderirmos o amor humano, poderá isto embaraçar seriamente o nosso progresso para o verdadeiro amor?

Krishnamurti: Se o amor se torna uma coisa intelectual, não é real; mas não deveis ser um escravo do amor humano, deveis, através do amor humano, criar a qualidade do verdadeiro amor, o que é perfeitamente coisa diferente.

Pergunta: Podeis dizer de modo mais definido como nos tornamos superiores, como nos erguemos acima das reações emocionais?

Krishnamurti: Para vos erguerdes acima das reações emocionais, deveis ir através da emoção. A vida não é uma drogaria, onde podemos encontrar drogas convenientes para as consecuções. Para chegardes ao ponto culminante, deveis estar preparado para rir e para chorar, o que é a mesma coisa, as formas extremas da mesma emoção.

Pergunta: Não deve alguém filiar-se a um grupo, tal como uma sociedade, para ajudar os outros, por ser a ação coletiva mais eficiente do que a individual?

Krishnamurti: Ação, em relação a que? Sem dúvida, para aliviar o sofrimento físico? Mas, não podeis pela ação coletiva afastar o isolamento, a separatividade. Não podeis pela ação coletiva suavizar e aplacar os males da vida. Deveis vestir-me, alimentar-me. Em resumo, o objetivo da eficiência que todos desejam é ter repouso para pensar e sentir. Dizeis: como fazê-lo? Podeis fazê-lo proporcionando oportunidades aos vossos amigos e semelhantes. Fazê-lo, porém, sem explorar a outrem. Isto não é uma coisa de futuro remoto, cuja carga apoia-se nos ombros de outrem.
 
Para concluir: Não é pela conformidade que chegareis à própria perfeição, nem por vos abrigardes à sombra de outrem. O homem que procura a verdade não pode deixar um vestígio atrás de si.


Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com   
 

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