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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A IDEIA DE MORRER


Há tempo, muito tempo que a ideia de morrer
Me deixa indiferente,
Sem arrepios de terror.
Hoje, porém, à vista de túmulos floridos,
Acometeu-me estranho pavor.
O que há de terrível no morrer não é a morte em si
É a ideia glacial de não mais ser amado
Pelos entes que amamos,
E que nos amavam, aqui na terra…
Por quanto tempo se recordarão eles de mim,
Após a minha partida?…
Por um mês?
Por um ano?
Por um decênio?…
No princípio, flores e lágrimas…
Depois, ainda umas reminiscências…
E, por fim, a vasta solidão
Do esquecimento…
O gélido nirvana
Do vácuo…
Não ser mais amado pelos que amamos
Que morte horrível!…
Não mais banhar-se carinhosamente
Nas pupilas de um ente querido,
Não mais ouvir o timbre da sua voz,
Não mais sentir o afago da sua mão,
Nem as pulsações do seu coração,
Que morte amaríssima, essa!…

Entretanto, algo me diz e garante
Que não vou morrer essa morte mortífera…
Algo me faz adivinhar e sentir
Que há um amor mais forte que a morte…
Que encontrarei no além,
Um tépido ninho de afeição,
Uma família que não me fez
Mas que eu fiz…
Foi a família material que me fez,
Mas sou eu que faço minha família espiritual…
Não é o parentesco dos corpos que me interessa,
Interessa-me a afinidade das almas.
E essa afinidade espiritual é obra minha…
Eternamente minha
É eterna como eu mesmo…
Sei que essa família que eu fiz não morre para mim
Porque os seus membros são da “comunhão dos santos”,
Envoltos e permeados de vida eterna,
De amor imortal…

 
Huberto Rohden - do livro “Escalando o Himalaia
https://ihgomes.wordpress.com
 
 
"Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você está nu. Não há razão para não seguir seu coração". (Steve Jobs) 
 

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