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domingo, 18 de agosto de 2019

POR QUE NÃO EXPERIMENTAMOS 
A BEATITUDE, O ÊXTASE DA VIDA?


Ensinamos uma criança a focalizar a mente — a concentrar-se — porque sem concentração ela não pode enfrentar a vida. A vida exige isso: a mente deve ter capacidade para concentrar-se. Mas, desde o momento em que a mente se torna capaz de concentrar-se, torna-se, também, menos perceptiva. A percepção significa mente consciente, mas não focalizada. A percepção é consciência de tudo quanto está acontecendo.

Concentração é uma escolha. Exclui tudo, menos o objeto da concentração. Produz estreitamento. Se você está caminhando por uma rua, terá de estreitar sua consciência para poder caminhar. Habitualmente não lhe é possível estar consciente de tudo o que está acontecendo, porque se você estiver consciente de tudo o que está acontecendo, não estará focalizado. Assim, a concentração é uma necessidade. A concentração da mente é uma necessidade para que possamos viver — sobreviver, existir. Por isso é que toda cultura, a seu modo, tenta estreitar a mente da criança.

Crianças, tais como são, jamais focalizam. Sua consciência está aberta para todas as sensações. Cada sensação penetra em sua consciência. E quanta coisa chega! Por isso é tão vacilante, tão instável. A mente não condicionada de uma criança é um fluxo — um fluxo de sensações — mas não lhe seria possível sobreviver com este tipo de mente. Ela deve aprender como estreitar a mente, como se concentrar.

Do momento em que você estreita sua mente torna-se particularmente consciente de uma coisa, e, simultaneamente, inconsciente de muitas outras coisas. Quanto mais estreita for a mente, mais sucesso haverá. Você se torna um especialista, você se torna um perito, mas a coisa toda consistirá em você saber mais e mais sobre menos e menos.

O estreitamente é uma necessidade existencial. Ninguém é responsável por isso. Assim como a vida existe, ele deve existir. Mas não é o bastante; só o ser utilitário não é o bastante. Por isso, quando você se torna utilitário e a consciência é estreitada, estará negando à sua mente muito daquilo de que ela é capaz. Você não está usando sua mente total. Está usando apenas uma pequena parte dela. E o remanescente — a porção maior — irá tornar-se inconsciente.

Na verdade, não há fronteira entre o consciente e o inconsciente. Não há duas mentes. "Mente consciente" refere-se àquela porção da mente que tem sido usada no processo de estreitamento. "Mente inconsciente" refere-se àquela porção que tem sido negligenciada, ignorada, fechada. Isso cria uma divisão, uma brecha. A porção maior da sua mente torna-se alheia a você. Você se torna alienado de seu próprio eu, torna-se um estranho à sua própria totalidade.

Uma pequena parte está sendo identificada como o seu eu, e o resto é perdido. Mas a parte inconsciente, remanescente, está sempre ali, como potencialidade sem uso, como possibilidade sem uso, como aventura não vivida. Essa mente inconsciente (esse potencial, essa mente sem uso) estará sempre em luta contra a mente consciente. Por isso é que existe sempre um conflito interior. Todos estão em conflito por causa dessa fenda entre o inconsciente e o consciente. Mas só se o potencial, o inconsciente, estiver livre para florescer, é que você poderá sentir a beatitude da existência... Não há outra maneira.

Se a porção maior de suas potencialidades permanecer irrealizada, sua vida será uma frustração. Por isso é que quanto mais utilitária é uma pessoa, menos realizada é, menos beatitude conhece. Quanto mais utilitária é a abordagem — quanto mais a pessoa está na vida dos negócios — menos estará vivendo, menos será tomada pelo êxtase. A parte da mente, que não pode ser útil no mundo utilitário, foi desprezada.

A vida utilitária é necessária, mas com grande custo. Você perdeu a festividade da vida. A vida torna-se uma festividade, uma celebração, se todas as suas potencialidades florescerem. Então, a vida é uma solenidade. Por isso é que eu sempre digo que religião significa vida transformada em celebração. A dimensão da religião é a dimensão do festivo, do não utilitário.

A mente utilitária não deve ser tomada como se fosse o todo. O remanescente... a maior parte... a mente inteira... não deveria ser sacrificada. A mente utilitária não deve se tornar um fim. Terá que permanecer ali, mas como um meio. A outra — a remanescente, a maior, a potencial — deve tornar-se o fim. Isso é o que eu chamo uma abordagem religiosa.

Com uma abordagem não religiosa, a mente dos negócios (a utilitária) torna-se o fim. Quando tal coisa acontece, não há possibilidade de a mente inconsciente realizar seu potencial. A mente inconsciente será desprezada. Se a utilitária se torna um fim, isso significa que o servo está representando o papel do senhor.

A inteligência, o estreitamento da mente, é uma forma de sobrevivência, mas não de vida. Sobrevivência não é vida. Sobrevivência é uma necessidade — mas o fim terá de ser, sempre, um florescimento do potencial, de tudo quanto foi criado para você. Se você for completamente realizado, se nada permanecer sob a forma de semente, se tudo se faz realidade, se você florescer, então e só então você poderá sentir a beatitude, o êxtase da vida.

A parte de você que foi desprezada, a parte inconsciente, pode tornar-se ativa e criativa, só se você acrescentar uma nova dimensão à sua vida — a dimensão do festivo, a dimensão da jovialidade. Assim, a meditação não é um trabalho, é um divertimento. Rezar não é um negócio, é um divertimento. A meditação não é algo que se faz para chegar a atingir um alvo (paz, beatitude...) mas algo a ser gozado como um fim em si mesmo.    
 
Osho — Meditação: A Arte do Êxtase
http://pensarcompulsivo.blogspot.com
 
 
Quantas possibilidades estão ao nosso dispor e continuamos correndo em círculo; precisamos caminhar 'em espiral', assim a visão fica mais abrangente, a compreensão mais aguçada, a interpretação dos acontecimentos recebe  mais energia do coração e a intuição flui com maior vigor e clareza. Somos um ser bastante complexo; precisamos apenas descobrir essas potencialidades ao nosso dispor e usá-las com parcimônia, compaixão e discernimento.
 
 
 

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