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sábado, 31 de agosto de 2019

A    T  E  M  P  E  S  T  A  D  E


O pássaro e o homem tem essências diferentes.
O homem vive à sombra de leis e tradições 
por ele inventadas;
o pássaro vive segundo a lei universal 
que faz girar os mundos.

Acreditar é uma coisa; 
viver conforme o que se acredita é outra.
Muitos falam como o mar, 
mas vivem como os pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes;
mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.

A civilização é uma árvore idosa e carcomida,
cuja flores são a cobiça e o engano 
e cujas frutas são a infelicidade e o desassossego.

Deus criou os corpos 
para serem os templos das almas.
Devemos cuidar desses templos 
para que sejam dignos da divindade 
que neles mora.

Procurei a solidão para fugir dos homens,
de suas leis, de suas tradições e de seu barulho.
Os endinheirados pensam que o sol, 
a lua e as estrelas se levantaram dos seus cofres 
e se deleitam nos seus bolsos.
Os políticos enchem os olhos dos povos 
com poeira dourada e seus ouvidos 
com falsas promessas.
Os sacerdotes aconselham os outros,
mas não aconselham a si mesmos,
e exigem dos outros 
o que não exigem de si mesmos.

Vã é a civilização. 
E tudo que está nela é vão.
As descobertas e invenções nada são 
senão brinquedos que a mente 
se diverte no seu tédio.
Cortar distância, nivelar as montanhas,
vencer os mares, tudo isso não passa 
de aparências enganadoras, 
que não alimentam o coração 
e nem elevam a alma.

Quanto a esses quebra-cabeças chamados 
ciências e artes, nada são senão cadeias douradas 
com os quais o homem se acorrenta, 
deslumbrados com seu brilho e tilintar. 

São os fios da tela que o homem tece 
desde o iníciodo tempo sem saber que, 
quando terminar sua obra, 
terá construído a prisão 
dentro da qual ficará preso.

Uma coisa só merece nosso amor 
e nossa dedicação, uma coisa só...
É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma.
Quem o sente não pode expressar em palavras.
E quem não o sente não poderá nunca 
conhecê-lo através de palavras.

Faço votos para que aprendas a amar 
as tempestades em vez de fugir delas.

Gibran Khalil Gibran
 http://www.vidaempoesia.com.br

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