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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O MECANISMO DA INFLUÊNCIA 


PERGUNTA: Tenho um filho que me é muito caro e vejo que ele está sujeito a muitas influências perniciosas, tanto em casa como na escola. Que devo fazer?

KRISHNAMURTI: Todos somos o produto, não de uma dada influência, porém de muitas influências contraditórias, não é verdade? E o interrogante deseja saber como impedir que o filho fique sujeito a influências perniciosas, tanto em casa como na escola. Ora, sem dúvida, o problema é muito mais complexo do que apenas encontrar uma maneira de resistir às más influências. O que nos cabe considerar é o "mecanismo" total da influência, não achais? Afinal de contas, todo estudante está inevitavelmente exposto a numerosas influências, tanto boas como más. Existe não apenas a influência doméstica e a influência da escola, mas, ainda, a influência das coisas que lê, das coisas que ouve, do clima, da espécie de alimento que toma, da religião e da cultura em que está sendo educado. Ele constitui a soma, o total dessas influências, tal como vós e eu, e não podemos rejeitar algumas delas e conservar outras. O que podemos fazer é apenas observar todas estas influências e averiguar se a mente pode viver livre delas. Entretanto, infelizmente, no presente estado de coisas, nossa educação é um mecanismo de impor ao estudante as supostas influências boas. Esta é uma parte da questão. A outra parte é o "mecanismo" de encher a mente do estudante de conhecimentos, para que passe nos exames, acrescente algumas letras ao nome e obtenha um emprego. É só isso que nos interessa, atualmente, na chamada educação.

Mas a educação correta é coisa muito diferente, não achais? Não é apenas questão de proporcionar ao estudante conhecimentos técnicos que o habilitarão a obter emprego, mas é também preciso ajudá-lo a estar apercebido de todas as influências e não se deixar prender por nenhuma delas. Para assim fazer, precisamos de uma mente em bom estado, e uma mente "em bom estado" é aquela que está aprendendo, e não aquela que aprendeu; porque, quando a mente está acumulando, deixou de aprender. A instrução é, então, uma coisa do passado e, assim sendo, está detida a investigação.

Que é pois educação correta? É uma simples definição, colhida num livro, ou um constante processo de compreensão das numerosas influências que assaltam a mente, para que ela seja livre desde o começo e, portanto, capaz de investigação? Certo, a mente que é capaz da verdadeira investigação, está sempre aprendendo; não é um mero depósito de conhecimentos. Qualquer pessoa que saiba ler, pode colher conhecimentos numa enciclopédia. Conquanto seja evidentemente necessário, na educação, transmitir conhecimentos técnicos para que o estudante possa, mais tarde, obter emprego, na atualidade é unicamente isto que interessa à maioria dos pais. Querem que os filhos se preparem para alcançar uma boa posição na atual estrutura social, que o ensinem a ajustar-se a esta sociedade baseada na avidez, na inveja, na ambição. Desejais que vosso filho se adapte a esta estrutura, não desejais que ele seja um revolucionário. E assim sendo, temos esta pretensa educação, que só o ensina a ajustar-se, imitar, seguir. Mas não será possível aos que amam realmente os seus filhos, ajudá-los a compreender as múltiplas influências da sociedade, da civilização em que nasceram, para que, quando cresçam, não se deixem ajustar ao padrão de uma certa cultura mas, sim, criem sua sociedade própria, uma sociedade livre da inveja, da ambição, da avidez? Por certo, só tais pessoas são verdadeiramente religiosas. A revolução tem de ser religiosa, e não puramente econômica. Religião não é aceitação de um certo dogma ou tradição ou de um suposto livro sagrado. Religião é investigação, para descobrir o Desconhecido.

Krishnamurti, Da Solidão à Plenitude Humana
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

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