A CABALA E O NOSSO DESTINO FINAL:
SER COMO DEUS - 9/13
SER COMO DEUS - 9/13
O CONFORTO MATA
É a poção que nos faz vaguear de modo irrefletido e robótico em direção à
morte. É uma droga mortal, vendida em todas as partes da prisão,
fluindo pelas veias dos seus prisioneiros. A droga é o conforto.
O conforto é a ilusão de que estamos chegando a algum lugar enquanto a
esteira rolante gira e o relógio bate. O CONFORTO E UM COBERTOR QUENTE
QUE NOS MANTÉM ENVOLTOS NO DESEJO DE RECEBER SOMENTE PARA NÓS MESMOS.
ESQUECIDOS DA NECESSIDADE URGENTE DE MUDANÇA.
"Estou me sentindo confortável. Esta prisão na verdade não é tão ruim assim. Talvez o objetivo da vida seja ter uma estada produtiva na prisão. Um dia posso até chegar a ser presidente de um bloco de celas. Pode acontecer. É uma prisão livre.''
Ou,
"Estou me sentindo confortável. Sabe, pode ser que eu nem esteja na
prisão. Talvez eu estivesse alucinando esse tempo todo. Talvez eu esteja
nos mares do sul e estes muros de concreto sejam na verdade areia, e a
lâmpada simples seja um sol quente e brilhante."
O conforto mata, ainda que buscá-lo seja uma estratégia de sobrevivência
determinada biologicamente. Os organismos instintivamente fogem do
desconforto; é por isso que eles sobrevivem. Mas aquilo que é
confortável para o corpo é uma angústia para a alma. Como almas, estamos
aprisionados num drama de sobrevivência de 24 horas do corpo que
habitamos. O conforto que verdadeiramente queremos, o conforto último e
único, é a união com o Criador.
Por um lado temos o conforto ilusório do corpo, e, por outro lado, o
verdadeiro conforto da alma. Não podemos estar confortáveis em ambos os
universos ao mesmo tempo, assim como não podemos ir para o leste
enquanto estivermos indo para o oeste. Ou estamos nos movendo em direção
a Deus ou estamos nos movendo em direção ao ego, à morte e ao
sofrimento. E o caminho para o verdadeiro conforto — que é Deus — passa
por uma grande dose de desconforto.
Passa por desconforto porque exige a destruição da necessidade de se
sentir especial, da ânsia por aprovação, do anseio de pertencer, do
vício no agrado das lisonjas — toda a junkfood mental, desprovida de
verdadeiro valor nutritivo, que enfiamos em nossos cérebros para
alimentar a ilusão do ego.
A JORNADA PARA DEUS É UM ASSENTO EJETOR DA ZONA DE CONFORTO. Se o sinal
disser DESCONFORTO, sabemos que estamos no caminho certo. Quando vamos
contra nossa natureza humana, estamos no caminho certo. Quando alguém
ferir nosso ego, e, em vez de sairmos indignados como de costume, nos
sentirmos gratos aos que nos insultaram, aos que nos ofereceram esta
oportunidade de trazer mais Luz e menos conforto para nossas vidas, aí
estamos no caminho certo.
Definimos conforto como a ausência de dor. Mas o verdadeiro conforto é o
cruzar de um abismo. De um lado estamos nós. Do outro está a plenitude.
Temos tentado arrastar a felicidade para o nosso lado do abismo, quando
o que realmente temos que fazer é pular para o outro lado. Saltar o
abismo significa a transformação total da nossa natureza: nos tornarmos
como o Criador, em vez de esperar que o Criador se torne como nós.
Um famoso cabalista explicou desta maneira:
Estamos tentando transformar os desejos de Deus em nossos desejos para que Ele nos dê o que queremos. Mas na verdade os desejos de Deus são aqueles que precisamos, e por isso, devemos fazer nossos desejos se conformarem aos Dele. Quando um aluno reclamou que tinha rezado repetidamente mas Deus não tinha respondido suas orações, o cabalista respondeu: "Deus respondeu suas orações. A resposta foi não."
Estamos tentando transformar os desejos de Deus em nossos desejos para que Ele nos dê o que queremos. Mas na verdade os desejos de Deus são aqueles que precisamos, e por isso, devemos fazer nossos desejos se conformarem aos Dele. Quando um aluno reclamou que tinha rezado repetidamente mas Deus não tinha respondido suas orações, o cabalista respondeu: "Deus respondeu suas orações. A resposta foi não."
Quando estamos desconfortáveis, as barras da prisão se enfraquecem. Quando o compartilhar é desconfortável estamos batendo com um aríete contra os muros. Quando damos boas-vindas à humilhação, as portas da prisão se deslocam em suas dobradiças.
ENTÃO, SE QUEREMOS BUSCAR NOS TORNAR COMO DEUS, DEVEMOS BUSCAR O
DESCONFORTÁVEL — com uma grande quantidade de pequenos passos, todos
levando à mesma direção: para fora da zona de conforto.
A LIÇÃO DA ROUPA DE PALHAÇO
Certo dia um famoso cabalista estava caminhando quando se voltou para
seu companheiro e disse: "Está vindo desta casa o aroma maravilhoso do
Jardim do Éden. Vamos investigar.
Os dois entraram na casa. O cabalista explicou ao dono por que tinham
parado e lhe perguntou se poderiam procurar o que estava produzindo um
cheiro tão inebriante. O homem concordou, encantado por receber dois
sábios tão renomados.
O cabalista e o outro passaram de quarto em quarto, e chegaram por
fim ao dormitório do homem. O cabalista entrou no closet e, pedindo para
examinar seu interior, encontrou, escondida bem no fundo, atrás de
sapatos e caixas, uma roupa de palhaço. O cabalista pegou a roupa e
anunciou: É daqui que sai a fragrância do Jardim do Éden que enche esta
casa, e chega até a rua. Senhor, poderia nos fazer a gentileza de nos
contar a história desta roupa?
O rosto do homem enrubesceu. Eu realmente preferiria que você não
tivesse levantado esse assunto. Faz tempo que tenho tentado esquecer
isso! Mas para você eu contarei a história.
Alguns anos atrás, um dos moradores deste vilarejo veio a mim
desesperado, pedindo dinheiro para ajudá-lo a tomar fôlego enquanto
quitava algumas dívidas. Eu disse a ele que faria tudo que pudesse.
Sendo que naquela época eu tinha pouco dinheiro, bati em
todas as portas da vizinhança, pedindo dinheiro para ajudar um homem
numa situação difícil. Pouquíssimos dos meus vizinhos contribuíram com
alguma coisa e ao fim de seis ou sete horas indo de casa em casa, eu
não tinha juntado praticamente dinheiro nenhum.
Já era tarde da noite, e, bastante cansado, eu entrei na taverna
local para beber alguma coisa, pensando no que mais eu poderia fazer
para ajudar o pobre homem. Desesperado olhei na minha carteira, mas
não havia o suficiente nem para fazer uma redução significativa nas
dívidas dele.
Na mesa do lado, um grupo de homens ricos estava rindo e batendo
grosseiramente nas costas um do outro, evidentemente bastante bêbados.
Um deles se debruçou até onde eu estava, com um forte cheiro de cerveja
em seu hálito, e perguntou: 'Por que você está parecendo tão amuado?'
Contei-lhe a história toda e ele disse: Tenho uma ideia. Eu lhe darei o
dinheiro, mas você precisa fazer uma coisa para mim. Tenho esta roupa
de palhaço e quero que você a vista e caminhe comigo pela cidade. Que
comédia isto vai ser!
Eu olhei para ele chocado. Mas já passou de meia-noite', balbuciei. Nós vamos acordar todo mundo.
O homem rolou de rir. A ideia é justamente esta, ele disse.
Bem, as ruas de nossa cidade estão mais para ruelas do que
para ruas e todo o povo gosta de deixar as janelas de seus quartos
abertas à noite. Era evidente que estávamos para dar início a um
tumulto. Eu pensei que se pudesse correr pela cidade rápido o suficiente
para evitar ser linchado, talvez não fosse um preço tão caro a pagar
para conseguir o dinheiro de que precisava. Finalmente encarei o homem e
disse: Tudo bem. Eu aceito.
O que eu não tinha previsto é que o homem traria todos os seus
companheiros de bebedeira para se divertir com ele. Então lá estávamos,
desfilando pela cidade, 30 bêbados cantando e gritando, e eu na frente
vestido de palhaço, pedindo que a terra se abrisse e me engolisse.
Luzes se acenderam em toda parte. Homens irados e mulheres de
camisola olharam por suas janelas e berraram obscenidades para nós. Um
bom número esvaziou seus penicos. Isto durou mais do que uma hora, ao
fim do que não havia um homem, mulher ou criança na cidade que não
tivesse testemunhado minha total desgraça.
Finalmente, os bêbados acharam que bastava. O homem me pagou o
dinheiro e corri para casa, meu rosto queimando de vergonha. Joguei a
roupa de palhaço no fundo do armário e fiz todo o possível para esquecer
aquela noite - a pior noite da minha vida.
Quando o homem terminou sua história, o cabalista olhou para ele com
os olhos brilhando. Isto explica por que esta fragrância extraordinária
vem do seu armário.
Sua ação de compartilhar destroçou seu ego de forma tão completa
que uma quantidade incrível de Luz foi revelada. De fato, a proteção é
tão poderosa que mesmo depois de sua morte ela perdurará. Diga a sua
família que o enterre nesta roupa quando você morrer, pois isso lhe dará
admissão imediata ao Jardim do Éden.
A história da roupa de palhaço é uma aula em nível de pós-graduação em destruição de ego. A roupa ofereceu desconforto suficientemente poderoso para garantir ao seu usuário admissão instantânea ao Jardim do Éden.
Mas para a maioria de nós, tornar-se como Deus provavelmente não será
resultado de um gesto grandioso. Virá em inúmeras pequenas vitórias, nos
levando passo a passo para fora da cela de prisão do conforto. Buscando
ativamente o desconfortável, nós despertamos nossa natureza divina.
DEBAIXO DE CADA PEDRA DE DESCONFORTO SE ESCONDE UMA OPORTUNIDADE DE SE
TORNAR COMO DEUS.
A QUESTÃO NÃO É: ESTOU FAZENDO AÇÕES ESPIRITUAIS? A QUESTÃO É: ESTOU FAZENDO AÇÕES DESCONFORTÁVEIS?
Desafiamos o Oponente em seu feudo pessoal, a zona de conforto, cientes de sua grande mentira. Ao contrário do que ele promete, quando buscamos o conforto antes da transformação, nunca estaremos verdadeiramente à vontade. Por outro lado, quando se tornar como Deus é nosso único objetivo, encontraremos a paz derradeira.
Este livro deve fazer você se sentir desconfortável, ou terá fracassado
em sua missão. É um convite pessoal para o conforto último que nos
aguarda do outro lado do desconforto. É a luta da sua vida. É a luta
pela sua vida.
Rav Michael Berg
http://busca-espiritual.blogspot.com
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