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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

ANTES QUE VOCÊ MORRA


Esta é toda a mensagem do caminho Sufi: Morra!
 
Morra como você está, para poder se tornar o que realmente é. 

Morra para o ego, para que o Divino possa nascer em você. 

Morra para o passado, para que possa se tornar aberto para o futuro. 

Morra para o conhecido, para que o desconhecido possa penetrá-lo. 

Morra para a mente, para que o coração comece a pulsar outra vez e você possa redescobrir seu próprio coração que você perdeu completamente.
 
Você não sabe o que é o coração! 

O pulsar que você ouve não é o coração verdadeiro; é apenas a parte física do coração. Existe uma parte-alma nele, escondida por trás desta. 

Estas batidas são da parte física do coração. Nestas batidas, ou entre estas batidas, nos intervalos, está a batida verdadeira do coração verdadeiro — a parte-alma. Esta é a parte principal. 

Você perdeu completamente o contado com a parte divina do seu coração e vive uma vida sem amor, sem coração. Você é como rocha dura. Mesmo as rochas não são tão duras, elas podem ser quebradas — e digo isto baseado numa vasta e longa experiência. 

Quando tento quebrar sua rocha, é muito difícil, porque sua rocha tenta se proteger de todas as formas. Você tenta proteger suas doenças, suas enfermidades, sua neurose, sua loucura — porque é com isso que você está identificado. Você pensa que é isso, mas você não é.
 
Antes que você morra, jamais saberá quem você é.
 
Agora mesmo você pode se sentar numa postura de ioga e repetir o mantra de Maharshi Ramana: “Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu?” — você não saberá. Esse mantra estará apenas na mente.
 
Ramana conheceu através disso — ele passou pela morte. Aconteceu quando tinha dezessete anos de idade. Ele meditava continuamente desde a infância; deve ter trazido esse anseio de vidas passadas. Ele não era uma criança comum, desde o início não estava interessado neste mundo. 

Sempre que tinha oportunidade, ficava a esperar, de olhos fechados, mergulhando cada vez mais no silêncio. De súbito, quando tinha dezessete anos, durante a meditação, sentiu que ia morrer. E quando você está em meditação profunda e sente que vai morrer, isso não é apenas uma sensação ou uma divagação — ela o agarra em sua totalidade, porque não existe pensamento que possa lutar contra ela. Você não pode argumentar, numa mente silenciosa é muito auto-evidente que você morrerá. E acontece a todo aquele que medita — e abençoados são esses para quem acontece.
 
De repente ele sentiu que iria morrer — e nada pode ser feito: a morte é absolutamente certa. Então, o que fazer? Ele estava sentado sob uma árvore. Deitou-se, pronto para morrer, e aceitou, e relaxou o corpo; nenhuma luta contra a morte. E percebeu, aos poucos, que o corpo ficara frio; era um cadáver. 

Mesmo que quisesse mover um braço, não poderia fazê-lo. O contato com o corpo estava rompido. Então, sentiu a mente desaparecendo, como água quando evapora. E logo não havia mente; o contato com ela estava perdido. E então esperou e esperou e esperou — quando aconteceria a morte? E jamais aconteceu. Ele chegara ao imortal, mas era um homem totalmente novo; o velho não estava mais ali. 

O filho de pai e de mãe já não estava mais ali, ele não era mais Ramana; de repente ele havia desaparecido. Um Bhagwan havia nascido; ele tornara-se divino. Quando se alcança a essência mais profunda do seu ser, a imortalidade, você é Deus. Deus não significa outra coisa — Deus significa o imortal, o eterno!
 
 “Você nada pode obter de mim”, replicou o homem generoso, “antes que você morra “.
 
E você nada pode obter de mim, tampouco, antes que você morra.
 
E nada pode obter de Deus, tampouco, antes que você morra.
 
Na verdade, até que morra, você vive uma morte, você vive morto. Sua vida não é outra coisa senão um suicídio lento — distribuído em setenta ou oitenta anos, mas um suicídio lento, uma morte lenta. Desde o instante em que nasce, você está morrendo, morrendo, morrendo.
 
Até que morra, você viverá uma vida morta. E se você for corajoso e puder dar um salto para dentro da morte, de súbito, pela primeira vez, a vida desponta em você. Pela primeira vez, há a dança eterna dentro de você; pela primeira vez, há aquilo que Jesus chama de vida abundante — você transborda! Agora você não é mais um pequenino riacho no verão, apenas alguma coisa conseguindo se manter com um vasto areal em volta, deserto. Você se torna um Ganges cheio na época das chuvas: transbordando, quebrando amarras, quebrando todas as limitações — vida abundante.
 
Mas isso jamais acontece antes que você morra.    

Portanto, este é o paradoxo. Jesus diz que se você se apegar à vida, a perderá; se tentar salvá-la, não a terá. A única maneira de possuí-la será perdendo-a. E isto é o que chamo de sânias. É uma mutação interior, um estar pronto para morrer, para morrer para o ego. 

Uma porta se fecha, a do ego; outra se abre, a do eterno. Este é o significado da frase enigmática: “O homem precisa morrer antes que morra “.
 
Você morreu muitas vezes, mas não estamos falando dessa morte. Essa aconteceu muitas vezes, e não causou nada em você, que permaneceu o mesmo; você sobreviveu. Você precisa de uma morte muito maior.
 
Há uma morte que acontece naturalmente, porque tudo que nasce, morre, tudo que é unido, ficará separado. Assim, seu corpo vai morrer, isso é natural. Aconteceu milhões de vezes e continuará acontecendo, enquanto você não se tornar alerta e consciente.
 
Há uma outra espécie de morte, e a qualidade é totalmente diferente: a morte voluntária, não a morte natural. Não que o corpo morra, mas você é que dá o salto — você morre. Você não espera pela morte; isso é sânias, isso é dar um salto voluntário para dentro da própria morte.
 
Através da morte, o eterno é alcançado.
 
Este é o significado da frase enigmática: “O homem precisa morrer antes que morra”. O prêmio vem depois desta “morte”, e não antes. E mesmo esta “morte” não é possível sem ajuda.
 
Eis por que estou aqui. Sozinho, você não será capaz nem de morrer. Uma coisa tão simples como essa, e você não pode fazer sozinho. E tão simples, mas será difícil se o fizer sozinho. Será necessária uma grande ajuda de alguém que morreu antes de você. Ele pode empurrá-lo e puxá-lo, pode criar uma situação na qual, sem perceber, você será pego. 

Um Mestre lança a rede e apanha muitos peixes; aqueles que estão prontos a morrer serão escolhidos. Os que ainda não estiverem, serão jogados de volta ao rio. Vocês vieram a mim de muitas partes do mundo, e podem continuar pensando que vieram a mim — e isso é novamente uma ilusão do ego. 

Eu os apanhei, eis por que vocês estão aqui — não é que tenham vindo. Pensam que vieram, mas estão errados. Eu os estive chamando de muitas formas sutis, atraindo-os em minha direção. E vocês vieram. Agora estão presos na rede, mas muitos ainda estão tentando escapar.
 
Sânias é justamente uma entrega de sua parte, que me permite fazer tudo que eu queira fazer. A entrega é uma confiança: “Eu permito — agora faça tudo que queira fazer. Agora não interfiro mais”. É exatamente como quando você vai a um cirurgião e se abandona em confiança, porque se não o fizer e disser: “Tenho que vigiar o que você está fazendo”, então a cirurgia não será possível.
 
Você precisa ficar completamente inconsciente — e na inconsciência há uma entrega total. Mesmo que o cirurgião o mate, você não estará lá para contestar. Confiança significa abandonar-se inteiramente às mãos de alguém — mesmo que ele o mate, você estará pronto a passar por isso.
 
Sânias significa você se render inteiramente a mim, na mesa cirúrgica, permitindo que eu corte o que eu quiser cortar. É muito doloroso, muito, muito doloroso, porque esta cirurgia não pode ser feita na sua inconsciência — tenho que fazê-la enquanto você está consciente. Não posso lhe dar morfina ou usar clorofórmio; ao contrário, eu lhe dou meditações, para que você fique mais alerta e mais consciente. 

Este é um tipo diferente de cirurgia, um tipo totalmente diferente: sua consciência é necessária. Você precisa ser uma perfeita testemunha, para que eu possa cortar aquela parte que não é de fato você, mas com a qual você se tornou identificado — assim, posso lhe mostrar um caminho onde você seja capaz de sentir seu ser autêntico. Ele estava ali antes de você nascer, está ali antes de você morrer, e estará ali depois de sua morte.
 
A existência continua vivendo em muitas formas. Você precisa de ajuda, para que possa sentir o sem-forma escondido atrás da forma. Você está preso à forma, seus olhos estão fechados por ela, e é necessária uma grande cirurgia.
 
Diz este ensinamento Sufi:
O prêmio vem depois desta “morte”, e não antes. E mesmo esta “morte ”não é possível sem ajuda.
 
E a ajuda é possível, se você se entregar. Aliás, se você se entrega, a própria morte de que estamos falando se torna possível. A entrega é igual à morte— eis porque você tem tanto medo da entrega. Tenta se proteger, tenta arrancar algo de mim, permanecendo você mesmo — e isso não é possível.
 
Você precisa morrer, e somente então algo lhe poderá ser dado. O prêmio está pronto, já embalado, com seu nome inscrito nele — mas você não está pronto.
 
Você nada pode obter de mim antes que você morra. 

Osho
 https://oshoemportugues.wordpress.com
 

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