A CABALA E O NOSSO DESTINO FINAL:
SER COMO DEUS - 13/13
Após a morte de um grande mestre, seu filho aguardou, tendo certeza
de que seu pai em breve apareceria para ele, seja num sonho ou numa
visão, com notícias do outro mundo.
Mas o pai não veio.
Quando lhe perguntavam se a visita finalmente tinha acontecido, o
filho respondia que não. "Entretanto, ontem de noite eu visitei o
tribunal celestial para perguntar aos anjos o que tinha acontecido com
meu pai. 'Ele esteve aqui', eles responderam, 'mas não ficou.'
"Procurei então em todas as regiões do céu, perguntando aos anjos se
tinham visto meu pai, e em todos os lugares davam a mesma resposta: 'Seu
pai esteve aqui, mas continuou a caminhar. ' Finalmente, me deparei com
um homem sentado na entrada de uma floresta e perguntei: 'Você viu meu
pai?' Ele também respondeu: 'Sim, ele esteve aqui, mas continuou a
caminhar. ' E então acrescentou: 'Você o encontrará do outro lado da
floresta. '
"Caminhei pela floresta por vários dias, e finalmente cheguei a
um lugar onde terminavam as árvores. Ali se estendia um vasto oceano,
com ondas do tamanho de montanhas. Meu pai estava em pé ali, olhando
para as águas turbulentas.
"Eu me aproximei dele e peguei em seu braço. 'O que você está fazendo
aqui?', perguntei. 'Estávamos todos preocupados. Você não voltou para
nós numa visão ou num sonho.'
"Sem se voltar, meu pai disse: 'Você sabe o que é este oceano, meu
filho?' Respondi que não. 'Este é o oceano de todas as lágrimas de todas
as pessoas do mundo que alguma vez choraram por dor e sofrimento. Eu
jurei diante de Deus que não deixarei este oceano enquanto Ele não secar
todas as lágrimas.'"
A transformação não é um empreendimento individual.
Não é se acomodando numa poltrona confortável que você se torna como Deus.
A JORNADA PARA DEUS É UMA LIBERTAÇÃO DE UM CANTO MINÚSCULO DO UNIVERSO CHAMADO (INSIRA AQUI SEU NOME), PARA A UNIFICAÇÃO COM VIDAS EM TODA PARTE, PARA UMA COMPAIXÃO QUE SE ESTENDE A TODO SER EXISTENTE E PARA O VASTO OCEANO DE SOFRIMENTO QUE OS ENGOLFA SIMPLESMENTE POR TEREM NASCIDO NESTE MUNDO.
O Desejo de Receber Somente para Si Mesmo cria uma membrana divisora de
insensibilidade. Ele nos permite focar na incrível história do "eu",
ignorando a dor e a morte nos outros. TORNAR-SE COMO DEUS EXIGE UMA
OBLITERAÇÃO DESTA SEPARAÇÃO - EXIGE QUE ACABEMOS PARA SEMPRE COM
QUALQUER DISTINÇÃO. FRONTEIRA E DIVISÃO ENTRE O QUE CONSIDERAMOS COMO
SENDO NÓS E O QUE NÃO CONSIDERAMOS COMO SENDO NÓS.
SER COMO DEUS NÃO É SER DOIS COM O UNIVERSO. É SER UM.
Ter compaixão pela vida em toda parte não é uma simples questão de ser bondoso, solidário e generoso. A compaixão é o que emerge das cinzas do Desejo de Receber Somente para Si Mesmo, quando, assim como todo ser é preocupação de Deus, cada ser se torna nossa preocupação também. "Nós experienciamos nossos pensamentos e sentimentos como algo separado do resto", disse Einstein. "É um tipo de ilusão de ótica da consciência."
Na Bíblia, Noé foi salvo durante o dilúvio com um macho e uma fêmea de
cada espécie, enquanto o mundo ao redor dele era destruído. Ele era,
como sabemos, um homem justo. Mas a Bíblia também considera Noé um
fracasso. Ele fracassou em cumprir seu potencial. Como entender que
salvar o mundo da extinção seja qualificado como potencial não
realizado?
Faltava a Noé a capacidade de sentir a dor dos outros. Ele não rezou nem se manifestou enquanto seus semelhantes morriam num apocalipse global. Hoje em dia, apocalipses modernos ainda acontecem nesta terra massacrada onde microchips realizam milhões de operações por segundo, mas nem assim conseguem erradicar a fome, a doença e as explosões de crueldade humana denominadas noticiário da noite. NÃO PODE HAVER CRESCIMENTO ESPIRITUAL SEM UMA COMPAIXÃO QUE NÃO SE ESQUECE, E QUE NOS MOVE ATÉ TODOS OS SERES ESTAREM LIBERTADOS.
Na Cabala, a compaixão não é um conceito sentimental. É uma força do
universo, assim como as leis da física. "Querer ser o primeiro em tudo"
não é errado por não ser adequado. É errado porque viola as leis da
física, a ligação que os cientistas denominaram de Campo Unificado. Há
centenas de anos, o grande cabalista Baal Shem Tov ensinou que não
existem coincidências neste universo. Tudo existe por um propósito. Pelo
simples motivo de que, por terem atraído nossa atenção, até mesmo
acontecimentos negativos são influenciados por nós de alguma maneira.
Por uma lógica ainda impenetrável, quando testemunhamos uma tragédia,
somos de alguma forma responsáveis por ela.
Isto significa que NÃO EXISTEM ESPECTADORES INOCENTES NA COLISÃO
CONHECIDA COMO VIDA, NENHUM CAMAROTE DE ONDE POSSAMOS ASSISTIR E
DESFRUTAR DOS FESTEJOS. COM A TRANSFORMAÇÃO VEM RESPONSABILIDADE.
Sendo meu pai um grande erudito e cabalista, cresci no meio de
histórias dos grandes heróis espirituais, e fui particularmente tocado
pelo exemplo de Moisés. Ele abandonou a vida de conforto na casa do
Faraó e suportou a dor e o sofrimento de conduzir os israelitas para
fora da escravidão. Sua compaixão pela desgraça humana superava de longe
seu apego ao conforto. Eu costumava pensar que homens como Moisés
existiam para serem admirados, mas vim a descobrir que eles existem para
serem imitados. Chega uma hora em que cada um de nós deve deixar o
palácio do Faraó e ousar sair da mediocridade confortável. Deixar a
indignação crescer e a compaixão aflorar, em favor tanto daqueles que se
encontram nas alas de pesadelo da prisão, "os miseráveis da terra",
como daqueles na ala do colarinho branco, os que podem dispor de TV a
cabo, mas estão igualmente separados de Deus, igualmente condenados à
morte.
Um homem realizou uma longa viagem até seu mestre levando notícias
tristes: ele tinha um filho cujo estado de saúde era grave e os médicos
tinham perdido as esperanças. Sem a intercessão do mestre o menino
certamente morreria. "Existe alguma coisa que você possa fazer para
ajudar?"
O mestre começou a rezar e meditar, tentando de tudo, mas depois de
horas de esforço se voltou com tristeza para o aluno: "Desculpe-me",
disse, "mas os portões do céu estão fechados. Não há nada que eu possa
fazer por seu filho."
O homem ficou desolado. Montou no cavalo e começou a viagem para
casa. Quando a noite ia caindo, escutou um galope atrás dele. Voltou-se e
viu seu mestre.
Imediatamente, pensou que talvez seu mestre tivesse conseguido enfim
abrir os portões do céu. "Quais as novidades?", perguntou ansiosamente.
"Desculpe-me", disse o mestre. "Os portões do céu continuam fechados.
Mas depois que você partiu percebi que embora não possa ajudá-lo com
minhas orações e meditações, pelo menos posso chorar com você. Foi por
isso que eu vim." Os dois homens se sentaram juntos em cima de uma pedra
ao lado da estrada e choraram.
Compaixão é o que somos obrigados a sentir. Fazer o que podemos.
Compartilhar, ajudar, diminuir qualquer sofrimento que esteja em nosso
poder aliviar. Ou simplesmente sentar com outra pessoa em cima de uma
pedra e chorar. MAS A FORMA MAIS PODEROSA DE COMPAIXÃO É TRAZER MAIS
LUZ PARA O MUNDO. PERMITIR QUE A DOR E O SOFRIMENTO ALIMENTEM NOSSA
JORNADA PARA NOS TORNARMOS COMO DEUS, E AJUDAR OS OUTROS EM SUA
JORNADA, DE TAL FORMA QUE, EM VEZ DE FAZER UMA PEQUENA LASCA NA DOR
DA TERRA, CRIAMOS UMA FORÇA DE PODER INIMAGINÁVEL DE SERES
TRANSFORMADOS. NA OBRIGAÇÃO DE LIVRAR O MUNDO DO SOFRIMENTO, TORNAR-SE
COMO DEUS SE TORNA O ATO ÚLTIMO DE COMPAIXÃO.
"Não entre dócil nesta noite boa", escreveu o poeta galês Dylan Thomas. "Enfureça-se, enfureça-se contra o morrer da luz." Com toda sua eloquência, Thomas estava ligeiramente enganado, porque a Luz nunca morre. Somos nós, nascidos numa prisão, que não conseguimos enxergá-la.
Quando a compaixão é interminável, nos enfurecemos contra o morrer da luz. Mas não quando morremos.
Nós nos enfurecemos contra o morrer da luz enquanto estamos vivos.
EPÍLOGO: UMA JANELA EM NOSSOS CORAÇÕES
Certa vez um grande cabalista levou seu aluno mais próximo até uma
janela e ficaram sentados juntos durante horas. Os dois choraram o tempo
todo.
Quando o mestre foi embora, os outros alunos correram para a janela. "O que nosso mestre lhe mostrou?", quiseram saber.
O aluno respondeu: "Ele me mostrou toda a Luz que será revelada -
toda a alegria e toda a satisfação - quando uma massa crítica de pessoas
tiver se transformado... quando tivermos feito nosso trabalho."
"Isto fez vocês chorarem?", os alunos perguntaram surpresos.
O aluno respondeu: "Sim, porque ele me mostrou também toda a dor e
todo o sofrimento que o mundo terá que passar para alcançar essa
satisfação."
A cada noite, quando coloco meus filhos na cama, sinto gratidão por ter
encontrado a sabedoria que compartilhei aqui com você. Como sinto amor
por meus filhos, sei que esta informação pode salvá-los. Depois, sou
abatido por um temor: e se eu não completar a jornada? E se o mundo não
completar sua jornada? O que será de meus filhos, o que será dos filhos
deles, se não passarmos pela porta que se abriu para nos tornarmos como
Deus?
E se a dor, o sofrimento e a morte triunfarem?
Então me lembro, com absoluta certeza: é nosso destino nos tornarmos como Deus.
Cada um de nós tem uma janela em seu coração, uma janela que nos mostra o que poderia ser. Nossa tarefa, toda vez que cruzamos com alguém sentindo dor, é levar a pessoa para essa janela e mostrar o que nos aguarda do outro lado do sofrimento.
NOSSA TAREFA É AJUDAR O MUNDO A ALCANÇAR UMA MASSA CRÍTICA DE PESSOAS NO CAMINHO DE SE TORNAR COMO DEUS, PARA QUE A DOR, O SOFRIMENTO E A MORTE DESAPAREÇAM. Preocupar-se com o mundo desta maneira é parte do processo de se tornar como Deus, porque sentir a dor da humanidade e se esforçar incessantemente para acabar com ela é um aspecto de ser como Deus.
NOSSO DESTINO É NOS TORNARMOS COMO DEUS.
O Oponente tentará nos fazer esquecer. Não esqueceremos. Ele tentará
enfraquecer nossa decisão de mudar. Não permitiremos que isso aconteça.
Repetidamente nos relembraremos do que estamos tentando fazer e por que
estamos tentando fazê-lo.
NOSSO DESTINO É NOS TORNARMOS COMO DEUS.
Abriremos as portas da prisão, para nós mesmos, para nossos filhos e para o mundo.
NOSSO DESTINO É NOS TORNARMOS COMO DEUS.
E eliminar a dor, o sofrimento e a morte para sempre.
Rav Michael Berg
http://busca-espiritual.blogspot.com
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