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domingo, 11 de novembro de 2018

SOBRE A ÉTICA

Não é com a luz que vem de fora que se pode iluminar tão transcendente objeto de contemplação, mas sim com a luz que vem de dentro, a luz que as trevas não vencem. É preciso que o homem se ilumine a fim de que possa saber por si mesmo.

O observador apressado, que perlustra as veredas das mensagens dos Mestres e os textos sagrados chega a errôneas conclusões que os dividem em seitas, religiões e doutrinas diferentes. Chega mesmo a entender de modo aberrante os ensinos e as verdades. Estas, mesmo que aceitas, quase sempre permanecem como conhecimentos muito bonitos, mas inexequíveis, não conseguindo sequer transformar o comportamento e o mundo do crente. Nesse estado, pensam como pedras. Soam como proibições vindas dos mentores irascíveis, como lições de um instrutor demasiado teórico e verbalista, como ameaças de um punidor oculto e indiferente à fragilidade humana. Parecem metas assaz divorciadas das vulgares possibilidades humanas. Desanimado por não poder tornar-se tão perfeito, o caminhante termina por enveredar pela estrada mais larga do mal, certo de ser-lhe impraticável a estrada estreita.

Sem coragem, sem fé, sem destino, sem esperanças, erra pelos desvios, entregando-se a toda sorte de fraquezas, a fugas, a extravagâncias, delinquência, enfermidade, neurose, conflito, bebedeiras, luxúria. Ansiosamente persegue míticas compensações, excitantes experiências, tornando-as como solução para a grande infelicidade que é o viver sem objetivo, sem explicação, sem paz, sem consolo. Cada vez que peca, mais se compromete com o pecado, como o cavaleiro que tombou do cavalo e que acha mais segurança em fundir-se com a lama. Isto é o que acontece a muitos homens, os quais alcançam ver que na ética ensinada pelos Grandes Mestres as mensagens de esperança, felicidade, alegria e consolo constituem a sua essência última.
 
Hermógenes, Auto-Perfeição com Hatha-Yoga
http://yogahermogenes.blogspot.com 
     
Sem amor, não é possível ser ético  
 
Na realidade, você não tem amor. Você tem prazer, tem sensação, tem apegos sexuais, tais como a família, a esposa, o marido, o apego a uma nação. Mas prazer não é amor. E o amor não é algo divino ou profano: não há divisão. O amor significa algo a cuidar: cuidar de uma árvore, do seu vizinho, do seu filho – providenciar educação correta para o seu filho, e não só colocá-lo numa escola e sumir, a educação correta, e não apenas educação tecnológica, e providenciar para que as crianças tenham os professores certos, o alimento certo, que elas entendam a vida, entendam o sexo. Restringir-se a ensinar geografia, matemática ou alguma coisa técnica que lhes dê um emprego – isso não é amor. E, sem amor, você não pode ser ético – você pode ser respeitável, isto é, você pode se conformar à sociedade: você não rouba, não vai atrás da mulher do próximo, não faz isso nem aquilo. 
 
Mas isso não é moralidade, isso não é virtude; é somente a conformidade da respeitabilidade. Respeitabilidade é a coisa mais terrível e repugnante do mundo, porque ela abrange tantas coisas feias. Por outro lado, quando existe amor, existe moralidade: faça você o que fizer, será ético se houver amor. 
 
Krishnamurti - The Collected Works
http://legacy.jkrishnamurti.org 
     
Ética budista – os cinco preceitos

No Budismo, os cinco preceitos são aqueles que devem ser mantidos pelos devotos leigos masculinos (upāsakas) e devotos leigos femininos (upāsikās). Essa é a virtude dos preceitos para a vida do leigo e são a guia para o comportamento ético.

“Não matar”- Quando a pessoa mesma mata ou manda outro para fazê-lo (conspirar com outros para matar) , acabando com a vida de um ser consciente. Isto também é matar. Matar a alguém sem intenção não é assim um delito grave. Entre todas as mortes de seres conscientes, matar humanos é naturalmente o crime mais grave. Danificar aos outros – com facas, lanças, peças de cerâmica, pedras, etc. – contudo não é considerado tão grave como o crime de matar,mas também pertence à categoria de matar assim como o suicídio.

“Não roubar”- Isto é aplicado a todas as coisas – nacionais, pessoais ou budistas – que possuem proprietários. Nós quebramos o preceito de não roubar se tomarmos, ocuparmos pela força ou apropriarmos de coisas sem o consentimento do dono. Segundo o Dharma de Buda, não podemos usar a escusa de estarmos famintos, doentes ou com vontade de manter aos nossos pais, mulher e filhos para roubar. Todo roubo é condenado.

“Não se envolver em uma conduta sexual imprópria” -
Se um homem e uma mulher convierem em se tornar marido e mulher pelos ritos de reconhecimento público, com a aprovação dos tutores e não violando as leis seculares, então o contato sexual entre marido e mulher (que é um elemento importante da formação familiar para a continuação da posteridade) é próprio e não é condenado.

Ainda em casos onde a outra parte o consentir, a conduta sexual é imprópria para os leigos se isso não for permitido pelo Dharma de Buda (por exemplo, quando receber os oito preceitos), não permitido pela lei secular ou não aprovado pelos respectivos tutores. Os devotos leigos budistas devem evitar esse contato. Esse contato não prejudica só a capacidade da outra pessoa para adotar eleições livres de influências externas, mas também é uma conduta ruim que quebra a harmonia das famílias e perturba a ordem da sociedade.

“Não fazer depoimentos falsos” - Algumas vezes fazemos depoimentos não verdadeiros para o nosso próprio benefício, para o benefício dos nossos parentes e amigos ou para danificar ao nosso inimigo. O preceito de não mentir aplica-se ainda a dizer conhecer alguma coisa que não conhecemos e negar que conhecemos alguma coisa quando sim a conhecemos; dizer que tem uma coisa quando isso não for verdade e dizer que não tem uma coisa quando sim a tem; e dizer que uma coisa é certa quando ela não o for e vice-versa. Fazer depoimentos falsos para nos beneficiar e para beneficiar aos nossos parentes, mas produzindo dano aos outros, cometemos o grave crime de mentir. Para outros tipos de depoimentos falsos o crime é mais ligeiro.

Os quatro preceitos acima referidos são chamados de preceitos naturais porque os mesmos atos são crimes. Assim, fazer estas coisas é impróprio sem considerar se nós aceitamos ou não os preceitos. O Dharma de Buda não permite estes atos e também as leis seculares vão nos punir por essa conduta.

“Não beber álcool” Qualquer substância que tem a capacidade de perturbar ou confundir a nossa mente é chamada de álcool e não devemos consumi-lo nunca.

Contudo se algumas pessoas falarem que beber álcool é bom para nossa saúde, segundo o Dharma de Buda isto não merece qualquer mérito. No primeiro lugar, beber álcool pode perturbar a nossa mente e produzir a perda de nosso autocontrole. Quando estamos bêbados fazemos erros e falamos coisas ou cometemos atos ruins que somos incapazes de fazer de maneira regular. No Vinaya tem uma história relativa a um discípulo budista que era muito restrito ao fato de manter os preceitos, mas quem, depois de se tornar confundido pela bebida, cometeu os quatro crimes graves de matar, roubar, ter uma conduta sexual imprópria e mentir, tudo isto no mesmo dia. Devido a razões como esta, é conhecido que beber pode destruir todas as virtudes. De maneira efetiva, não são só as virtudes do Dharma de Buda as que são destruídas pela ingestão de álcool. A felicidade das famílias, as amizades, os negócios e o patrimônio são muitas vezes destruídos. No segundo lugar, o desarranjo e a ignorância são as raízes de todos os crimes por causa da bebida. Beber com frequência é um grande obstáculo para manter a saúde mental e o conhecimento certo. Algumas pessoas, devido a que sempre estão bêbadas, têm filhos que nascem insanos ou com séria retardação mental. Contudo o ato de beber não parecer ruim, esse ato é um dos principais culpados que impedem a sabedoria, destruindo as virtudes. Além dos primeiros quatro preceitos, em consequência os budistas deveriam manter seriamente o preceito de não beber para guardar suas virtudes e avançar para as doutrinas que transcendem o mundo, que têm à sabedoria como fundação.

Aquele que manter os cinco preceitos por toda a vida receberá toda a boa fortuna.
 
Os cinco preceitos acima referidos são preceitos puros que deveriam ser mantidos pelos upāsakas e upāsikās.

Quando procuramos refúgio expressamos a vontade de: “Eu vou procurar refúgio toda a minha vida no Buda, no Dharma e no Sangha”; devemos ainda aceitar e manter os cinco preceitos por toda a vida e fazer votos para seguir os Três Tesouros; aceitar os cinco preceitos é a prática efetiva de seguir os Três Tesouros. As pessoas que procuram refúgio mas que não aceitam nem mantêm os cinco preceitos podem ser chamadas de upāsakas e upāsikās, mas só de nome. Quando procuramos refúgio e dizemos “A contar de hoje até o final da minha vida vou proteger aos seres viventes”, este é o voto para aceitar os preceitos.
 
Aqueles que com sinceridade procuram refúgio nos Três Tesouros não rejeitarão aceitar e manter os cinco preceitos. A fé sem um melhoramento relevante na conduta de uma pessoa é uma prova clara da ausência da fé real. Não podemos ser upāsakas completos se não temos uma fé real.

Depois de ter aceitado os cinco preceitos e de ter a capacidade de mantê-los com pureza, teremos a boa fortuna. Isto pode ser comparado ao fato de obter uma pérola que outorga desejos; depois de obtê-la podemos obter também outros tesouros. Mantendo os preceitos não quebramos as leis seculares e assim ganhamos respeito da sociedade. Isto satisfaz aos humanos e aos seres divinos e os espíritos divinos aparecerão para nos proteger. Os fantasmas e espíritos malvados farão todas as diligências para retroceder; tudo será auspicioso. Aqueles que têm mentes puras e que mantêm os preceitos sem fazer o mal podem renascer como humanos ou seres divinos; com os preceitos como fundação para a meditação e sabedoria, eles podem iniciar o mérito que transcende o mundo.

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