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terça-feira, 29 de agosto de 2017

VIVENDO O TAO - 
VIVENDO NO MOMENTO 



Você as vezes se sente incapaz de abandonar fatos do passado, ou de para de se preocupar com o futuro? Quando me sinto assim, eu lembro uma excelente história Zen:

Um dia, andando na selva, um homem encontrou um tigre feroz. Ele correu para salvar sua vida, perseguido pelo tigre.

O homem chegou à beira de um precipício, e o tigre estava quase alcançando-o. Sem opção, ele se agarrou a uma parreira com suas duas mãos, e desceu.

No meio do precipício, olhou para cima e viu o tigre no topo, arreganhando os dentes. Ele olhou para baixo, e viu outro tigre, rugindo e esperando sua chegada. E ficou preso entre os dois.

Em seguida, apareceram dois ratos sobre o precipício, um branco e outro preto. Como se ele não tivesse com preocupações suficientes, os ratos começaram a roer a parreira.

Sabia que se os ratos continuassem a roer, chegaria um ponto em que a parreira não poderia suportar seu peso, causando sua queda. Tentou espantar os ratos, mas eles voltavam e continuavam a roer.

Neste momento, ele observou um morangueiro crescendo na parede do precipício, não muito longe dele. Os morangos pareciam grandes e maduros. Segurando-se na parreira com apenas uma das mãos, com a outra colheu um morango.

Com um tigre acima, outro abaixo, e com os ratos continuando a roer a parreira, o homem comeu o morango e achou-o absolutamente delicioso.

Esta história é sobre viver o momento. Apesar de sua situação desesperadora, o homem escolheu não deixar que os perigos potenciais o paralisassem. Ele continuou capaz de aproveitar o momento e saboreá-lo.

A história está cheia de metáforas. Todos os elementos importantes da história são representações que possuem um significado mais profundo.

O topo do precipício representa o passado. É onde o homem esteve e de onde ele vem. Em termos de sua história pessoal, esta metáfora representa todas as experiências e memórias da vida que você já viveu.

Subir pela parreira em direção ao topo do precipício seria revisitar o passado. O tigre no topo representa o perigo de insistir no passado. Se ficarmos constantemente nos punindo por não ter feito certas coisas tão bem como deveríamos, ou se chafurdamos em arrependimento e vergonha sobre os erros que cometemos, então o tigre nos está abocanhado com suas presas afiadas. Se não pudermos abandonar as experiências negativas do passado que nos tornam tímidos e medrosos, ou se nos sentimos vítimas por termos tido um passado traumático ou de abusos, então o tigre está conseguindo dar um mordida dolorosa.

O tigre também representa a impossibilidade de voltar no tempo para corrigir alguma coisa. Algumas vezes gostaríamos de voltar o relógio e refazer algumas coisas. Talvez você pense na resposta perfeita muito depois do momento ter passado; talvez tenha existido alguém muito especial no colégio, de quem você deveria ter se aproximado, mas não o fez; talvez tenha dito algo ofensivo a uma pessoa que amava, e faria qualquer coisa para voltar atrás. Infelizmente, o caminho do tempo não tem volta - o tigre assustador vigia o topo do precipício, e nós, meros mortais, não podemos passar.

A base do precipício representa o futuro. É uma terra desconhecida, um capítulo não escrito. O futuro contém todos os seus sonhos e medos, aspirações e desapontamentos, vitórias potenciais e possíveis fracassos. É o misterioso e incerto domínio do amanhã.

Descer pela parreira, para mais perto da base do precipício é olhar para o frente e especular sobre o futuro. O tigre na base representa o perigo de ficar excessivamente preocupado com o que está por vir - particularmente se isto custar nossa habilidade de agir ou manter a paz de espírito.

Muitos de nós tivemos a experiência de preocupação exagerada com uma futura palestra, exibição ou entrevista de emprego. Pensamos em tudo o que pode dar errado. Não pudemos ter uma boa noite de sono porque estávamos muito nervosos sobre o próximo dia.

E o que acontece quando o evento chega? Nossa inabilidade em relaxar nos desconecta do gênio criativo do Tao. Não conseguimos dar o melhor de nós. Não temos como conduzir todo esse nervosismo para uma ação efetiva; ele se expressa como tensão e stress. Nos descemos muito na parreira, ficamos muito perto do tigre, permitindo que nos morda.

O tigre na base representa também a morte. A morte espera pacientemente por todos nós no futuro. Ela sabe que mais cedo ou mais tarde estaremos ao seu alcance. Quando o tigre ruge para nós, sentimos o vento gelado da morte.

A posição do homem entre os dois tigres representa o presente. Observe que ele está suspenso no meio do precipício. Da mesma forma, também vivemos suspensos entre o passado e o futuro,

O que chamamos de "agora" ou "momento presente" pode ser um conceito bastante difícil de precisar. Assim que se aponta para um instante e o definimos como "agora", ele passa e não é mais o presente. Outro instante, igualmente fugaz, toma o seu lugar. Por mais que se esforce, não conseguirá fixá-lo.

O presente, como o Tao, desafia uma definição. Por mais que possamos medir o tempo com grande precisão, essa precisão técnica não nos ajuda a isolar uma fatia infinitesimal de duração zero. Apesar de termos a tecnologia para construir um relógio atômico com margem de erro menor que dez bilionésimos de segundo, todos os relógios atômicos do mundo não podem capturar a mágica do momento presente.

Apesar de capturar um instante estar além de nosso alcance, o paradoxo da existência é que o presente é o que temos. Mais: é tudo que podemos ter. Não se pode ter o passado ou o futuro; um já passou irremediavelmente, e o outro ainda está por vir. O presente está aqui e agora, e o possuímos completa e incondicionalmente. Ninguém pode tirá-lo, e só você tem o poder de decidir como usá-lo.

A parreira representa a vida no mundo material. Da mesma forma que o homem segura a parreira com as duas mão, apegamo-nos teimosamente à vida física. Nosso instinto de sobrevivência nos compele a agarrá-la, e não a abandonaremos sem luta.

Descer pela parreira não é uma atividade opcional. O homem, mesmo ameaçado pelo tigre, não tem escolha senão descer. Da mesma forma, assim que nascemos neste mundo não temos escolha senão viver nossa vida de momento para momento. Assim a parreira pode ser vista como o componente principal da samsara - o ciclo da vida e da morte.

Os dois ratos representam a passagem do tempo. São branco e preto apenas para simbolizar o dia e a noite.

Os ratos roem a parreira, fazendo com que fique cada vez mais fraca. isto representa como cada ciclo de dia e noite nos aproxima da morte. Quando a parreira se rompe, o homem cai para uma condenação certa. Da mesma forma, quando um número suficiente de dias e noites tiver passado, a vida a que nos prendemos se romperá, e será o tempo para encontrar inevitabilidade da morte. Não teremos opção senão confrontar o tigre.

Da mesma forma que o homem tenta espantar os ratos, tentamos retardar o envelhecimento e evitar as doenças. Temos indústrias inteiras voltadas a nos manter jovens e saudáveis, ou pelo menos a manter a aparência de juventude e saúde. Considere as vitaminas, suplementos alimentares, tratamentos, spas, terapias de reposição hormonal, operações plásticas, lipoaspirações, transplante de cabelos, outros implantes ...

Mas da mesma forma que os ratos voltam o tempo avança e não se retarda para ninguém. Apesar de nossos esforços, nosso tempo neste plano mortal continua limitado.

O morango representa a beleza inesperada, a bem-aventurança, a energia e a vitalidade do momento presente. Está sempre aqui, sempre disponível para os que tem a habilidade de vê-la e fruí-la.

Por exemplo, neste mesmo momento você pode estender sua percepção e sentir o milagre da comunicação que permite que pensamentos e idéias passem entre nós. Você pode sentir como é surpreendente que esta conexão interpessoal seja possível. É um prodígio e uma maravilha, bem aqui, e que não pode ser facilmente expressa em palavras.

Saia e se ponha em comunicação com a natureza. Seja uma testemunha silenciosa do gênio do Tao em ação. Perceba a natureza como interação sem fim de forças naturais, turbilhonando a sua volta e dentro de você. Sinta como os processo naturais se conduzem, do microcósmico ao macrocósmico, regulados por uma inteligência intrínseca muito além de nosso alcance.

Há tanta beleza e bondade em cada momento presente e em cada instante infinito, que seriamos completamente esmagados pela sensação se absorvêssemos muito de uma vez. Na linguagem da nossa história, podemos dizer que o morango está cheio de um suco incrivelmente delicioso.

Colher o morango é aproveitar o momento. Quando o fizer, estará sendo consciente do presente, dirigindo sua atenção para o fluxo que se move através de você, e escolhendo imergir inteiramente no rio do eterno agora.

Provar o morango é saborear inteiramente o aroma da realidade. Quando o fizer, começará a apreciar o milagre da existência e a observar a beleza que está sempre presente, onde quer que olhe, o que encherá seu coração de alegria e gratidão.

Colher e provar o morango é uma coisa mais fácil de falar do que de fazer. Na maior parte do tempo, temos dificuldade em penetrar num forte estado de atenção que nos permite captar o momento e saborear a realidade. Há vários obstáculos no caminho.

O primeiro obstáculo, que a maioria dos cultivadores do Tao já superou, é a falta de atenção ao presente. Muitas pessoas vivem cada dia olhando para o passado ou preocupando-se com o futuro, sem atentar para o tesouro do presente que já possuem. Nos termos da história, é como se o homem estivesse tão ocupado olhando para cima e para baixo que nunca observasse o fruto suculento próximo a ele.

O segundo obstáculo é mais difícil de superar, e a maioria de nós o encontra de tempos em tempos. Considere um cenário em que o homem vê o morango, mas como está muito preocupado com o tigre acima, e temeroso do tigre abaixo, não tem apetite. Apesar de saber muito bem onde o morango está, não tem interesse em pegá-lo.

Alguém que esteja nessa situação poderá dizer "É muito interessante compreender as metáforas dessa história, mas há uma grande distância entre a compreensão e a prática. Eu posso até concordar que meu objetivo deva ser viver no momento, mas como é que se faz isto?

A história oferece uma sugestão. Quando o homem viu o morango, segurou-se na parreira com apenas uma das mãos, e moveu a outra na direção do morango. Esta ação incorpora dois elementos essenciais: abandonar e explorar.

O homem não poderia pegar o morango se insistisse em se segurar com as duas mãos. Com as duas mãos ocupadas, o máximo que poderia fazer seria ficar olhando o morango. Para conseguir o prêmio, precisou soltar uma das mãos.

A mesma coisa acontece na vida. A parreira representa nossa existência física neste plano material. Segurá-la com força é equivalente a ter forte apego às coisas materiais. Com este apego, não se pode abandonar. Este é um método seguro para evitar que se aproveite o presente.

Isto parece simples quando se fala, mas pense nas pessoa que conhece que estão tão focadas em ganhar e guardar dinheiro que nunca tem tempo para aproveitar a vida. Se observá-los, vai constatar que não conseguem relaxar nem quando exercem outra atividades. Por exemplo, não conseguem parar de pensar no escritório mesmo quando tiram férias. Nos termos da nossa história, essas pessoas estão fortemente agarradas à parreira.

Eu conheço um cidadão cujo apego é pela bolsa de valores. É um day-trader que observa a evolução da bolsa a cada minuto. Quando os amigos falam com ele ao telefone, podem sempre dizer quando os símbolos das suas ações passam pela tela do computador, porque de repente suas respostas se tornam muito mais lentas. É um caso claro onde seu forte apego a preocupações materiais bloqueiam completamente sua capacidade de apreciar uma conversa com velhos amigos - uma das melhores coisas da vida.

O outro elemento, igualmente importante, é expandir-se, explorar. Ficar na zona de conforto é obviamente confortável, mas não oferece nada de novo. Para pegar o morango, é preciso se aventurar além do familiar, para procurar por um prêmio que está a vista, mas ainda não ao alcance da mão.

O Tao se manifesta na vida, e a característica da vida é o crescimento. A vida está sempre explorando novos territórios, correndo riscos e indo a lugares em que nunca esteve. Se fizermos o mesmo, vamos descobrir que a vida é doce, excitante e cheia de possibilidades. Veremos que viver no presente é fácil e divertido.

Nossa história ensina que quando temos dificuldade em viver inteiramente no momento, apenas precisamos nos fazer perguntas como estas:
Quais são meus apegos? Quais são algumas coisas que não posso abandonar? Que apegos estou disposto a abandonar para viver a vida ao máximo?
Estou aprendendo algo novo? Encontrando outras pessoas? Quais são alguns assuntos interessantes que eu poderia estudar? Quais são alguns projetos interessantes que eu poderia realizar?

Suas respostas a questões desse tipo indicarão o caminho a seguir. Formule seus planos de acordo com elas.

À medida que segue seu plano de ação para viver conscientemente no momento, você achará cada vez mais fácil parar de chafurdar no passado ou se preocupar excessivamente com o futuro. Na medida que apreciar cada vez mais o presente, vai descobrir que lembranças desagradáveis ou mesmo dolorosas não mais o afetam; que preocupações ou mesmo medo das incertezas do futuro não mais o paralisam.
 
Descobrirá que o presente é literalmente um presente maravilhoso. É uma dádiva milagrosa cheia de paz, satisfação, energia e estímulos. É um caixa cheia de deliciosos morangos.
 
Você começará a constatar que a única exigência para merecer essa dádiva é que a aceite e a aprecie. Ficará surpreso de que existam pessoas que não a aceitem. Eles não a reconhecem como um direito nato, nem compreendem seu incrível valor.
 
Você se fecha em seus pensamentos. É tempo de se abrir para seu próprio presente.





Derek Lin
Fonte:unversomistico



Não persiga o passado.
Não se perca no futuro.
O passado já não existe.
O futuro ainda não veio.
Olhando a vida profundamente como ela é
exatamente no aqui e agora,
o praticante vive
em estabilidade e liberdade.

(Theranama Sutra - Buddha)

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