SOBRE A FELICIDADE
... Os homens, segundo o jesuíta Teilhard de Chardin, dividem-se em três grupos que partem para escalar uma montanha…
“Alguns não estão irritados pela partida. O sol brilha, a vista é
bela. Mas para que subir mais alto? Não é melhor aproveitar a montanha
onde nos encontramos, em meio aos prados e no bosque? E se deitam sobre a
grama, ou exploram ao redor, esperando a hora do piquenique. Os
últimos, enfim, os verdadeiros alpinistas, não tiram os olhos dos picos
que decidiram subir. E seguem adiante.
Os cansados, os brincalhões, os fervorosos. Três tipos de Homem, que
cada um de nós traz em semente no profundo de si mesmo, e entre os
quais, desde sempre, divide-se a humanidade que nos circunda.
Os cansados (ou os pessimistas)
Para esta categoria de homens, existir é um erro, ou um falimento.
Somos mal comprometidos, e por consequência se trata de abandonar o jogo
o mais rápido possível. Levado ao extremo e colocado em uma doutrina
sábia, esta atitude resulta da sabedoria hindu, pela qual o Universo é
uma ilusão e uma cadeia. Mas de modo mais amortecido e comum, a mesma
disposição se encontra e se revela em um mar de julgamentos práticos que
bem conheceis. ‘Que sentido tem buscar? Por que não deixam os selvagens
seu mundo selvagem e os ignorantes a ignorância? O que quer dizer a
Ciência? Não se está melhor deitado que em pé? Mortos, ao invés de
mentir?’ Tudo isso significa, ao menos implicitamente, que é preferível
ser menos que mais; melhor ainda, não ser absoluto.
Os brincalhões (ou os foliões)
Para estes homens da segunda espécie, é melhor ser que não ser. Mas,
estejamos atentos, “ser” tem um sentido todo particular. Ser, viver,
para os discípulos desta escola, não é agir, mas curtir o presente.
Curtir cada momento e cada coisa zelosamente, sem perder nada, e
sobretudo sem se preocupar em mudar atitude: nisto consiste a sabedoria.
Não se arrisca nada pelo futuro, a menos que para um excesso de
refinamento. Não se envenena apreciando o risco pelo risco, para provar o
prazer de ousar ou sentir a emoção do medo.
Assim é para nós, de uma forma simplificada, o antigo hedonismo
pagão de Epicuro. E não muito tempo atrás, nos círculos literários, esta
era a mesma tendência de Paul Morand, ou de um Montherrant, ou mais
sutil, de um Gide, pelo qual o ideal da vida é beber sem nunca acabar
com a própria sede. Não para retomar a forma, mas para estar pronto a
curvar-se mais e rapidamente sobre qualquer nova fonte.
Os fervorosos
Aqui me refiro àqueles pelos quais a vida é uma subida e uma
descoberta. Para os homens que formam esta terceira categoria não
somente é melhor ser que não ser, mas é sempre a possibilidade – e é a
única que interessa – de se tornar alguma coisa a mais. Para estes
conquistadores apaixonados de aventura, o ser é inesgotável – não à
maneira de Gide, como uma jóia de mil facetas, que se pode girar em
todos os versos sem nunca se cansar, mas como um fogo de calor e de luz,
ao qual é possível aproximar-se sempre mais. Pode-se importunar estes
homens, tratá-los de ingênuos ou achá-los chatos. Mas depois de tudo são
eles que nos fizeram e que preparam a Terra do Amanhã.
Pessimismo, e volta ao passado, curtição do presente, impulso para o futuro. Três atitudes fundamentais frente à Vida.
A partir disso, inevitavelmente, ao centro mesmo do nosso problema, eis três formas contrastantes de felicidade:
1) Felicidade de tranquilidade. Nenhum tédio,
nenhum risco, nenhum esforço diminui os contatos, limitamos na
necessidade, reentramos na nossa concha. O homem feliz é aquele que
pensará, sentirá e desejará menos.
2) Felicidade de prazer, prazer imóvel, ou mais
ainda, prazer continuamente renovado. O propósito da vida não é agir e
criar, mas aproveitar. Ainda menos esforço, portanto, ou aquele tanto
necessário para tomar a taça de liquor. Relaxar o máximo possível, como a
folha no raio de sol, mudar de posição a cada instante para sentir
mais: eis a receita da felicidade. O homem feliz é aquele que sabe
sentir o instante que tem entre as mãos no mundo mais completo.
3) Felicidade de crescimento ou de desenvolvimento.
Para este terceiro ponto de vista, a felicidade não existe nem tem
valor por si mesma, não é outro que o sinal, o efeito e a recompensa da
ação guiada. ‘Um subproduto do esforço’, dizia Aldous Huxley. Não basta,
como sugere o moderno hedonismo, renovar-se em um modo qualquer para
ser feliz. Nenhuma mudança santifica, torna feliz, ao menos que não se
haja avançando e em saída.
O homem feliz é aquele que, sem buscar diretamente a
felicidade, encontra inevitavelmente a alegria no ato de alcançar a
plenitude e o ponto extremo de si mesmo, para adiante”.
Fonte: http://pt.aleteia.org
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