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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

A TRAJETÓRIA DO PEREGRINO E A PERSEVERANTE ENTREGA NO CAMINHO ESPIRITUAL


No momento atual, o empenho em superar os obstáculos na trajetória evolutiva precisa ser diligentemente assumido pelo aspirante e pelo discípulo. Diante de uma situação que os impeça de prosseguir, pouco adiantará lançarem-se contra ela ou deterem-se pesarosos; devem reunir as próprias energias e, sob inspiração interior, encontrar o modo de transcendê-la, procurando encontrar o caminho.
 
Não há barreira que não possa ser vencida, não há escuridão que não possa ser permeada pela luz. Muitas vezes acontece de forças involutivas, aproveitando-se das fraquezas do peregrino, incutirem-lhe a ilusão da intransponibilidade de um obstáculo. Portanto, a determinação em prosseguir deve estar sempre presente no ser e também a fé de que será amparado e suprido naquilo que com as próprias forças não puder realizar.

Se o homem não chega a desiludir-se das capacidades materiais que possui, não descobre o imenso potencial que pode fluir por intermédio do seu ser interior. Para que participe da existência em níveis profundos, deve ter conhecido a desilusão, pois nela está a possibilidade de abdicar das ligações com o mundo e de lançar-se corajosamente no desconhecido.
 
É muito comum às pessoas, mesmo que já tenham percorrido certo trajeto do caminho espiritual e estejam sinceramente buscando a luz, não se livrar de suas tendências e apegos humanos. Mantêm-se iludidas, imaginando-se auto-suficientes. Criam uma teia de novos compromissos em suas vidas, pensando com isso estar servindo à obra da criação.
 
A sabedoria interior procura utilizar tudo para o bem, e a misericórdia transforma o que seria um mal em fonte de impulso para o desenvolvimento dos seres. Todavia, se o indivíduo está procurando servir unicamente ao Supremo, e se pode, por pouco que seja, compreender o perspicaz e dissuasivo jogo das forças involutivas, não deve dispersar a energia superior num trabalho de desfazer e redirecionar o que ele próprio poderia ter evitado.

Diante das situações facultativas, que são tantas no viver diário, o ensinamento apresenta a lei espiritual e cósmica; entretanto, a decisão de acatá-la caberá sempre ao próprio peregrino. Não se pode avançar no caminho evolutivo se não se está em sintonia com o destino ao qual ele conduz, e essa sintonia é traduzida por uma obediência aos desígnios superiores, expressões de leis criadoras.
 
A vida imutável também se expressa por meio de leis. Porém, obedece a uma organização distinta da vida evolutiva, segue outra dinâmica, até agora desconhecida da maioria da humanidade.

Existe no cosmos a possibilidade de interpenetração de universos e de linhas evolutivas. Tal possibilidade está presente nos chamados milagres e na manifestação de muitos fatos misteriosos, realidades pertencentes a mundos imateriais e que se refletem no mundo das formas. 
 
Aquele que verdadeiramente se entrega à senda do espírito não espera recompensas, tampouco busca satisfações. Ele sabe que a gratidão é o fio que o conduz no escuro labirinto da vida humana, que a humildade é a única trilha segura para seus pés descalços e que a silenciosa e ardente aspiração é a tocha que será acolhida pelo fogo da resplandecente luz.

O ensinamento é para ele lei, vida. alimento para sua alma, fogo de mil luzes, o ensinamento resplandece em fulgor e glória a cada passo que o peregrino dá em direção ao encontro.
 
Constitui para o peregrino uma prova não ter nenhuma novidade que o anime e que o faça caminhar, pois deve, mesmo assim, permanecer fiel à meta a que se propôs cumprir. Sua consciência precisa manter-se no essencial e não enveredar por atividades que não sejam realmente necessárias. Para todos, inclusive para os que são regidos pela energia da atividade, chega o momento de cessar os movimentos e aguardar que uma Luz maior lhes indique a direção a seguir.
 
A fidelidade à meta é conseguida mais facilmente quando se navega velozmente, com horizonte claro e céu limpo, ou em meio a tempestades, em que o empenho e a desenvoltura dos marinheiros são solicitados ao máximo, do que quando o mar se aquieta, as ondas desaparecem e não há brisa a soprar as velas do barco. Nesses momentos a vigilância tem de ser mantida, o ardor ampliado com a intenção de se doar mais e mais ao Ser Supremo e de não se deixar levar pela aparente lentidão da viagem.

Quanto mais próximo estiver de participar da Obra da Espiritualidade, maior responsabilidade será dada ao ser, e também maior influência ele exercerá sobre tudo o que esse trabalho engloba.

As verdadeiras transformações da humanidade não ocorrem porque todos a querem, mas porque um, ou alguns poucos, a querem em tal intensidade que é como se todos a quisessem.
 
Pode haver maior gratidão que a nascida de um coração tocado pela Presença? Maior fé que a do homem que, caminhando no escuro, busca a Luz?

Conto-vos uma história: Um camponês retornava à sua casa após longo e extenuante dia de trabalho. O sol já se deitava no horizonte e uma suave aragem anunciava a noite. Repentinamente, porém, o céu encobriu-se, um vento forte começou a soprar e, com muitos relâmpagos e trovões, uma chuva torrencial desabou.
 
O camponês estava só na estrada deserta; não tinha onde abrigar-se, nem como agasalhar-se do frio. Que faríeis vós, nessa situação?

Nos tempos que se aproximam é preciso integral vivência da fé, completo esquecimento de si, certeza inabalável de que se está sendo guiado e obediência incondicional às indicações internas. Milagres surgirão na superfície da Terra como flores celestiais entre a amarga cinza do viver humano. Deixai o ínfimo, para que o Infinito se aproxime.
 
O caminho espiritual é um caminho sem promessas. Nele o peregrino deve ingressar sem expectativa alguma. O que antecipadamente lhe é dado saber é que esse caminho é de renúncia, de autoesquecimento, de superação dos próprios limites. Poucos são os que aceitam tais condições; entretanto, ilimitadas são as dádivas provindas dos que o trilham.
 
Ainda que muitos sejam os aspectos imaturos, os desejos e os planos dos que iniciam a trajetória para o mundo espiritual, passo a passo as ilusões lhes vão sendo retiradas, revelando gradualmente a beleza que existe em seu próprio interior. Aos poucos, vai lhes sendo desvelado o grande segredo, guardado no centro da flor sagrada.
 
O peregrino não espera nenhuma realização; de cálice se fez canal amplo e desobstruído para nada reter, mas estar sempre aberto ao fluir da seiva de vida. Não procura ver, ouvir, sentir ou tocar coisa alguma com fins de deleite pessoal, mas permite que a energia se aproxime, o envolva e o permeie, pois nada sabe que não lhe seja por ela revelado. Por essa energia foi erguido da escuridão, por ela foi conduzido à senda interior e, sob suas orientações, caminha nessa senda.
 
José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br

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