SOMOS MÁSCARAS DE DEUS
Soa estranho dizer que somos a própria divindade. Mas, é o que os
místicos e os iluminados sempre afirmaram, como também Jesus ao
dizer “eu e o Pai somos um”. As grandes tradições místicas orientais
ensinam que somos apenas “máscaras de Deus”. Que somos, biologicamente,
fisicamente, diferentes uns dos outros; diferentes na aparência, no modo
de ser, mas que dentro de nós está o próprio Deus, único ator neste
mega-drama universal que é a nossa vida de todos os dias.
É difícil para nós, ocidentais, entender estas afirmações; e é difícil
porque tudo que “sabemos” sobre Deus e sobre nós mesmos são apenas crenças, ideias e opiniões, que as religiões populares nos comunicam. Será que
podemos afirmar, sem nenhuma dúvida, que a ideia que temos, hoje, sobre
nós e sobre Deus é cem por cento correta? Se fosse correta, como é que
poderíamos explicar a existência de tantas religiões, seitas e crenças
com doutrinas tão diferentes? Estariam, então, todas corretas, com todas
suas diferenças, ou só estão corretas na interpretação de seus
seguidores? E, de todas elas, cada uma se diz a única certa!
Para nós, ocidentais, dizer que somos Deus, parece blasfêmia. A crença
católica, como a evangélica, a espírita e outras, ensinam que nem mesmo
somos capazes de nos aproximar de Deus, porque estamos cheios de pecados
e imperfeições. Enquanto isso, as revelações trazidas pela meditação,
de milênios, ensinam ao místico que desde sempre somos a própria
divindade (“eu e o Pai somos um”); que nosso trabalho, para nos
libertarmos da ignorância e do sofrimento, é, como afirmou Jesus,
perceber, ou melhor, conhecer essa verdade. ( “...e a verdade vos
libertará”).
Por isso, dizem os grandes sábios, a única saída desta babel de
incertezas, ignorância e sofrimentos em que estamos mergulhados é a
solução dos místicos: é buscar a percepção que eles buscaram, conhecer a
verdade que eles conheceram, a “verdade que liberta”, como disse Jesus.
É o “conhece-te a ti mesmo”, o “auto-conhecimento”, dos antigos
filósofos gregos. E essa busca é possível pela meditação.
Mas, quando falamos de místicos, estamos falando de místicos de todas as
denominações porque qualquer e toda denominação cessa ao se conhecer a
verdade. Todas as “religiões” do Ocidente e do Oriente, cristianismo,
judaísmo, budismo, bramanismo, todos os numerosos “ismos”, isto é, quer
sejam religiões populares ou tradições sérias buscadoras da “re-ligação”
com a divindade, perdem as características que as tornam diferentes
umas das outras, e “se fundem numa única compreensão perfeita e
universal” quando se tem o conhecimento da verdade; isto é, quando se
tem a extraordinária percepção de que “eu e o Pai somos um”.
Grandes homens falaram dessa experiência. É tão extraordinária que foi
exaltada por todos os que por ela passaram como a experiência mais
sublime que o ser humano pode ter. Jung, o psiquiatra, usou palavras
semelhantes, e Jesus a considerou a pérola, o tesouro que quem encontra
“vende tudo o que tem”, isto é, desiste de tudo o mais, e “compra aquele
campo”. Jesus chegou até a afirmar que, “quem não abandona pai e mãe
para segui-lo”, isto é, para buscar essa experiência, “não é digno
dela”, com essas palavras fazendo ver que esse “tesouro” é muito mais
importante do que qualquer outra coisa, do que qualquer outro bem,
conquista ou posse.
Outros, como (Santa) Teresa de Ávila, afirmaram que “comparado com essa
experiência, tudo mais é lixo”; Krishnamurti, o sábio indiano
contemporâneo, ensinou que “tudo o mais é fútil e infantil”; e um poema
Zen assegura que, “se você já esteve lá”, isto é, se você já teve a
experiência, “como lhe parecem sem importância todas as outras coisas”.
Maharish Maharesh Yogi, o homem que trouxe, para o Ocidente, a Meditação
Transcendental, afirma que, enquanto não temos essa experiência, somos,
ainda, meramente “subumanos”, e Krishnamurti diz que a vida só tem
significado quando chegamos “lá”. Por isso, com razão, Jesus aconselhou
que devemos “em primeiro lugar” buscar Deus; disse que, conhecida a
verdade, de nada mais necessitamos. Vamos perceber, então, que a morte
não existe e que não há necessidade de salvação, pois que desde sempre
estamos salvos porque “eu e o Pai somos um”.
Vejam bem: o Deus das religiões populares, das religiões organizadas, é o
Deus dos rituais e das cerimônias; é o Deus “inatingível”, ou só
“atingido” pelos “privilegiados”, os perfeitos ou os chamados “santos”. É
o Deus que está longe de nós, num céu hipotético; ele lá, nós aqui;
que, num julgamento também hipotético, premia os seres humanos que
obedecem a suas leis, e pune aqueles que não obedecem; é o Deus que não
consegue derrotar o mal (ou sua representação, o diabo), que é sua
criatura (pois, conforme as escrituras, Deus é o criador de todas as
coisas e tudo o que foi criado, por Ele o foi ), e o mal, contra a
vontade do seu criador, leva com ele inúmeras almas, mostrando que, nem
sempre, Deus tem poder sobre o mal. Esta é a visão que as religiões
populares, as religiões ocidentais, em geral, têm de Deus. Não é uma
visão pobre e mesquinha?
Ao passo que o Deus real é o Deus que não conhecemos (há religiões, no
Oriente, que lhe dão mais de “mil” nomes, pois nenhum o representa); é o
Deus que, como pensamos, criou o Universo, criou todas as coisas que
existem; que não elege um povo para explorá-lo; que está em todo lugar,
não longe de nós, mas dentro e fora de nós, como afirmaram Jesus, Paulo e
outros; é o Deus que opera todas as coisas; que cria e destrói
incessantemente e que, como ensinam os sábios, podemos vir a conhecer
desde que nos esqueçamos de nós mesmos, nos momentos de meditação.
Esse é o Deus que não está só nas palavras dos sacerdotes e ministros,
ou nos templos; nem nos rituais, cerimônias e orações; é o Deus cujo
percebimento nos revela, como disse Jesus, a verdade de que “eu e o Pai
somos um”. É o Deus que está dentro de nós e que, assim, não precisamos
de intermediários, como “santos”, sacerdotes, gurus, pastores,
espíritos, mentores e médiuns para alcançá-lo. É o Deus, cujo
percebimento, liberta o homem de toda ignorância, nos coloca numa
condição de extrema felicidade, amor incondicional e sabedoria, e nos
liberta de todos os sofrimentos, como afirmam os místicos e como afirmou
Jesus.
Analisem e reflitam.
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