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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

 O ATUAL MOMENTO HISTÓRICO

Olhemos em derredor de nós. No atual momento histórico existem dois estados: um aparente, superficial, transitório, que todos veem e que constitui a base de julgamento da maioria; outro real, profundo, dado pelo eterno desenvolvimento das coisas.

Hoje é exatamente a hora do mal, cuja característica é a negação e a subversão. Assim os melhores se tornaram perseguidos, quase que obrigados a esconder-se, enquanto os piores conquistaram tudo. Mas é natural que os revolvimentos necessários para passar de um estado de equilíbrio a outro, evolutivamente superior, sejam também convulsivos.

Mas é uma posição falsa, porque não lhe corresponde um valor intrínseco e, por conseguinte, ela não pode durar. Toda a verdade, pela lei do dualismo universal, não está completa se não foi vista em seus dois temas antiéticos e contraditórios, dos quais ela se compõe na totalidade. No extremo do fenômeno histórico atual, como aparece na superfície, temos um estado oposto, de preparação subterrânea, de espera e maturação. Assim como se diz que sob a neve está o pão, também é sob a tempestade que estão amadurecendo os germes de uma nova civilização. Para compreender isto, seria necessário conhecer não só as leis históricas, mas também as leis biológicas, das quais a história humana não é mais do que uma parte.

Eis que no fundo das coisas há algo de bem diferente; estão aí o pensamento e a vontade diretora de Deus, que não são apenas transcendentes nos céus, mas também imanentes em nós e em nossas coisas, presentes com a sua incessante obra criadora. Na direção da história há, portanto, uma obra outra do que a pobre e ignorante sapiência humana. Há a sabedoria de Deus. Que isto seja de grande conforto aos melhores, mais evoluídos, hoje expulsos e esmagados.

Quem está habituado a olhar com humildade e amor, pedindo e entregando-se a esse pensamento divino que tudo rege, constata experimentalmente a existência de uma lei de ordem e de amor que está no centro das coisas, que as alimenta e as mantém em vida, ainda que deixando que na periferia, na forma e na matéria, dominem a desordem e o mal. Assim como nas grandes tempestades oceânicas, a poucos metros abaixo da superfície das águas se observa a calma, assim também na história. Sob o grande rumor das revoluções, a queda das classes sociais e dos tronos, o desmoronamento de enormes construções políticas, se verifica a calma das grandes Leis da vida que, lentas mas seguras, vão preparando o futuro. Futuro garantido, como garantida é a primavera que deve trazer consigo a germinação das novas massas.

Não podemos, de fato, presumir que a continuação da vida seja confiada aos homens e aos seus expedientes. E, se ela triunfa, e sempre triunfou, como o demonstra o fato de que durou até aqui, isto é porque ela é protegida justamente por essa sabedoria divina que a guia, a nutre e a mantém.

Embora a ciência e o progresso tenham caminhado, a dor, se não cresceu, pelo menos não diminuiu.A espantosa irracionalidade do racionalismo moderno não alcançou esta verdade elementar: opressão, extorsão, violência, são forças negativas que por isso se destroem e jamais poderão construir, porque essa função construtiva só se pode encontrar nas forças positivas, que são a convicção, a colaboração, a confiança.

O racionalismo não compreendeu que o materialismo é um impulso negativo que tende à destruição de tudo, inclusive de quem o pratica. É verdade que ele acredita poder prescindir da alma, como o negar-lhe a existência. Mas o homem permanece um ser com alma. Ele não é um número, uma máquina de produção, um cálculo econômico. É um ser humano. As construções do racionalismo moderno são construções contra as quais a vida se rebela. E a vida esfrangalha tudo que lhe constitua obstáculo. Certas leis que representam o pensamento e a vontade de Deus não podem ser plasmadas por nenhum poder humano.

É necessário que o espiritualista veja todos os aspectos da vida e não se limite à repetição estereotipada das fórmulas da sua religião ou grupo, quaisquer sejam elas. Existem hoje males gigantescos nesta nossa época convulsionada; são problemas formidáveis mas eles já foram denunciados, sentidos, investigados, e enfrentados com vigor e nova fé. O materialismo é um assalto que invade toda a nossa vida, opondo-se às forças do espírito. Mas esse assalto serve justamente para despertá-los e desenvolvê-los. Os dois movimentos, pois, da autodestruição do materialismo e da reação do espírito, concorrem para a mesma meta.

 Não se aflijam os bons, porque são os mais fortes. Jamais nasce tanta fé como nos tempos de descrença e tantos mártires e heróis se formam como sob a opressão.

É necessário que o evoluído, que é mais inteligente, observe as vias do mal e os métodos do involuído.  Apoiar o próprio  poder nos involuídos, apostar nos piores, nos extratos inferiores da sociedade, que antes deveriam ser educados para aquilo que não sabem fazer; não ter em defesa senão mandíbulas de lobo e procurar as soluções do problema no ventre aberto do próximo — isto tudo não pode acarretar senão a ruína. A salvação e o futuro só podem estar no contrário, isto é, no apoio aos evoluídos, na aposta nos melhores, nas camadas não econômicas, mas biologicamente mais avançadas, que têm consciência do duro encargo a assumir; em ter como defesa a justiça e procurar a solução dos problemas no bem do próximo. Tudo isto é assim porque nenhum homem, por mais poderoso que seja na terra, pode impedir que a vida queira, não uma solução às avessas, artificial, mas uma solução dos mais inteligentes, do mais trabalhador e produtivo, do mais apto a colaborar, confraternizando em sociedade.

Pietro Ubaldi, do livro Ascenções Humanas 
http://www.pietroubaldi.org.br 

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