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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

CONTOS DE NATAL
Conta Tolstoi, que certo aldeão havia tido um sonho de que Jesus Cristo iria visitá-lo naquele dia. Para esperá-lo preparou uma saborosa sopa a base de repolho que tanto gostava. Acontece que neste dia tão importante, caiu de forma inesperada uma violenta tempestade de granizo e neve.

Vendo as condições ambientais do momento, constantemente, enquanto preparava a sopa, ia até a janela verificar se Jesus estava chegando, para abraçá-lo e em sinal de boas-vindas, aquecê-lo com o alimento que preparava com tanto esmero e alegria.

Nessa preocupação pelas condições climáticas e a certeza da chegada de Jesus, através da janela avistou ao longe na estrada um pobre vendedor ambulante, que conduzia às costas um fardo bastante pesado. Recebeu-o, alimentou-o e o aqueceu, só permitindo sua partida depois de constatado suficientemente forte para seguir sua jornada.

Passado algum tempo avistou uma mulher na estrada coberta de neve. Sem perda de tempo a levou para dentro de sua cabana, fez com que sentasse próximo à lareira, alimentou-a e a fez se embrulhar em sua própria capa.

Já desanimado com a chegada do tão esperado encontro com Jesus, de longe, percebeu uma criança que se encontrava perdida e quase congelada pelo frio. Da mesma maneira em que acolheu as outras duas pessoas, fez o mesmo com a criança.

Cansado e desolado, o aldeão sentou-se e acabou por adormecer junto à lareira. Mas, de repente, uma luz radiante, que não vinha da lareira, iluminou todo o ambiente. Quando surgiu diante de si, sorrindo o Senhor, envolto em uma túnica branca.

– Ah, Senhor! Esperei-O, o dia todo e não aparecestes, lamentou-se o aldeão. Jesus lhe respondeu: - Já por três vezes, hoje, visitei tua cabana. O vendedor ambulante que socorrestes, aquecestes e deste de comer, era Eu! A pobre mulher, a quem deste a capa, era Eu! E a criança que salvaste da tempestade, também era Eu. O bem que a cada um deles fizestes, a mim mesmo o fizestes!

http://bussolaliteraria.blogspot.com

 
Na Ilha do Nanja, o Natal continua a ser maravilhoso. Lá ninguém celebra o Natal como o aniversário do Menino Jesus, mas sim como o verdadeiro dia do seu nascimento. Todos os anos o Menino Jesus nasce, naquela data, como nascem no horizonte, todos os dias e todas as noites, o sol e a lua e as estrelas e os planetas. Na Ilha do Nanja, as pessoas levam o ano inteiro esperando pela chegada do Natal. Sofrem doenças, necessidades, desgostos como se andassem sob uma chuva de flores, porque o Natal chega: e, com ele, a esperança, o consolo, a certeza do Bem, da Justiça, do Amor. Na Ilha do Nanja, as pessoas acreditam nessas palavras que antigamente se denominavam “substantivos próprios” e se escreviam com letras maiúsculas. Lá, elas continuam a ser denominadas e escritas assim. Na Ilha do Nanja, pelo Natal, todos vestem uma roupinha nova — mas uma roupinha barata, pois é gente pobre — apenas pelo decoro de participar de uma festa que eles acham ser a maior da humanidade.

Além da roupinha nova, melhoram um pouco a janta, porque nós, humanos, quase sempre associamos à alegria da alma um certo bem-estar físico, geralmente representado por um pouco de doce e um pouco de vinho. Tudo, porém, moderadamente, pois essa gente da Ilha do Nanja é muito sóbria. Durante o Natal, na Ilha do Nanja, ninguém ofende o seu vizinho — antes, todos se saúdam com grande cortesia, e uns dizem e outros respondem no mesmo tom celestial: “Boas Festas! Boas Festas!” E ninguém, pede contribuições especiais, nem abonos nem presentes — mesmo porque se isso acontecesse, Jesus não nasceria. Como podia Jesus nascer num clima de tal sofreguidão? Ninguém pede nada. Mas todos dão qualquer coisa, uns mais, outros menos, porque todos se sentem felizes, e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar. Pode-se dar uma flor, um pintinho, um caramujo, um peixe — trata-se de uma ilha, com praias e pescadores ! — uma cestinha de ovos, um queijo, um pote de mel…

É como se a Ilha toda fosse um presepio. Há mesmo quem dê um carneirinho, um pombo, um verso! Foi lá que me ofereceram, certa vez, um raio de sol! Na Ilha de Nanja, passa-se o ano inteiro com o coração repleto das alegrias do Natal. Essas alegrias só esmorecem um pouco pela Semana Santa, quando de repente se fica em dúvida sobre a vitória das Trevas e o fim de Deus. Mas logo rompe a Aleluia, vê-se a luz gloriosa do Céu brilhar de novo, e todos voltam para o seu trabalho a cantar, ainda com lágrimas nos olhos.

Na Ilha do Nanja é assim. Arvores de Natal não existem por lá. As crianças brincam com. pedrinhas, areia, formigas: não sabem que há pistolas, armas nucleares, bombas de 200 megatons. Se soubessem disso, choravam. Lá também ninguém lê histórias em quadrinhos. E tudo é muito mais maravilhoso, em sua ingenuidade. Os mortos vêm cantar com os vivos, nas grandes festas, porque Deus imortaliza, reúne, e faz deste mundo e de todos os outros uma coisa só.

É assim que se pensa na Ilha do Nanja, onde agora se festeja o Natal.

Cecília Meirelles
https://nuhtaradahab.wordpress.com


A NOITE SANTA DE DEZEMBRO

Há Momentos Em Que a Pedra
Não Fere e as Brasas Não Queimam


Naquela noite um pobre saiu a implorar auxílio batendo de porta em porta:

– Socorrei-me, boas almas! Em minha casa acaba de nascer uma criança e eu preciso acender o lume para aquecer minha esposa e o pequenino. Dai-me um pouco de brasa, pelo amor de Deus!

Mas era alta noite. Toda a gente estava a dormir, e ninguém lhe respondia. De repente o homem avistou, ao longe, um clarão e, caminhando para lá, encontrou uma fogueira acesa, e em volta dela um rebanho de carneiros brancos dormindo, e um velho pastor a guardá-los, também mergulhado no sono.

Quando o homem que andava em busca de brasas chegou ao pé dos carneiros, a bulha dos seus passos acordou três canzarrões que dormiam aos pés do pastor. As largas bocas dos rafeiros abriram-se para ladrar; mas nenhum som saiu delas. O homem notou que o pelo dos ferozes animais se eriçava e que as suas presas aguçadas luziam ao clarão da fogueira. E todos três se atiraram assanhados contra ele. Um abocanhou-lhe uma perna, outro a destra, e o terceiro segurou-lhe a garganta; mas as mandíbulas dos molossos ficaram inertes, e o homem não foi mordido.

Quis ele então aproximar-se mais do fogo, para de lá tirar algumas brasas. Mas os carneiros eram tantos e estavam deitados tão juntinhos, que não havia como passar por entre eles.

Foi-lhe forçoso pisá-los para avançar; e nenhum deles acordou, nem se mexeu. Quando o homem chegou ao pé da fogueira, o pastor que dormitava em sua enxerga de peles ergueu-se impetuoso e irado. Era criatura ruim e mal-encarada. Ao ver ali o desconhecido, agarrou, lesto, uma enorme pedra e arremessou-a contra ele. O perigoso seixo partiu direto ao homem; quando, porém, ia atingi-lo, desviou-se e foi espatifar-se no chão.

Então o homem, aproximando-se do pastor, falou-lhe assim:

– Compadece-te de mim, amigo, e deixa-me levar algumas brasas. Em minha casa acaba de nascer uma criança e eu preciso acender o lume, para agasalhar minha esposa e o pequenino.

O primeiro impulso do pastor foi o de uma recusa cruel; pensou, porém, nos cães que não tinham ladrado nem mordido, nos cordeiros que não tinham fugido, na pedra que não tinha querido ferir o homem. E sentiu um terror vago, indefinível.

– Leva o que quiseres – respondeu secamente.

Ora, o lume estava agora quase a apagar-se. Nem ramos a arder, nem achas grandes. Só havia um monte de brasas miúdas, e o homem não tinha pá, nem qualquer coisa em que pudesse levá-las. Ao ver isto, o pastor repetiu:

– Podes apanhar as brasas que quiseres!

Mas no íntimo regozijava-se maldoso, certo de que o homem não podia levar um braseiro nas mãos nuas. Mas o outro abaixou-se, afastou as cinzas, tomou de um certo número de carvões incandescentes e pô-los numa aba da esfarrapada túnica. E as brasas não lhe queimaram as mãos, não lhe queimaram a vestia e ficaram a brilhar nelas como rútilos rubis. E o desconhecido partiu.

O pastor, vendo tudo isto, disse de si consigo: – Mas, que noite é esta, em que os cães não mordem, e os carneiros não se espantam, e a pedra não fere, e as brasas não queimam?

Foi ao encalço do homem e interrogou-o:

– Que noite é esta, em que até as próprias coisas se mostram inclinadas ao amor e à piedade?

O homem respondeu:

– É a noite de Natal, meu amigo. Jesus Salvador acaba de nascer…   
 
Selma Lagerlöf com Adaptação de Malba Tahan
https://www.filosofiaesoterica.com


CELEBRA O TEU NATAL–DE DENTRO!

Quantas vezes, meu amigo, celebraste o Natal de fora? O Natal litúrgico de 25 de dezembro de cada ano? 20, 30, 50 vezes em tua vida?

Foi um verdadeiro Natal – ou apenas um pseudo-Natal?

Foi um Natal – ou foi o teu Natal?

Foi como um fogo pintado na tela – ou foi um fogo real, cheio de força, luz e calor?

Natal sem natalidade não passa de ilusão e mentira…

Que quer dizer Natal onde não haja nascimento do Cristo?

Nasceu ele, é verdade, há 2000 anos, na gruta de Belém – mas não nasceu na gruta de teu coração.

Foi reclinado na singela manjedoura de palha – mas podes tu dizer em verdade: já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim?

Ainda que mil vezes nasça Jesus em Belém – se não nascer em ti, perdido estás…

A árvore de Natal que costumas armar em tua casa é bem o símbolo inconsciente do teu pseudo-Natal interior: árvore sem raízes, morta ou moribunda, ostentando lindos enfeites de papel sem vida, frutinhas ocas de celulóide inerte – não é isto que é a tua vida espiritual?

Quanto tempo pretendes ainda “brincar de Natal” – sem celebrar um verdadeiro Natal, um dia natalício do Cristo em ti?

Por que toda essa camuflagem e insinceridade diante de ti mesmo?

Por que não retificas, enfim, todas as tortuosidades da tua vida?

Por que não pões ponto final a toda essa política e diplomacia curvilínea do teu egoísmo e inicias, finalmente, uma vida retilínea de absoluta verdade, honestidade e amor universal?

Quando permitirás que nasça em ti o Redentor – ele, o Caminho, a Verdade e a Vida?

Não imaginas, meu amigo, o que viria a ser para ti esse Natal externo do ano litúrgico, se, de fato, celebrasses o Natal de tua alma.

Não imaginas o que de te diriam a gruta, a manjedoura, os anjos do céu e os pastores da terra, se em ti acontecesse o glorioso simbolizado de que esses fatos históricos são o símbolo longínquo e vago.

Não imaginas em que nova luz de compreensão te apareceria o Cristo do Evangelho se dentro de ti nascesse o Cristo da tua experiência intima, do teu encontro pessoal com Deus.

Se o Cristo fosse para ti, não apenas um artigo de fé aridamente crido – mas uma estupenda realidade intensamente vivida.

Se o Cristo vivesse em ti e tu vivesses no Cristo, ou antes, se fosses vivido pelo Cristo – que vida abundante seria a tua…

Não caberias em ti de tão feliz – e a tua exuberante felicidade em Cristo transbordaria em amor e benevolência para com todos os irmãos de Cristo em derredor…

A própria natureza inconsciente receberia um reflexo desse transbordamento de amor e felicidade – e, como Francisco de Assis, ébrio de Deus, contarias e cantarias as glórias divinas às pedras e às plantas, às aves e aos peixes, ao sol, à lua e às estrelas…

Convidarias até à “irmã Morte” para entoar louvores ao Pai celeste.

Se tivesses celebrado o teu Natal de dentro, se o Cristo tivesse nascido em ti e em ti vivesse, seria a tua vida uma gloriosa ressurreição – e os anjos da Páscoa confundiriam as suas vozes com os anjos de Belém, cantando hosanas e aleluias, glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens, em todos os caminhos da sua existência – mesmo por entre as sombras da morte.

Celebra o teu verdadeiro Natal, meu amigo – e saberás o que o Cristo significa para ti e para todos os que o recebem e vivem nele…

“Renascidos pelo espírito”…

“Feitos novas creaturas em Cristo”…

Huberto Rohden, do livro Imperativos da Vida
https://ihgomes.wordpress.com
 
 
... Portanto, o mistério do Natal nos impõe uma dívida e uma obrigação para com os demais homens e para com todo o universo criado. Nós que vimos a luz de Cristo somos obrigados, pela grandeza da graça que nos foi dada, a tornar a presença do Salvador conhecida até os confins da Terra. Isto faremos não só pregando a boa-nova de sua vinda, mas, sobretudo, revelando-o em nossas vidas. Cristo nasceu hoje para nós, de maneira a poder manifestar-se ao mundo através de nós. Este dia é o do Seu nascimento, mas todos os dias de nossa vida mortal devem ser sua manifestação, sua divina Epifania no mundo que Ele criou e redimiu.
 
Thomas Merton
http://reflexoes-merton.blogspot.com

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