Translate

quarta-feira, 4 de abril de 2018

QUANDO O ALICERCE É FRACO 
A CONSTRUÇÃO DESABA


 
Pergunta: Considerais a autoridade civil ou politica como um embaraço para o atingimento espiritual?

Krishnamurti: O atingimento espiritual não reside num reino exterior à vida; ele é a vida, é o entendimento harmonioso da vida em seu conjunto. Não podeis separar a vida nas rígidas divisões política, civil e espiritual. O homem verdadeiramente civilizado não depende para sua conduta e vida reta, da sombra de autoridades exteriores; ele age retamente por si mesmo. Não será pois o teor das leis que o impedirá de perturbar a harmonia do viver social. Ele não alimenta mais o desejo de agir com desacerto no que diz respeito aos outros, visto haver encontrado, dentro de si próprio, a harmonia.

Vós dizeis-me: “Esta maneira de encarar a vida viria semear a confusão na mente dos inexperientes, estabeleceria o completo caos no mundo”. Certamente que assim aconteceria se dissésseis ao selvagem: “Fazei exatamente o que vos agrada”. Quando, porém, os sábios, os iluminados, os que encontraram houverem encontrado paz dentro de si mesmos, estatuírem leis que estimulem os inexperientes em direção à liberdade, então haverá ordem. Presentemente estais construindo um formidável edifício sobre alicerces falsos. Nem o legislador, nem o cidadão têm o desejo de tornar o homem perfeitamente livre. As leis são impostas sem o desejo da realização da Verdade e daí o conflito no mundo.


Pergunta: Desde a irradiação de ideias dinâmicas como a da libertação, influencia a ação e leva a deslocamentos e reajustes sociais, pode o expositor da libertação, ter-se como responsável somente perante a si próprio e desistir de tomar parte nesse trabalho de reajuste?

Krishnamurti: O problema individual é o problema do mundo. Se o indivíduo encontrou a felicidade, se criou a ordem em seu próprio interior, então irá cria-la no mundo que o cerca; e no processo de ajudar outros a resolverem os seus problemas individuais, ajudará a resolver o problema do mundo. Pensais que no buscar a libertação do eu, há sugestão do egoísmo; pensais que o ser eternamente feliz é uma realização egoísta, pensais que o libertar-se de toda a tristeza e luta é retirar-se do mundo. Isto é uma concepção falsa. A libertação é a própria antítese do sentimento do “eu”, da “eu-dade”. É a realização ultérrima para todas as pessoas. A Felicidade é a Verdade única, incondicionada, sem limitação, eterna; e se existir em todos o firme desejo de atingir então haverá ordem e não caos. Não existe, porventura, caos no presente? Quando o alicerce é fraco, a construção desaba. Mantende o vosso coração e a vossa mente despertos. Apercebei-vos do caos que dimana de tantos propósitos fúteis, de tantas lutas vãs e passageiros prazeres. E chamais a isto ordem? Não amigo, se o indivíduo buscar a realização, criará ordem onde quer que esteja, ainda mesmo que esta ordem tenha que efetivar-se por meio de grande descontentamento.

 
Krishnamurti em reunião de perguntas e respostas
 http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário