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sexta-feira, 27 de abril de 2018

OS PODERES LATENTES 
DA CONSCIÊNCIA
Novas Aptidões Humanas Estão
Surgindo, Mas Seu Despertar Exige Ética 
 
Parte II
 
Os poderes latentes do ser humano ocupam de muitas maneiras a imaginação coletiva. Subconscientemente, nossa cultura materialista percebe a presença sutil junto à humanidade de grandes mestres dotados de tais poderes – tal como narrado nas lendas de Buddha, Jesus e outros instrutores da sabedoria imortal.

Esta fonte de inspiração comum vai desde os espetáculos populares até o lugar mais elevado das almas humanas. Os diferentes campos de conhecimento humano buscam – através de caminhos diversos – por novos níveis de compreensão da mesma e única verdade essencial.

A arte, a literatura e a ciência se inspiram mutuamente há séculos. Desde sempre, uma parcela dos sábios e cientistas estudou alquimia e filosofia esotérica, ou trabalhou com base na combinação da intuição com o trabalho experimental. Este é o caso de Isaac Newton, Thomas Edison e Albert Einstein. Há outros exemplos bem conhecidos.

Francis Bacon (1561-1626), o criador do método científico experimental, foi um sábio estudante da filosofia oculta. Ele previu o uso de submarinos e aviões, e descreveu uma civilização governada com sabedoria, em seu texto “Nova Atlântida”.

O poeta inglês Alfred Tennyson, que morreu em 1892, previu as guerras do século 20 no seu famoso poema “Loksley Hall”. Descreveu as batalhas aéreas espantosas, envolvendo inúmeros “navios voadores” que lançavam bombas. E antecipou que, depois da guerra, surgiria a ONU, a “federação das nações”, e ocorreria o desarmamento mundial (do qual já nos aproximamos lentamente desde o final da guerra fria, no século 20).

No mesmo século 19, o escritor Júlio Verne previu o submarino, o avião, a viagem à lua, a televisão e o videofone. Só no século 21 o telefone com vídeo tornou-se parte da realidade. A internet já permite ver a imagem do interlocutor, e o videofone está disponível a todos.

A vida imita a arte, e a arte imita a vida. A arte pode falar de coisas que o coração entende e a mente ainda não sabe explicar.

Inspirado nos fenômenos extraordinários dos primeiros tempos do movimento teosófico, o escritor inglês Conan Doyle escreveu um conto intitulado “A Máquina Desintegradora”. Nele, certo professor inventa um mecanismo capaz de “desintegrar qualquer objeto colocado ao alcance da sua esfera de influência”.

Um personagem do conto explica: “A matéria dissolve-se, voltando à sua condição molecular ou atômica. Revertendo o processo, a máquina pode reconstituir a mesma matéria.” [4]

Conan Doyle era espírita e leu sobre teosofia. Seu detetive Sherlock Holmes, dono de uma intuição extraordinária, mostra mais de um traço super-humano em sua luta pela justiça e pelo bem.

Nas obras recentes de ficção científica, o fenômeno da desmaterialização e rematerialização são chamados de teletransporte. Em filmes do gênero, é rotina ver um grupo de viajantes espaciais entrar em uma câmara especial e, depois de alguns segundos, desaparecer dali para surgir em uma galáxia distante.

No mundo real, cientistas buscam compreender e realizar os rudimentos do teletransporte. Eles partem do fato fundamental de que o comportamento das partículas subatômicas é ambíguo. Ora elas se comportam como partículas, ora se comportam como onda. As partículas subatômicas não têm localização ou materialidade definidas em um instante determinado em que se pretenda medi-las. Estão, pois, além da rede previsível do espaço-tempo. A partir daí, abre-se um horizonte novo. Seria possível transformar um objeto em ondas e depois reconstituir o mesmo objeto como “partícula” ou matéria densa em outro lugar do espaço? Em 2010, já estavam acontecendo pesquisas intensas nesta direção. Alguma coisa já se conseguia com fótons – a partícula unitária da luz – e com os estados quânticos de um átomo individual.

Para uma parcela da população, a ciência e a tecnologia parecem haver ocupado o lugar de antigas práticas religiosas. O avanço da ciência tem aspectos extremamente positivos. Por outro lado, quando a ciência obedece a mecanismos comerciais, ela passa a promover um materialismo cego, sem destruir, necessariamente, o dogmatismo religioso de conteúdo medieval. Às vezes a superstição consumista e a superstição religiosa se associam no terreno comum da ignorância submissa.

A tecnologia faz inúmeros milagres que assombrariam um cidadão de cem anos atrás. Eles também parecem ter efeitos mágicos e hipnóticos sobre a população. Os satélites geoestacionários, as viagens espaciais, a clonagem de animais e mesmo alguns objetos de uso diário, como o telefone celular, o controle remoto de televisão, e o computador com acesso à Internet, implicam processos que, na prática, são incompreensíveis para o cidadão médio e, portanto, mais ou menos milagrosos. A própria luz elétrica é um pequeno milagre. Na biologia, na informática, na física, na medicina e na astronomia, estamos indo além do plano físico. Aprendemos a dominar parcelas cada vez maiores da luz astral e do akasha. A população passa a ter fé na infalibilidade papal das corporações multinacionais, que vendem a ela os milagres e as indulgências celestiais da tecnologia colocada a serviço do dólar, e do euro.

Os grandes bancos internacionais providenciam o milagre extraordinário da multiplicação das dívidas. Os crentes pagam o dízimo com seus cartões de crédito.

O que antes apenas os místicos e iogues treinados realizavam por meios extrassensoriais e em níveis superiores de consciência, hoje é feito por meios instrumentais, nos planos físico e intelectual, por técnicos e pesquisadores treinados.

A consciência científica e tecnocrática se expande e toca a dimensão sagrada da vida. Salvo exceções, faz isso de modo inconsciente, sem a necessária consciência ética, e usando os seus poderes para fins estritamente comerciais, a partir de uma visão estreita da vida e do universo.

No outro extremo, temos o pseudoesoterismo usando o mesmo potencial de expansão da mente humana como pretexto para explorar a credulidade da população bem-intencionada. São os iniciados de final-de-semana, os avatares improvisados, os autoproclamados donos de poderes psíquicos. São os canalizadores de Mestres de Sabedoria, cujos Mestres, por terem sido inventados por eles próprios, só dizem banalidades. São os clarividentes da estirpe de Annie Besant e Charles Leadbeater, que deliram sobre grandes iniciações e conversam com algum Cristo imaginário. Mas a falsidade tem pernas curtas, e sua durabilidade é escassa.

Num futuro relativamente próximo, espera-se, será descoberta e reconhecida amplamente uma verdade que possui quatro aspectos, e constitui o segredo essencial para o caminho da paz individual e coletiva. Esta verdade diz:

1) Todo saber que não é legítimo degenera rapidamente.

2) A legitimidade de um saber depende do seu uso.

3) Um conhecimento só é legítimo quando é usado para o bem.

4) O conhecimento ilegítimo, quando se refere a forças sutis, não passa de um tipo de bruxaria feita por aprendizes de feiticeiros que tentam roubar o conhecimento divino para propósitos egoístas.

O único verdadeiro milagre, o fato mais extraordinário – mais importante do que multiplicar pães, clonar ovelhas, viajar a Marte ou caminhar sem tocar o solo – é a decisão independente de purificar pacientemente as suas próprias emoções e os seus pensamentos. Esta é uma mudança quântica. Esta é a suprema atividade científica. Outras aptidões “extraordinárias” da consciência humana, enquanto forem destituídas da ética altruísta, permanecerão sempre no plano das atividades circenses de má qualidade.

O despertar do autoconhecimento e o surgimento da autorresponsabilidade ética transmutam pouco a pouco cada átomo do corpo humano e o conectam mais diretamente à mesma luz eterna que movimenta galáxias, estimula o crescimento de uma planta, explode uma estrela longínqua e desperta amor incondicional em nosso coração. Esta é também a luz interior que brilha no olhar de um animal, dá alegria de viver a uma criança e mantém nossa galáxia girando em torno do seu sol central.

Quando o ser humano compreender melhor as implicações revolucionárias do fato de que tudo o que existe está imerso na luz astral – o akasha -, então as ciências do mundo externo e físico obedecerão à ciência sagrada da alma imortal, segundo a qual o universo físico ocupa um espaço ilimitado, insondável, eternamente infinito, feito de consciência absoluta, que os sábios orientais chamam de Parabrahm. Dele surge a paz coletiva e individual, porque ele também existe, de certo modo, em cada coração humano. É a partir deste nível de despertar que estão dadas, finalmente, as condições para o desenvolvimento adequado de uma potencialidade ilimitada.
 
 
NOTAS:

[4] “A Máquina Desintegradora”, conto que é parte do livro “O Veneno Cósmico”, de Arthur Conan Doyle, Ed. Melhoramentos (edição sem data, da década de 1960), SP, ver pp. 148 e 151.
 
 
Carlos Cardoso Aveline 
http://www.filosofiaesoterica.com
 

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