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sexta-feira, 27 de abril de 2018

OS PODERES LATENTES 
DA CONSCIÊNCIA


Novas Aptidões Humanas Estão
Surgindo, Mas Seu Despertar Exige Ética 
 
Parte I
 
Ler pensamentos, perceber o futuro, caminhar sobre as águas, levitar, mover objetos com a força da mente ou desmaterializar objetos e rematerializá-los no mesmo instante a grande distância. Estas poderão ser funções normais da consciência humana em um futuro distante. Sua importância, no entanto, é secundária. E é preciso cuidado e discernimento, porque há hoje todo um folclore em torno delas, com um batalhão de espertalhões tirando proveito da credulidade alheia.

O potencial da mente parece infinito. A história humana está repleta de relatos sobre os poderes extraordinários conquistados por santos e iogues adiantados.

De onde vêm as habilidades espetaculares que tantos sábios (e mesmo pessoas comuns) têm demonstrado possuir desde a antiguidade?

Qual a real importância delas?

Segundo a teosofia, o futuro da evolução humana é tão sagrado quanto o seu passado. A humanidade tem uma longa e bela aprendizagem pela frente. Os sábios e iogues com poderes extraordinários são mestres. São precursores. Eles vão na frente. Eles abrem caminho para que o resto da população expanda mais rapidamente sua consciência. Nesta caminhada, toda habilidade de manipular sutilmente energias materiais e semimateriais é um fato desprezível em si mesmo, e leva a verdadeiros desastres cármicos, a menos que esteja a serviço de metas rigorosamente altruístas e impessoais.

Em sua autobiografia, o iogue Paramahansa Yogananda discute a relação entre a ciência “exata” convencional e a sabedoria do Oriente. Com a conversibilidade da matéria em energia e da energia em matéria, os físicos de vanguarda apenas redescobriram, segundo Yogananda, a antiga lei de Maya, segundo a qual o universo físico é de certo modo uma ilusão sensorial que não tem existência de fato, exceto em um plano superficial da realidade.

A partir do fato de que a matéria pode ser convertida em energia pura, fica mais fácil compreender aquilo que a superstição religiosa chama de “milagres”. Segundo Yogananda, “os Mestres capazes de materializar e desmaterializar seus corpos e outros objetos, de mover-se com a velocidade da luz, e de utilizar os raios da luz criadora para produzir instantaneamente qualquer manifestação física, têm, do ponto de vista da física, uma quantidade imponderável, ou infinita, de massa.”

A “luz criadora” de que fala Yogananda é a luz astral ou o akasha da filosofia esotérica, e constitui uma contrapartida sutil e invisível do mundo físico. O akasha possui vários níveis de densidade e sutileza. Os seus níveis mais elevados são território do espírito imortal e controlam o que é externo e denso.

Yogananda escreve:

“A consciência de um iogue perfeito identifica-se, sem esforço, não com um corpo limitado, mas com a estrutura do universo. A lei da gravitação (…) é impotente para obrigar um mestre a exibir a propriedade do peso, que é condição inerente a todos os objetos materiais. Quem tem consciência de ser Espírito Onipresente não está mais sujeito à solidez do corpo no espaço e no tempo.” [1]

Neste ponto há algo que não pode ser esquecido. Um Raja Iogue não é um Iogue porque sabe manipular energias. Ele é um Raja Iogue ou Mestre de Sabedoria pelo fato de nada desejar para si, e de estar inteiramente voltado para a meta impessoal e imparcial de beneficiar a evolução da humanidade e dos outros seres de nosso planeta.

Suas outras aptidões decorrem naturalmente da sua identificação com a luz eterna e a vida infinita. Ele nada deseja para si, porque transcendeu a ilusão segundo a qual alguém pode ser feliz como um “eu” separado. O resto é secundário. Ele está em contato com o âmago do Universo; e o Universo é governado desde o seu centro.

Alguns cientistas da ciência recente concordam com este princípio da filosofia antiga. O antigo axioma afirma: “assim no céu como na terra”: ou “assim no espírito como na matéria”. Em seu livro “O Universo Inteligente”, o físico do século 20 Fred Hoyle afirma que o universo evolui e é controlado desde seu interior, e que sua evolução flui sempre desde dentro para fora. [2]

É possível observar que a mesma evolução de dentro para fora ocorre com cada um de nós. Nosso comportamento físico é guiado por nossas emoções, que são guiadas pelos nossos pensamentos, que são guiados pelas nossas intuições mais internas, algumas das quais são quase desconhecidas do nosso cérebro pensante.

O domínio da luz astral permite ao iogue ou à pessoa dotada de funções intuitivas movimentar em alguns casos objetos, fazer com que objetos levitem, ter pressentimentos e exercitar outras aptidões extrassensoriais. Um grande iogue é capaz de materializar ou desmaterializar objetos atuando a partir do interior da estrutura atômica da matéria. Ele pode fazer isto porque reduziu-se à condição de um Espírito Planetário. Ele nada é além da Lei eterna, e nada mais deseja a não ser o Bem Absoluto.

Antes de alcançar este ponto, ele deve aprender a desidentificar-se totalmente do mundo físico tridimensional. Quando vence o desafio, ele atinge o Nirvana e transcende o estágio atual de evolução humana. Então ele alcança a libertação da roda de reencarnações obrigatórias e completa o seu aprendizado em termos de sabedoria divina. Ele seguirá aperfeiçoando-se em outros níveis, em direção a círculos cada vez mais amplos de consciência planetária e cósmica.

Boa parte de tais seres de consciência planetária superior conservam seus corpos físicos. Eles podem viver bem mais de um século. Trabalham retirados do mundo, inspirando a evolução humana de dentro para fora e estimulando os impulsos mais elevados em cada coração e mente em que há uma firme boa vontade impessoal. Chamados de iogues perfeitos por Yogananda, estes seres são conhecidos como Imortais pelo taoísmo, como Rishis pelo hinduísmo, e Buddhas ou Arhats pelo budismo.

No final do século 19, alguns destes mestres inspiraram a criação do movimento teosófico moderno. Em colaboração com eles, Helena Blavatsky fez demonstrações de psicocinese, de desmaterializações e rematerializações de objetos, e outros fenômenos. Era necessário abrir uma brecha no materialismo cego daquele momento. A revolução industrial estava no auge e se apoiava em um cristianismo dogmático e autoritário. Os fenômenos “psíquicos” eram uma demonstração prática de que a visão mecânica e materialista da vida não tinha futuro.

Na década de 1880, Alfred Sinnett, um dos principais jornalistas ingleses, manteve correspondência com dois dos Mahatmas dos Himalaias. As cartas recebidas por Sinnett estão hoje depositadas no setor de manuscritos raros da Biblioteca Britânica, em Londres. Os estudantes podem examiná-las. Além do seu conteúdo extraordinário, há aspectos fascinantes no modo como elas foram produzidas. Escritas mentalmente no Tibete, elas se materializavam na Índia, muitas vezes aparecendo do nada diante dos olhos atônitos de pessoas da elite social, reunidas especialmente para a ocasião. Sinnett descreveu grande número destes fenômenos, feitos diante de testemunhas cujos relatos foram publicados nos jornais da época e que estão reunidos hoje em livro. Em uma destas cartas, um Mahatma explica os fenômenos de materialização e desmaterialização de objetos:

“O cérebro humano é um gerador inesgotável, e da melhor qualidade, que produz força cósmica a partir da energia baixa e bruta da Natureza; o adepto completo se tornou um centro do qual se irradiam potencialidades que geram correlações e mais correlações durante épocas sem fim do tempo que virá. Esta é a chave do mistério pelo qual ele é capaz de projetar no mundo e materializar nele as formas que sua imaginação construiu no mundo invisível a partir da matéria cósmica. O adepto não cria qualquer coisa nova, mas apenas utiliza materiais que a Natureza apresenta ao redor dele (…).” [3]

A partir da segunda metade do século vinte, a levitação, a materialização e outros fenômenos que rompem os limites do mundo físico convencional vêm sendo abordados de muitas maneiras diferentes pela mente humana. A ciência avança em sua luta com os mistérios da mecânica quântica, da astrofísica e da criação do universo. Outros aspectos desta busca do despertar de novos potenciais da consciência humana ocorrem através do sonho, da arte e da imaginação. Nas histórias em quadrinhos e filmes, super-heróis como o Capitão América, o Super-homem, e até o desajeitado Superpateta lutaram durante décadas pelo bem e pela justiça, sendo capazes de levitar e usar grande intuição, entre outros poderes ióguicos. No século 21, novos heróis invadiram os cinemas e as revistas. Eles tomaram conta dos filmes em DVD e ocuparam a imaginação humana voando em altas velocidades em nosso planeta, ou indo até galáxias distantes, mas sem sair da tela da televisão na cômoda sala em que o espectador come pipoca. Sentado na poltrona, Sancho Pança assiste às aventuras de Dom Quixote. O herói gaulês Asterix ainda resiste, em quadrinhos e desenhos animados, preservando elementos deste arquétipo de herói humano com aptidões especiais.
 
 
NOTAS:

[1] “Autobiografia de um Iogue”, de Paramahansa Yogananda, Summus Editorial, 455 pp., ver pp. 259-260.

[2] “O Universo Inteligente”, Fred Hoyle, Editorial Presença, Lisboa, 1993, ver pp. 235-237.

[3] “O Mundo Oculto, A Verdade Sobre as Cartas dos Mahatmas”, de Alfred P. Sinnett, Editora Teosófica, ver pp. 128-129. Leia também, da mesma editora, as “Cartas dos Mahatmas” (dois volumes).
 
 
Carlos Cardoso Aveline
http://www.filosofiaesoterica.com

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