Translate

domingo, 22 de abril de 2018

ENCONTROS COM 
NISARGARDATTA MAHARAJ
 
 
"É sempre o falso que nos faz sofrer, 
os falsos desejos e medos, 
os falsos valores e ideias, 
as falsas relações entre as pessoas. 
Abandone o falso e você estará livre da dor; 
a verdade nos faz felizes, a verdade liberta".
(Nisargadatta)
 
10 de maio de 1980


Maharaj: Como cheguei à verdade que eu prevaleço eternamente? Meditando no meditador, ao "Eu-Sou-ência”, fundindo-se no "Eu-Sou-ência". Só então entendi qual é a minha verdadeira natureza. Os grandes Sábios meditaram da mesma maneira. Ninguém me disse como fazer isso. Eu não busquei esse conhecimento externamente. Ele brotou dentro de mim.

Eu meditei como os Sábios e tive uma visão. Inicialmente, havia espaço e, no espaço, vi os princípios incorporados. Na verdade, eles não têm corpos, mas na minha visão eles tinham corpos. Eu os chamei de Prakriti e Purusha, os aspectos masculino e feminino da consciência cósmica.

Até a união de Prakriti e Purusha, a consciência dinâmica que permeia a tudo estava em um estado dormente. Na união dos aspectos masculino e feminino, emissões foram plantadas na parte feminina dessas figuras. Quando essas emissões se fundiram no útero, começaram a tomar forma. Após nove meses de gestação, uma criança foi nascida.

Aquela consciência que foi plantada no útero era o corpo causal, o "lingadeha". Naquele "lingadeha", o conhecimento "Eu Sou" estava em uma condição latente. Isso é o que eu vi na meditação.

 
Pergunta: Como perdemos esse estado de consciência pura?

M: Todo ser experimenta o estado de Iswara, seja diretamente ou potencialmente, mas ele está tão envolvido neste mundo objetivo que ele perde sua identidade. Você deve saber o que esse princípio "Eu Sou" é. Ele aparece espontaneamente e com seu surgimento começa o enigma da vida conceitual.

 
P: Como inicio essa busca pelo meu Ser?

M: Comece bem do começo. Nesse mundo grosseiro, comecei com meus pais, porque sabia muito bem que meu princípio já residia ali naquela amostra de seus elementos corpóreos da qual eu emanei. Mas cheguei à conclusão de que eu não poderia ser esse princípio que surgiu do corpo da mãe.

Não há ninguém aqui com 100 anos de idade. Isso significa que há 100 anos atrás você não existia?

 
P: Eu não sei

M: Esse que disse "não sei" deve ter estado lá; em suma, você não era assim, mas deve ter sido alguma coisa. Você deve compreender isso corretamente. Há 100 anos eu não era assim; então, aquele que aponta isso deve ter estado lá. Você existiu e existe até a eternidade.

O que estou expondo não está relacionado ao conhecimento mundano. Você não quer abdicar do conhecimento mundano ou do chamado conhecimento espiritual, e ainda assim, através desses conceitos mundanos quer entender o enigma de sua existência, e é precisamente por isso que você não é capaz de entender.

Na verdade, seu estado é de bem-aventurança absoluta, não este estado fenomenal. Nesse estado não-fenomenal você está cheio de felicidade, mas não há experiência de sua presença. Nesse estado não há vestígios de miséria ou infelicidade, apenas felicidade absoluta. O que eu estou falando?

 
P: Ananda (felicidade)

M: Porque você quer alguma satisfação de acordo com seus próprios conceitos, você tenta qualificar a felicidade pura. O termo "ananda" só tem significado quando significa que o estado corporal está disponível para experimentá-lo. Quando você está em sono profundo e começa a ver formas, você está realmente sonhando. Essas formas de sonho não são provenientes do seu próprio ser? O que quer que você veja, mesmo no estado de vigília, não vem do seu próprio ser que habita dentro do corpo?

No sono profundo, a consciência estava em uma condição inativa; não havia corpos, nem conceitos, nem ônus. Após a chegada deste estado aparentemente acordado, com a chegada do conceito "Eu Sou", o amor pelo "Eu Sou" acordou. Isso em si é Maya, ilusão.

 
P: Maharaj quer dizer que o experimentador dos três estados é o Eu?

M: Esse é o estado de Saguna Brahman; é por causa desse seu sentido de ser existir que os outros estados podem existir. O mundo dos sonhos é muito antigo, não é novo. Você vê monumentos antigos em seus sonhos. Seu sentido se ser é muito poderoso.

O surgimento desse ser em si constitui o tempo. Tudo é esse sentido de ser (beingness), exceto eu, o Absoluto, não sou isso. Na meditação, havia o espaço, quando de repente duas formas apareceram fora da não-forma, Prakriti e Purusha, e a quintessência dessas formas era o conhecimento "Eu Sou". Não havia formas, de repente formas apareceram, assim como no mundo dos sonhos.

Você como um sonhador está dormindo na cama, mas no seu mundo de sonhos você vê um corpo e pensa que é você, e você está fazendo tudo através desse corpo de sonho. Da mesma forma, os corpos são criados no chamado estado de vigília.

O estado de Prakriti e Purusha não tem forma e é eterno, não tendo nem princípio nem fim. Mas daí vêm os cinco elementos e, com eles, simultaneamente, o corpo é formado no momento em que o tempo é experimentado pela primeira vez. Esse processo é sempre contínuo, com a forma do corpo meramente indicativa da oportunidade de experimentar o tempo. Essa explicação não vai chegar em casa para todos.

No momento da chamada morte, com que identidade você gostaria de partir?

 
P: Como Parabrahman.

M: O Absoluto, que eu chamo de Parabrahman, como é? O que você está fazendo é multiplicar palavras com mais palavras, conceitos com mais conceitos.

 
P: Maharaj deve me tirar disso.

M: Você pode definir o que você é?

 
P: Gostaria de ter sua bênção para entender o que sou eu.

M: Você é muito adepto de jogos de palavras. Enquanto eu estou falando sobre o conhecimento que está além deste mundo fenomenal, você está tentando entender através de conceitos e palavras mundanas. Desista de todos esses conceitos e investigue a natureza do seu ser. Como você aconteceu? Pondere sobre isso! A verdadeira bênção do Guru vem quando o seu conhecimento brota dentro de você. 
 
 
 http://ricardo-yoga.blogspot.com.br
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário