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domingo, 30 de julho de 2017

"DESESPERO" É O SOFRIMENTO 
SEM SENTIDO 


O Sentido do Sofrimento Humano - Entrevista com o Dr. Viktor Emil Frankl, um psiquiatra no campo de concentração.


- Dr. Frankl, por que certas pessoas são fortes e conseguem superar seus problemas e outras não ?

- O fator determinante chama-se "decisão". A liberdade de escolha, de tomar uma decisão, de tornar-se quem quer ser, apesar das circunstâncias, as quais só em parte determinam o nosso comportamento. Eu desejo agir livremente como um ser responsável, um ser plenamente humano. Eu desejo agir em harmonia com a minha hereditariedade e ambiente, aproveitando aquilo que devo a eles, ainda que nas condições mais adversas. É o que observamos em situações trágicas ou em condições de grande stress. Como as pessoas que passam anos em campos de concentração, sujeitas às piores condições. Existe uma vasta literatura psiquiátrica sobre esse assunto. Precisamos reconhecer que as pessoas são livres. Se quisermos estudar a vida dessas pessoas de um modo objetivo, científico ou empírico, e não da maneira como você explicou de início, fica a impressão que o ser humano é algo - não alguém! - completamente determinado, mas as pessoas não reconhecem essa liberdade e responsabilidade, a responsabilidade por si mesmos, e de fazer algo e se tornar alguém.


- Basicamente, então, o Sr. afirma que a vida tem sentido independente das condições. Mas como pode alguém que experimenta o sentido de desespero reconhecer esse sentido ?

- Permita-me apresentar uma estranha definição do desespero. Eu costumo afirmar que o desespero pode ser definido nos termos de uma equação matemática D=S-S. Quer dizer: o desespero é igual a sofrimento sem o sentido. Enquanto o indivíduo não for capaz de descobrir nenhum sentido em seu sofrimento, ele estará propenso ao desespero e, em certas condições, ao suicídio. Mas no instante em que vê um sentido no seu sofrimento, a pessoa poderá conformá-lo a um determinado fim, transformando uma situação adversa numa realização pessoal, fazendo de uma tragédia um triunfo pessoal. Mas para isso precisa saber onde quer chegar, o que deve fazer. Mas se pessoas dos mais diversos segmentos da sociedade atual são incapazes de descobrir qualquer sentido em suas vidas, de enxergar um porquê na vida, elas realmente não tem pelo que viver. 


 - Como responder a pergunta: "Por que logo eu?"

- Não é uma pergunta que um psiquiatra ou um cientista possa responder. Mas eu  não compartilho a opinião do filósofo Jean-Paul Sartre de que devemos aceitar e suportar com coragem e heroísmo a absoluta falta de sentido em nossas vidas. Eu penso que nós devemos, antes, aceitar a nossa incapacidade de reconhecer o sentido maior, em termos intelectuais ou meramente racionais. É isto que temos de aceitar. Isso não importa que acreditemos num sentido maior. Mas levar alguém - um paciente, digamos - a aceitar essa concepção não é papel do psiquiatra, mas sobretudo do teólogo.


- Até que ponto o sr. acredita haver possibilidade de escolha perante as situações da vida ?

- A nossa liberdade é limitada. Quer dizer que nunca estamos completamente livres das circunstâncias, sejam elas de ordem biológica, psicológica ou sociológica. Mas a liberdade plena está sempre ao nosso alcance, isto é, a liberdade de enfrentar quaisquer condições adversas. O modo como reagimos às condições impostas é uma decisão nossa. E em outras palavras: se não pudermos mudar a situação, ainda resta-nos a liberdade de mudar nossa atitude frente a essa situação.


- O Sr. poderia dar um exemplo de um sentido tirado de uma situação de desespero ?

- Certo dia recebi uma carta de um jovem estudante do Texas, na qual me contava sua história de vida. Aos 17 anos sofreu um acidente quando praticava mergulho e ficou paralisado do pescoço para baixo. Ele escreveu: "Eu quebrei o meu pescoço, mas ele não me quebrou. Agora sou um deficiente. Provavelmente essa deficiência vai me acompanhar por toda a vida. Mas eu não interrompi os meus estudos. Por causa da minha deficiência eu comecei a ajudar outras pessoas. Quero ser psicólogo para ajudar outras pessoas. Tenho certeza" - disse-me ele - "que o meu sofrimento vai aumentar substancialmente a minha capacidade de compreender e ajudar outras pessoas". Este homem, três anos depois, foi convidado por mim pra dar uma palestra no 3º Congresso Mundial de Logoterapia, na Universidade de Regensburg, na Alemanha. Ele viajou do Texas à Alemanha em sua cadeira de rodas e proferiu uma palestra intitulada: "O Poder desafiador do Espírito Humano" e as palavras finais foram: "Eu sei que é possível; eu sou a prova disso".

Por 25 anos eu tive a honra de ser o diretor do departamento neurológico de um hospital geral. Nesse tempo eu tive várias oportunidades de testemunhar como muitos jovens conseguiam tomar as rédeas do seu destino. Vi, por exemplo, garotas paralíticas que até a semana anterior iam dançar na discoteca. Algumas tinham tumor cerebral, outras, tumor na espinha dorsal. Vi também jovens rapazes que esquiavam nos Alpes ou pilotavam motos e agora não podiam mais mover as pernas. Vi pessoas com todos os membros amputados, em alguns casos devido a um choque elétrico de alta tensão. Sei de um jovem que contou a sua enfermeira... Ele escreveu: "Antes desse terrível acidente a minha vida não tinha graça, eu vivia bebendo, mas desde que me acidentei sei o que é viver feliz." Dá para imaginar? Com todos os membros amputados! "Eu sei o que é ser feliz!" 

A vida dele encheu-se de alegria novamente, simplesmente porque enquanto buscamos a felicidade, enquanto fazemos da felicidade uma meta, não podemos alcançá-la. Quanto mais a almejamos mais ela se distancia. Esse fato é mais evidente em casos de neurose sexual, pois são justamente aqueles homens, que se esforçam para demonstrar a sua potência, que vivem atormentados pela impotência. Quanto mais uma mulher tenta mostrar, pelo menos para si mesma, o quanto é capaz de sentir um orgasmo, mais propensa ela estará à frigidez. 

Mas quando você não pensa em prazer ou satisfação, mas simplesmente se entrega, seja na vida sexual, seja no trabalho, seja no amor, quando não mais se preocupa em ser feliz ou bem sucedido, então a felicidade se instala por si mesma.


- Dr. Frankl, qual o sentido que os prisioneiros de Auschwitz - e se o Sr. foi um deles - podiam tirar de uma situação absolutamente desesperadora?

- Permita que eu fale a respeito do que eu aprendi em  Auschwitz e Dachau numa perspectiva mais objetiva sobre experiências muito similares vividas pelos prisioneiros em campos de concentração. A literatura psiquiátrica especializada em prisioneiros de guerra mostra, com base em pesquisas independentes, que aqueles prisioneiros com mais chance de sobreviver à vida no campo eram aqueles que pensavam no futuro, que queriam ser livres novamente e, mais importante ainda, que viviam em função de um sentido a ser realizado, de um trabalho a ser concluído, ou então que desejavam rever os entes queridos. 

Permita que eu relate um incidente que me ocorreu num dos campos em que eu estive: Eu me deparei, num curto período, com dois companheiros que estavam pensando em se suicidar. O que fiz eu, então? Eu perguntei por que queriam tirar suas próprias vidas e, sem que soubessem um do outro disseram: "Porque não espero mais nada da minha vida". Sabe que pergunta eu improvisei na hora ? "Veja, em vez disso, não é a vida que espera algo de você?" De repente um deles se deu conta, de que a sua filha, a quem ele amava mais que tudo, o esperava nos Estados Unidos para onde ele tinha emigrado. E o outro, por sua vez, me confessou que havia escrito e editado uma coleção de livros de geografia e queria concluir essa coleção. Nesse momento houve como que uma revolução copernicana. 

De repente ocorreu um giro de 180 graus, e eles viram que podiam fazer algo pelo mundo, em vez de simplesmente ficar aguardando o veredicto: Vida ou Morte. Essas pessoas tinham mais chance de sobreviver que outras, nas mesmas circunstâncias. Quer dizer, milhões tiveram que morrer nos campos, particularmente em Auschwitz, como você sabe, e para centena de milhares deles a vida certamente tinha sentido, quando não era um sentido pessoal, podia ser religioso. Eles sabiam que iam morrer e diziam: "Kiddush ha-Shem", ou seja, para a glória de Deus, na certeza da morte nas câmaras de gás.


Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=bqK7-Re3LtI 

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