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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

 MESTRE SILÊNCIO


É a ti, Silêncio, amigo e mestre! é a ti que devo
a glória! a ti e à tua esposa, a Solidão!
Pois, indiretamente, é teu todo esse enlevo
das flores que ando a abrir, dos frutos que elas dão!
 
Procuro em ti, contigo, o quatrifólio trevo
da Arte! tudo o que penso, é ouro do teu filão.
Silêncio, vêm de ti o que falo e o que escrevo,
meu professor de calma e de meditação!
 
Paraninfas o idílio oculto à alma que cisma;
paraninfas a fé, no êxtase religioso
e elaboras a luz no sonho, a luz do Ideal!
 
E a luz é mais cambiante e irial sob o teu prisma;
e a paz é mais feliz… ó Silêncio! ó repouso
dos nervos! ó crysol da Vida-Espiritual! 
 
Hermes Fontes
https://www.filosofiaesoterica.com 

O SOM DO SILÊNCIO
 
Um rei enviou seu filho para estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser um grande homem. Havia ouvido falar que este mestre ouvia o som do silencio, e com tamanha sabedoria era capaz de superar as mais difíceis provações da vida.

Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre enviou-o para a floresta, e permanecer lá sozinho por um ano. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta detalhadamente.

Meio assustado, lá foi o jovem com esta grande missão, prestar a máxima atenção a todos os sons da floresta por um ano inteiro.

Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir.

Então disse o príncipe:
 
"Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus, a chuva nas folhas..."
 
O mestre ouviu tudo atentamente, e percebeu que o discípulo ainda não estava pronto. Ainda precisava aprofundar na percepção do sutil silencio perene que envolve todos os sons, todos os eventos...

Ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para apurar sua escuta, deveria ser mais atencioso na percepção e no momento presente, deveria aguçar seus sentidos, e perceber profundamente tudo o que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando:

"Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta..." mas seguiu seu caminho...

Por muitos dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Viu nascer no seu coração uma divina sensação de encantamento, e logo tomou conta de seu ser.. Percebeu que não havia medo em seu coração, não havia receio, estranheza, estava se sentindo tão à vontade que todos os sons, toda aquela paisagem lhe era familiar, se sentiu em casa, completamente só naquela floresta.

Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse..."

E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria desfrutar desse momento mágico, que sutilmente lhe revelara a perfeita harmonia entre tudo e todos... Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.

Paciente e respeitosamente o príncipe disse:
"Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite...Pude desfrutar da brisa da manhã e beber da fonte de água pura, senti as gotas de chuva refrescando meu rosto e os pássaros bailavam sua dança em meio as flores e as borboletas..."

O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:
"Ouvir o inaudível é ter a paz necessária para deixar o silencio interior aflorar e revelar sua natureza essencial. Agora vá, siga seu caminho, seu Dharma...  O inaudível revelou-se a você, todo o Universo dança e canta esta canção.  O inaudível exterior e o inaudível interior são o mesmo, o mesmo silencio perene, cantante, dançante...manifesto... Já não há mais nada a aprender... O Buda despertou..."
 
Conto Zen
http://ventosdepaz.blogspot.com  

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