Esta divina prisão
do amor em que hoje vivo,
tornou Deus o meu cativo
e livre meu coração.
E causa em mim tal paixão
Deus meu prisioneiro ver,
que morro por não morrer.
Ai, que longa é esta vida!,
que duros estes desterros!,
esta prisão, estes ferros
em que a alma está metida!
Só esperar a saída
causa em mim tanto sofrer,
que morro por não morrer.
Ai, que vida tão amarga,
Sem se gozar o Senhor!,
Porque, se é doce o amor,
Não é a esperança larga.
tire-me Deus esta carga,
pesada a mais não poder,
que morro por não morrer.
Somente com a confiança
vivo de que hei de morrer,
porque, morrendo, o viver
me assegura minha esperança.
Oh morte que a vida alcança,
não tardes em me aparecer,
que morro por não morrer.
Olha que o amor é forte:
vida, não sejas molesta;
pra ganhar-te só te resta
perder-te, sem que me importe.
Venha já a doce morte,
venha já ela a correr,
que morro por não morrer.
A vida no alto ativa,
que é a vida verdadeira,
até que seta não nos queira,
não se goza estando viva.
Não me sejas, morte, esquiva;
Só pela morte hei de viver,
que morro por não morrer.
Como, vida, presenteá-lo,
o meu Deus que vive em mim,
se não perdendo-te a ti,
pra melhor poder gozá-lo?
Quero, morrendo, alcançá-lo,
pois só dele é meu querer:
que morro por não morrer.
Escrito por Santa Teresa de Ávila
http://poemasparaguardar.blogspot.com
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