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sexta-feira, 6 de março de 2020

A    F  L  O  R  E  S  T  A

Resultado de imagem para FLORESTA 
Na floresta não existe nem rebanho nem pastor
Quando o inverno caminha
Segue seu distinto curso como faz a primavera
Os homens nasceram escravos daquele 

que repudia a submissão
Se ele um dia se levanta e lhes indica o caminho
Com ele caminharão
Dá-me a flauta e canta
O canto é o pasto das mentes
E o lamento da flauta perdura mais 
que rebanho e pastor.
 
Na floresta não existe ignorante ou sábio.
Quando os ramos se agitam a ninguém reverenciam
O saber humano é ilusório
como a serração dos campos que se vai 
quando o sol se levanta no horizonte.
Dá-me a flauta e canta
O canto é o melhor saber
E o lamento da flauta sobrevive 
ao contilar das estrelas.
 
Na floresta só existe lembrança dos amorosos.
Os que dominaram o mundo 
e oprimiram e conquistaram
os seus nomes são como letras 
dos nomes dos criminosos.
Conquistador entre nós é aquele que sabe amar.
Dá-me a flauta e canta
E esquece a injustiça do opressor.
Pois o lírio é uma taça para o orvalho
E não para o sangue.
 
Na floresta não há crítico nem censor
Se as gazelas se perturbam quando avistam o companheiro
a águia não diz: que estranho.
Sábio entre nós é aquele que julga estranho 
apenas o que é estranho.
Ah, dá-me a flauta e canta
O canto é a melhor loucura
e o lamento da flauta sobrevive 
aos ponderados e aos racionais.
 
Na floresta não existem homens livres ou escravos.
Todas as glórias são vãs como borbulhas na água.
Quando a amendoeira lança suas flores 
sobre o espinheiro não diz:
“Ele é desprezível e eu sou um grande Senhor.”
Dá-me a flauta e canta
que o canto é glória autentica
E o lamento da flauta sobrevive
Ao nobre e ao vil.
 
Na floresta não existe fortaleza ou fragilidade
Quando o leão ruge não dizem:“Ele é temível.”
A vontade humana é apenas
uma sombra que vagueia no espaço do pensamento
e o direito dos homens fenece
como folhas de outono.
Dá-me a flauta e canta
O canto é a força do espírito
E o lamento da flauta sobrevive 
ao apagamento dos sóis.
 
Na floresta não há morte nem apuros.
A alegria não morre quando se vai a primavera.
O pavor da morte é uma quimera 
que se insinua no coração,
pois quem vive uma primavera 
é como se houvesse vivido séculos.
Dá-me a flauta e canta
O canto é o segredo da vida eterna
E o lamento da flauta permanecerá 
após findar-se a existência.
 
Escrito por Gibran Khalil Gibran
http://poemasparaguardar.blogspot.com


A floresta de Khalil Gibran, a meu ver, representa uma imagem do paraíso, lugar onde todos os seres viventes experimentam plenamente a verdadeira arte de viver a individualidade com unanimidade e amor. É para lá que retornaremos um dia quando tivermos compreendido e aprendido a viver em harmonia com a Vida Una.

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