AOS PÉS DO MESTRE
Segunda Parte
I – AUSÊNCIA DE DESEJOS
Há muitas pessoas para quem a qualidade da Ausência de Desejos (abnegação, desapego) é difícil, por pensarem que os seus desejos são elas próprias – e que, se esses desejos peculiares, simpatias e antipatias lhes forem tirados, nada mais lhes restará. Essas, porém, são somente as que ainda não viram o Mestre; à luz de Sua Santa Presença, todo desejo sucumbe, exceto o de se assemelhar a Ele. No entanto, antes mesmo de teres a ventura de encontrá-Lo face a face, podes conquistar a ausência de desejo, se o quiseres. O discernimento já te demonstrou que as coisas que os homens mais desejam, tais como a riqueza e o poder, não merecem o trabalho de ser possuídas; quando isto realmente é sentido, e não apenas enunciado, cessa todo o desejo por elas.
Tudo isto é simples; necessitas apenas compreender. Há, porém, algumas
pessoas que recusam-se a prosseguir em objetivos terrenos, somente no
intuito de alcançar o céu, ou para atingir a libertação pessoal dos
renascimentos. Não deves cair neste erro. Se te esqueceste
completamente de ti mesmo, não te podes preocupar com a época da
libertação do teu Ego ou com a espécie de céu que lhe caberá. Lembra-te
que todo desejo egoísta é um liame e, por muito elevado que seja o seu
objetivo, enquanto dele te não desembaraçares, não estarás completamente
livre para te devotares à obra do Mestre.
Quando tiverem desaparecido todos os desejos pessoais, poderá ainda
restar o de apreciares o resultado do teu trabalho. Se auxiliares
alguém, quererás ver até que ponto o tens ajudado; talvez mesmo queiras
que ele o reconheça também e se te mostre grato. Isto, porém, é ainda o
desejo e também uma falta de confiança. Quando aplicares a tua energia
em auxiliar alguém, há de advir daí um resultado, quer possas vê-lo quer
não; se conheces a Lei, sabes que deve ser assim. Precisas, pois, fazer
o bem por amor ao bem, e não com a esperança da recompensa. Trabalha
por amor ao trabalho e não para ver o resultado; deves entregar-te ao
serviço do mundo porque o amas e não podes deixar de fazê-lo.
Não desejes os poderes psíquicos; eles virão quando o Mestre achar que
melhor te será possuí-los. Forçá-los muito cedo traz consigo muitas
perturbações; freqüentemente o seu possuidor é desencaminhado por
falazes espíritos da natureza, ou então se torna vaidoso e se julga
isento de cair em erro; em todo o caso, o tempo e a força necessários
para adquiri-los poderiam ser gastos em trabalhar para os outros. Eles
virão no decurso do teu desenvolvimento – porque devem vir; e se o
Mestre entender que te será útil possuí-los mais cedo, te ensinará como
desenvolvê-los com segurança. Até então, melhor será que os não possuas.
Deves precaver-te, também, contra certos pequenos desejos comuns na vida
diária. Nunca desejes sobressair nem parecer instruído; não desejes
falar. É bom falar pouco; melhor ainda é nada dizer, a não ser que
estejas seguro de que o que pretendes dizer é verdadeiro, amável e útil.
Antes de falar, pensa cuidadosamente se o que pretendes dizer
preenche essas três qualidades; se assim não for, não o digas.
É bom que te habitues desde agora a refletir cuidadosamente antes de
falar pois, quando alcançares a Iniciação, terás de vigiar cada palavra a
fim de não dizeres o que não deve ser dito. Muitas das conversações
ordinárias são desnecessárias e insensatas; e, quando chegam à
maledicência, tornam-se perversas. Assim, acostuma-te antes a ouvir do
que a falar; não emitas opinião senão quando diretamente solicitada. Um
enunciado das qualidades requeridas é assim formado: saber, ousar,
querer, calar , e a última das quatro é a mais difícil de todas.
Um desejo vulgar que deves severamente reprimir é o de te imiscuíres nos
negócios de outrem. O que um homem faz, diz ou crê, não é de tua conta
e precisas aprender a deixá-lo absolutamente entregue a si próprio.
Ele tem pleno direito à liberdade de pensamento, palavra e ação, até ao
ponto em que não interfira no que concerne a outrem. Tu próprio reclamas
a liberdade de fazer o que julgas bom; deves outorgar a mesma liberdade
aos outros e, quando a usarem, não tens o direito de te pronunciares a
respeito.
Se julgas estar alguém fazendo o mal e encontras uma oportunidade de lho
dizer em particular – e muito delicadamente – porque assim pensas,
talvez consigas convencê-lo; porém, em muitos casos, isto mesmo não
passaria de uma interferência indébita. De modo algum deverás murmurar
com uma terceira peso sobre o assunto, pois isso seria uma ação
extremamente má.
Se observares um caso de crueldade para com uma criança ou um animal é
teu dever intervir. Se vires alguém violando as leis do país, deves
informar as autoridades. (Naturalmente em casos manifestamente graves,
como o da prática da crueldade, ou quando intimado a fazê-lo.) Se
estiveres incumbido de instruir uma outra pessoa, pode tornar-se teu
dever adverti-la suavemente de suas falhas. Exceto em tais casos,
ocupa-te de teus próprios negócios e aprende a virtude do silêncio.
http://busca-espiritual.blogspot.com
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